A política do Banco Central (BC), de combater
a inflação com a alta dos juros, está "no script" e ainda não
conseguiu derrubar a alta de preços porque leva tempo mesmo, segundo Salomão
Quadros, superintendente adjunto da Superintendência de Preços do Instituto
Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Para piorar,
grande parte da inflação deve-se aos preços administrados, como a conta de luz,
que estavam com reajustes represados e agora estão sendo corrigidos. Como a
alta de juros não segura esse tipo de inflação, o efeito demora ainda mais
tempo. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado:
Por que
a alta de juros não está reduzindo a inflação?
Isso é uma mudança relativamente recente. O
juro ficou parado boa parte do ano passado. Foi mais para o fim do ano que
recomeçou a subida. A política monetária leva algum tempo (para fazer efeito).
Isso está no "script". Além disso, este ano, o que está puxando a
inflação são os (preços) administrados, e eles não seguem a taxa de juros. É um
choque de oferta, que se transmite para outros setores. Há vários serviços por
aí que são intensivos no uso de energia. O empresário pode até perder um pouco
de clientela, mas ele tenta manter uma certa margem (de lucro). Isso vai tornar
um pouco mais lenta a ação da política monetária. Ela vai agir, mas vai
demorar. A inflação de serviços, sem passagem aérea, há seis meses está em 8,5%
no acumulado em 12 meses. Então, não reagiu nada.
O que
precisa para a inflação de serviços reagir?
De tempo, para que os efeitos restritivos da
política monetária aconteçam. Vai chegar uma hora que você vai ter a economia
um pouco mais desaquecida, o mercado de trabalho com mais folga, com gente
procurando emprego sem conseguir, o reajuste salarial vai ser um pouco menor e
isso vai se transformar numa inflação menor.
Se não
fosse a alta de juros o quadro estaria pior?
Se você não fizesse nada, talvez já houvesse
muito mais repasses (de preços), as expectativas estariam mais deterioradas. É
uma luta palmo a palmo. E é demorado mesmo. É um fato da literatura econômica
que o combate da inflação por meio da taxa de juro demora algum tempo.
Até
2016 para chegar à meta de 4,5% é um prazo muito curto?
Acho difícil. O Banco Central está numa
campanha firme, está reiterando, está aumentando a taxa de juros, está
trabalhando contra todos os céticos, mas também está enfrentando uma maré
difícil. Muitos aumentos não vão responder à taxa de juros. Por isso, a
inflação pode chegar a 9,0% (em 2015). Daqui a pouco, pode ter mais um aumento
na gasolina, que já está defasada. O governo também está precisando de receita,
então há aumento de impostos, que, de alguma forma, as empresas vão tentar
repassar. Isso torna ainda mais demorado, difícil e sacrificante o combate à
inflação, mas a coisa é essa mesma. No segundo semestre, a gente já vai ver
algum resultado, sobretudo na inflação de serviços. Na inflação de bens
duráveis é mais rápido ainda, porque os estoques estão aí. A combinação de
políticas é propícia para a diminuição da inflação.
Fonte:
JESP
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