Em decisão unânime e
amplamente esperada pelo mercado financeiro, Comitê de Política Monetária opta
por elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, mantendo o aperto
monetário que vem sendo posto em prática desde outubro do ano passado.
De nada adiantaram os apelos para que o Banco
Central (BC) dosasse a mão sobre os juros básicos. Mesmo diante de sinais cada vez
mais claros de que a economia se encaminha para uma forte recessão em 2015 – a
maior em 25 anos – o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter o
ritmo de aperto monetário que vem sendo posto em prática desde outubro do ano
passado e, em decisão unânime e já amplamente esperada pelo mercado financeiro,
resolveu elevar ontem a Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,75% ao ano. Com
isso, a taxa que serve de referência para empréstimos bancários e que baliza o
desempenho de fundos de investimentos atingiu o maior patamar desde dezembro de
2008. Foi a quarta elevação consecutiva da Selic, que sobe sem parar desde 27
de outubro do ano passado. À época, apenas três dias depois de os brasileiros
assegurarem a vitória da presidente Dilma Rousseff para mais um mandato, o
Copom passou a elevar os juros básicos para tentar frear a escalada da
inflação. Desde então, a taxa básica já subiu 1,5 ponto percentual. Foi mais do
que suficiente para dar ao Brasil a liderança do ranking mundial de taxas de
juros mais altas. De acordo estudo da consultoria Moneyou, o País ostenta juros
reais de 5,28% ao ano – cálculo que leva
em conta, além dos custos financeiros de uma nação, também a inflação projetada
para os próximos 12 meses. Apenas para se ter dimensão do tamanho dessa taxa, a
China, que segue isolada na segunda posição do levantamento, tem juros de
apenas 3,18%, ou 60% da taxa brasileira. E ainda pode piorar. Para analistas, o
BC deverá subir ainda mais os juros. Essa percepção foi reforçada, porque o
Copom manteve praticamente inalterado o comunicado divulgado após o fim da
reunião (a única alteração foi o número de votos, que caiu de oito para sete
após a exoneração do então diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo).
No comunicado, os diretores do BC repetem a frase “avaliando o cenário
macroeconômico e as perspectivas para a inflação”, usada já em janeiro, quando
o BC também aprovou um aumento de dos juros em 0,5 ponto percentual na Selic.
“Com tudo o que está acontecendo na economia, não tem como o Copom se
comprometer com qualquer sinalização para a próxima reunião, seja de manutenção
do ritmo ou de redução do aperto monetário”, assinalou o economista-chefe Banco
Modal, Alexandre de Ázara. A avaliação de que o BC deixou “as portas abertas”
para qualquer decisão na próxima reunião do Copom, marcada para o fim de abril,
se deve, sobretudo, à escalada das cotações do dólar, que ontem subiu 1,8%, para
R$ 2,98, o maior patamar desde 19 de agosto de 2004. E poderia ser ainda pior,
já que, durante o dia, a moeda americana chegou a superar os R$ 3 pela primeira
vez em uma década, o que assustou analistas e levou o mercado a acreditar que o
BC poderá manter por mais tempo o plano de subir os juros básicos. “Acredito
que o plano de voo deles (diretores do Copom) era levar a Selic para 13% ao
ano. Mas, dada a pressão do dólar sobre os preços, acho que eles vão ter que subir
os juros ainda mais, talvez para 13,5% ao ano”, disse Ázara. Motivos para
preocupação com a escalada da moeda norte americana é que não faltam. Desde a
primeira reunião do Copom no ano, em janeiro, o dólar acumulou alta de 14%. O
problema é que a elevação do câmbio não afeta só de produtos importados, mas
também os preços de mercadorias produzidas no país. Praticamente um quinto dos
insumos usados na indústria vem de fora do país. Significa uma pressão
adicional de custos para um setor que já afunda numa crise que dura quatro anos,
e que deverá tombar novamente em 2015, disse o economista-chefe do Banco J.
Safra, Carlos Kawall, que vê um cenário já “bastante debilitado” para atividade
econômica em 2015.
Inflação
Para o economista-chefe da Franklin Templeton
Investments, Carlos Thadeu Filho, a decisão deixa claro que o BC, apesar de temer
um tombo ainda maior do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, está mais
preocupado com o comportamento corrosivo da inflação. “Não dá para combater a
inflação e a recessão ao mesmo tempo”, observou. Com os reajustes de impostos e
de preços administrados pelo o governo, como combustíveis e conta de luz, a
inflação vem batendo pesado na renda das famílias. Nos últimos 12 meses, até
janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 7,14%.
A última vez que o brasileiro havia se deparado com uma pressão tão grande do
custo de vida havia sido em fevereiro de 2003, no início do governo Lula. Para
fevereiro, o cenário é ainda mais preocupante: “A nossa expectativa é que a
inflação volte a subir forte em fevereiro”, disse o estrategista-chefe do Banco
Mizuho, Luciano Rostagno. Ele calcula que o IPCA chegará a 7,55%, alcançando a maior
taxa desde maio de 2005, quando bateu 8,05%. Até o fim do ano, na avaliação dos
analistas de mercado financeiro consultados pelo BC na pesquisa Focus, a a
inflação deverá alcançar 7,47%. Seria não o maior patamar desde 2004 ano em
que, não por acaso, a inflação rompeu o teto da meta – de 4,5% ao ano, com
tolerância de dois pontos –, algo que os analistas projetam também para 2015.
Fonte:
JC
Nenhum comentário:
Postar um comentário