No acumulado do ano,
valorização da moeda já é de 17,63%, e especialistas têm tido dificuldade para
prever até onde pode chegar.
A forte alta do dólar ante o real já tem
provocado alteração nas previsões para o crescimento econômico, taxa de juros e
inflação. Na segunda-feira, a moeda americana avançou 2,39% e encerrou a sessão
cotada a R$ 3,123, nível mais alto desde 28 de junho de 2004. Em 2015, o dólar
já acumula uma alta de 17,63%. A aceleração da moeda americana tem sido mais
forte do que os analistas esperavam e pode ser explicada pelas incertezas
econômicas e políticas do atual cenário. Os especialistas têm tido dificuldade
de prever qual será o caminho do dólar: há quatro semanas, a taxa de câmbio
esperada pelos analistas consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, para
o fim de 2015 era de R$ 2,80; no relatório divulgado nesta segunda, a
estimativa passou a R$ 2,95 para o mesmo período. O avanço da moeda americana
provoca uma piora das previsões para a inflação, o que induz a esperar um
aperto monetário um pouco mais intenso promovido pelo Banco Central, com
impactos diretos sobre o Produto Interno Bruto (PIB). O economista Felipe
Salles, do Itaú Unibanco, avalia que a variação cambial é um dos fatores que
estimulou a instituição a revisar o cenário macroeconômico para 2015. Os novos
números devem ser divulgados até sexta-feira. Desde o início de fevereiro, o
banco estimava que, este ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) subiria 7,4%, o PIB cairia 0,5% e o dólar atingiria R$ 2,90 em dezembro.
Agora, Salles aponta que esses indicadores devem ter mudanças: a inflação deve
subir, com uma retração maior da economia e um novo nível para a cotação da
moeda americana ante a brasileira para o fim do ano. Nas contas da consultoria
GO Associados, uma alta de 15% na cotação do dólar resulta num impacto em 12
meses de 0,95 ponto porcentual no IPCA. “Se o câmbio continuar se depreciando,
esse impacto na inflação vai ser maior. Ele tende a surgir lá na frente, em
2016, mas com efeitos s consideráveis na inflação deste ano”, afirma Alexandre
Andrade, economista da GO Associados. A consultoria trabalha com uma projeção
para o câmbio de R$ 2,80 e de 7,8% para o IPCA, mas, segundo Andrade, “se o
dólar continuar subindo, a projeção para inflação pode subir também.” O IPCA
está bastante pressionado este ano por causa da recomposição dos preços
administrados (combustível, energia elétrica e tarifas de transporte público).
O avanço do dólar - se mantido - pode impactar os preços livres. A alta nos
preços desse grupo pode ser atenuada dependendo do tamanho da contração da
economia brasileira em 2015. “A tendência é que a taxa de câmbio, depreciando
como está, impedirá que a taxa de inflação de preços livres caia muito, o que
seria algo a se esperar no caso de uma recessão como teremos este ano”, afirma
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. A consultoria estima um IPCA de
8% para 2015. Juros. O choque de câmbio é um elemento que leva especialistas a
avaliar que o BC provavelmente vai ampliar a magnitude do ciclo de alta de
juros iniciado em outubro. Na reunião realizada na semana passada, o Comitê de
Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juro (Selic) em 0,5 ponto
porcentual, para 12,75% ao ano. A equipe econômica tem sinalizado que deve
intervir menos na cotação do câmbio. O BC mantém o programa de “ração diária” -
oferta feita por meio de leilões de swap cambial, instrumentos que equivalem à
venda futura de dólar -, mas decidiu diminuir o tamanho do programa desde do
início de 2015. A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, aguarda
a divulgação da ata da reunião do Copom na quinta-feira, mas acredita que há
boas chances de que sua previsão de alta da taxa básica de juros (Selic) de 13%
para este ano subirá para 13,5%. “É preciso verificar como o Banco Central vai
atuar em relação à variação do câmbio. Caso a taxa alcance um patamar entre R$
3,20 e R$ 3,30, é viável esperar que a Selic suba para 14%”, disse Solange.
Fonte:
O Estadão
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