Economistas de
diferentes tendências apontam os caminhos para o Brasil não repetir o resultado
fraco do PIB, como o do segundo trimestre
O Brasil teve dois trimestres consecutivos
de retração no Produto Interno Bruto (PIB), indicador que mede a geração de
riqueza das nações. Na teoria acadêmica, tal situação indica que o País
encolheu e sofre recessão técnica. Alguns analistas dizem que não é para tanto
e que há estagnação. O governo alega que o problema é momentâneo por causa da
Copa, da seca e da crise internacional. Semântica à parte, o fato é que o
Brasil crescia pouco e agora anda para trás, com efeitos sobre o emprego e a
renda. No grupo alinhado com o governo está o professor Fernando Nogueira da
Costa, da Unicamp, que lecionou para a presidente Dilma Rousseff quando ela
estava no doutorado. Para Costa, foram eventos momentâneos, como a Copa, que
frearam o crescimento.
Boa parte dos economistas que estudam os
altos e baixos do PIB discordam. Um deles é Marcos Lisboa, ex-secretário de
Política Econômica no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e hoje
vice-presidente do Insper. Para Lisboa, o potencial de crescimento do Brasil
caiu. A queda aparece nos números que medem a produtividade. De maneira
simplista, ter produtividade significa fazer mais e melhor com o mesmo.
Exemplo: elevar a produção de 100 para 150 carros com o mesmo número de
trabalhadores, de máquinas e de dinheiro. Essa mágica é possível graças a
avanços paralelos: trabalhadores com uma educação mais sofisticada e o uso de
equipamentos mais modernos. Segundo Lisboa, de 2003 a 2010, a produtividade
cresceu, em média, 1,6% ao ano. De lá para cá, estagnou. “Há uma perda de
produtividade que reduziu o potencial de crescimento do Brasil.” Na avaliação
de Vinícius Carrasco, professor da PUC-Rio, esse declínio não foi acidental e a
recuperação não virá de uma reação espontânea da economia. Carrasco tem essa
convicção porque é um dos autores do estudo “A Década Perdida - 2003 a 2012”,
que compara indicadores brasileiros com um conjunto de outros países. A
conclusão: o avanço foi menor do que poderia. “Não foram criadas condições para
se ter uma produção mais eficiente”, diz. Reverter o “pibinho” não é fácil. O
primeiro passo, segundo Monica de Bolle, diretora da consultoria Galanto, é
reconhecer o erro. Só isso abre espaço para a mudança. Bernard Appy,
ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda, acredita que as mudanças
dependem de microrreformas, como a tributária. O sistema de cobrança de
impostos é distorcivo e incentiva que as empresas não cresçam. “Se um eletricista
ganhar R$ 3 mil por mês e for microempreendedor individual, paga 1,3% da
receita em tributos. Se for dono de empresa do Simples, 10,5%”, diz Appy. “É
melhor ele ter um celular e pegar três serviços por dia do que empregar e
atender dez clientes - é perda de produtividade na veia.”
Fonte:
O Estadão
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