Déficit recorde nas contas públicas, com saldo negativo de R$ 9,04
bi em setembro, leva à suposição de que o Banco Central perdeu o controle das
despesas ao longo do ano e terá que apertar mais os juros para compensar a
política fiscal frouxa.
O
quadro de deterioração fiscal do Brasil agravou-se com a divulgação, nesta
quinta-feira, da informação que as contas do setor público encerraram setembro
com um saldo negativo de R$ 9,04 bilhões. O resultado abrange governo federal, estados
e municípios. Os números surpreenderam negativamente, consolidando entre os
especialistas a percepção de que a equipe econômica não só não conseguirá
cumprir a meta fiscal de 2013, como também perdeu o controle das despesas ao
longo deste ano. Diante disso, a aposta que ganha força é de que o Banco
Central terá que apertar mais os juros para compensar a política fiscal frouxa.
Este foi o pior resultado já registrado para o mês de setembro e o maior
déficit mensal desde dezembro de 2008. O setor público terá de economizar R$
65,9 bilhões no último trimestre para conseguir atingir a meta fiscal de 2013,
de R$ 110,9 bilhões, o equivalente a 2,3% do PIB. É algo que não conseguiu
fazer em nove meses. Até setembro, o saldo acumulado é de R$ 45 bilhões. Será preciso
economizar quase R$ 22 bilhões por mês até o final do ano para alcançar a meta.
O rombo, que repercutiu mal para o governo e provocou alta dos juros e câmbio,
levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a anunciar pouco depois uma espécie
de “carta de intenções” para reduzir os gastos com seguro-desemprego e abono
salarial. A maior contribuição negativa para o resultado de setembro veio das
contas comandadas pela presidente Dilma Rousseff. O chamado Governo Central
(Tesouro, INSS e Banco Central) registrou no mês déficit de R$ 10,76 bilhões,
refletindo a aceleração das despesas – sem a contrapartida do aumento dos
investimentos, que continuam em marcha lenta, com o crescimento de apenas 2,9%
até setembro.
Bônus de Libra
Muito
dificilmente os R$ 15 bilhões do bônus do leilão do campo de Libra do pré-sal e
os recursos dos parcelamentos de débitos tributários (Refis) garantirão uma
reversão do quadro. O governo conta com essas receitas para reforçar o caixa, além
do repasse de mais R$ 7,45 bilhões esperados em dividendos das estatais.
“Tivemos várias especificidades em setembro, mas teremos receitas muito fortes nos
próximos meses", afirmou o secretário do Tesouro, Arno Augustin. Entre as
“especificidades”, Augustin citou a transferência de R$ 1,5 bilhão para os municípios,
os gastos de R$ 2 bilhões com o subsídio para a redução da conta de luz e
aumento das despesas com abono salarial. Também pesou o pagamento do 13º
salário para os aposentados do INSS.
Previdência
Todos
são gastos que já estavam sendo esperados. A previdência teve déficit de R$ 11,76
bilhões. O resultado de setembro só não foi pior porque o governo recebeu R$ 2 bilhões
com dividendos de estatais e as contas dos governos estaduais e municipais apresentaram
ligeira recuperação com superávit de 1,75 bilhões. “A despesa real cresce 6,8%
até setembro e o governo busca a azeitona ao falar em cortar o abono e seguro desemprego
de novo? Nada contra. Mas é nisso que se resume o diagnóstico e a resposta? “,
critica Fernando Montero, economista da corretora Tullett Prebon. Apesar do
aumento da desconfiança dos investidores e das críticas à política fiscal, o
secretário disse que a meta será cumprida. “Achamos que nosso esforço será bem
sucedido”, afirmou. Ele evitou polemizar com a oposição, que recarregou a artilharia
contra a política econômica. “Fazemos um trabalho técnico e nos restringimos a
colocar nossa opinião sobre as variáveis de fundamento da economia. Daí em
diante, é o debate democrático. A gente respeita, mas o que eu puder evitar participar
dele...”
Fonte; JC
Nenhum comentário:
Postar um comentário