Terry McCoy afirma
que as eleições elevam as incertezas sobre o PIB brasileiro e que o crescimento
do país no ano que vem será de, no máximo, 2%.
A recessão técnica registrada pelo IBGE no
primeiro semestre de 2014 indica que o Brasil terá mais do que um ano perdido:
2015 será todo ou parcialmente difícil, avalia o economista Terry McCoy, do
Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade da Flórida e professor de
Economia Brasileira da Universidade de Illinois. Os números ruins, afirma,
refletem uma espiral de reação deficiente da equipe econômica e aprofundamento
de fragilidades estruturais, levando à crise de confiança que derrubou a taxa
de investimento. A incerteza eleitoral, diz McCoy, só esfria mais a economia. Há
quatro anos, o Brasil era um exemplo de reação e uma promessa. Hoje, é visto
como decepção.
Como
chegamos a este ponto?
Após a recuperação da crise, em 2009, o Brasil
vive em constante desequilíbrio, inaugurando um ciclo vicioso. Medidas
necessárias para embalar a reação não foram tomadas, o que começou a
desacelerar o investimento, puxando o crescimento para baixo, desanimando a
indústria. Aí, este ano, veio o rebaixamento pela agência de classificação de
risco S&P. Tudo isso teve um efeito de esfriamento da economia, por
acentuar defeitos estruturais, situação acentuada pela total incerteza na
sucessão presidencial. O governo fala em questões conjunturais, como seca,
crise de energia, cenário internacional.
O senhor acha que as decisões de política
pública contribuíram?
Sim, acho que uma área na qual perderam o
barco foi no investimento em infraestrutura, houve muita incerteza regulatória
e não se avançou numa agenda. Esta é uma grande decepção com a presidente Dilma
Rousseff, esperava-se que fosse uma gerente mais ativa, mais eficiente. A
educação, que tem a ver com produtividade e competitividade, também não mereceu
atenção especial. O equilíbrio entre as políticas fiscal e monetária também foi
muito delicado, cada um puxando para um lado. Isso criou incertezas. O ministro
Guido Mantega projeta recuperação no segundo semestre deste ano e crescimento
de 3% em 2015.
O
senhor vê um cenário tão positivo?
Não vejo isso acontecendo. No máximo,
chega-se a 2% no ano que vem. Você não consegue sair rapidamente da situação em
que se está. O Brasil pode não ter dois, mas mais de um ano perdido certamente
terá. A eleição pesará bastante, porque os seis primeiros meses de 2015 serão
de arrumação da casa. Com a subida de Marina Silva (PSB), pode-se ter um outro
projeto no poder. Ela tem uma trajetória pessoal admirável, incorpora o desejo
de mudança, mas mudança para o quê? Não está claro, e a tendência (do empresariado)
é esperar. Não me surpreenderia se mesmo o fluxo de investimento estrangeiro
direto começar a desacelerar, tamanhas as incertezas no cenário.
Para
inverter as expectativas, qual o caminho?
Se você olhar para o resultado do PIB, a
queda do investimento (a taxa em relação ao PIB caiu a 16,5%) foi crucial, e
isso terá consequências adiante. Se olharmos a agricultura brasileira, é muito
competitiva, globalmente integrada. Mas a indústria não é, ainda é muito
protegida, não tem grande produtividade. É preciso trabalhar uma agenda de
abertura, competitividade, retomar concessões, investir em infraestrutura e
reduzir a presença estatal na economia. E é preciso consistência na política
econômica, construir um consenso político em torno do que é necessário,
manter-se firme e persistir.
Fonte:
O Globo
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