O governo não poderia garantir a todos os pacientes de câncer o mesmo
tratamento ao que o ex-vice presidente José Alencar se submeteu”.
O procurador-regional da República Daniel Sarmento
prevê riscos financeiros para as administrações públicas por causa das decisões
judiciais que as obrigam a fornecer medicamentos e tratamentos gratuitos. “A
prestação gratuita desses serviços pode inviabilizar a universalização do
direito à saúde, principalmente quando são tratamentos de alto custo”, afirmou
Sarmento, durante o Seminário Direito à Saúde: Desafios para a Universalidade, promovido
pelo Fórum da Saúde do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O procurador propôs
medidas que racionalizem a concessão desses bens e serviços de saúde pela
Justiça. Uma delas seria condicionar a distribuição de um remédio apenas quando
o governo pudesse assegurar a distribuição dele a todos os pacientes que sofrem
do mesmo mal. “O governo não poderia garantir a todos os pacientes de câncer o
mesmo tratamento ao que o ex-vice presidente José Alencar se submeteu”, disse,
referindo-se ao ex-vice-presidente no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo
o procurador, a lei da escassez deveria ser considerada pelos magistrados antes
de serem tomadas essas decisões. De acordo com Sarmento, a judicialização da
saúde no Brasil é um fenômeno recente que teria se intensificado nos anos 1990,
mas não resolveu o problema da falta de acesso à saúde, principalmente para os mais
pobres. “Na Justiça distributiva, uma decisão implica em alocação de recursos
mas também em desalocação de recursos de outra área”, disse. Segundo ele, a
falta de investimentos, principalmente públicos, ajudaria a entender por que
tantas pessoas defendem seu direito à saúde nos tribunais. “Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil investe anualmente US$ 411 em
saúde per capita, quando a média mundial é US$ 711. A Argentina investe cerca
de US$ 800 e os Estados Unidos, quase US$ 4.000”, comparou. O ministro Leslie
Van Rompaey, ex-presidente da Corte Suprema do Uruguai, defendeu o direito dos
cidadãos de recorrer ao Poder Judiciário. “A judicialização (da saúde) é a garantia
de um direito social”, disse. Segundo o magistrado, a racionalidade por trás
das decisões do juiz é o “maior legitimador de suas sentenças” nesse tipo de
demanda judicial, que vem sendo cada vez mais recorrente nas cortes do país vizinho
nos últimos dez anos. A professora de direito da Universidade de São Paulo (USP)
Sueli Dallari, que também participou do seminário, lembrou que os mecanismos de
participação da sociedade na execução das políticas públicas sanitárias são uma
alternativa ao problema da judicialização da saúde. Já o juiz federal Roger
Raupp Rios propôs uma interação entre os Poderes Executivo e Judiciário. “Precisamos
de uma relação mais produtiva com o Poder Executivo”, defendeu. Segundo o
magistrado, as demandas individuais por medicamentos e tratamentos podem ajudar
os governos a melhorar a prestação do serviço. “Elas não necessariamente são
impeditivas da universalização da Saúde”, afirmou. (Com Agência CNJ).
Fonte: JC
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