Exportador acompanha
situação da China com apreensão; forte baixa das commodities fez receita das
vendas ao país recuar 22,6% este ano.
A desaceleração da economia chinesa deve
dificultar a retomada do comércio exterior brasileiro. Nas últimas semanas, a
China tem emitido sinais duvidosos com relação ao futuro econômico do país, que
nos últimos anos cresceu em ritmo galopante. Em julho, as bolsas locais tiveram
o pior resultado em seis anos, com recuo de 30% – despertando o temor de que
uma bolha financeira esteja estourando no país. O Brasil assiste com atenção ao
desenrolar da situação econômica da China. Entre janeiro e junho, as
exportações brasileiras para o gigante asiático já recuaram 22,6% em receita na
comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) – passaram de US$ 23,880
bilhões para US$ 18,475 bilhões. “O Brasil vê a situação da China com
preocupação porque, de uma hora para outra, esse quadro poder mudar”, afirma
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB). “Quando a bolha aparece, fica claro que já ocorreu alguma coisa por
baixo de que não se tinha conhecimento”. Nos últimos anos, a China assumiu
papel de protagonista no comércio exterior brasileiro. Embora as vendas
brasileiras tenham recuado neste ano, a economia chinesa ainda responde por
19,6% da pauta de exportação do País.
Commodities. A explicação para a forte queda
no comércio com a economia chinesa pode ser explicada pela desaceleração dos
preços das commodities. A China é uma grande importadora de produtos básicos e
qualquer sinalização de piora no crescimento impacta fortemente os preços. No
primeiro semestre, o valor médio do preço da soja recuou 23,53%, o do minério
despencou 52,33% e o do petróleo recuou 48,50%. Além dos sinais de perda de
apetite da China, o recuo nos preços foi influenciado pela expectativa de
retomada da economia dos Estados Unidos. “Quando, no começo de 2014, começou a
se cogitar a alta dos juros americanos, os preços das commodities cederam”,
afirma Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da GO Associados. “O
juro global vai no sentido oposto dos preços. Se o juro americano sobe, os
preços das commodities caem. Se a economia chinesa perde fôlego, os preços
também caem”, explica. Para Silveira, no entanto, apesar do temor gerado pelo
tombo no mercado financeiro chinês no mês passado, os preços dos produtos
básicos não devem cair mais. “Os preços das commodities em grande medida já
caíram. A baixa do crescimento chinês já estava precificada no mercado – o que
nos diz que os preços devem ficar, na margem, mais ou menos os mesmos daqui
para frente”, diz. “A queda nas bolsas é um indicador antecedente da queda no
ritmo de crescimento da China em 2016. Se o país cresce menos, há mais uma
pressão baixista sobre os preços, mas uma tendência de leve baixa, pois a
maioria das commodities já caiu de forma muito acentuada e encontrou seu piso”.
Dados complicados pela Fundação Centro Estudos e
Comércio Exterior (Funcex) revelam que soja, minério de ferro e petróleo
equivalem a 81% do que é exportado pelo País para a China. “O Brasil acaba
ficando dependente do preços das três commodities”, afirma Daiane Santos,
economista da Funcex. Desses produtos, por ora, a soja deverá ser a menos
afetada, uma vez que 80% da commodity já foi embarcada este ano. “O volume exportado
para a China irá crescer em 2015, mas o preço da soja no mercado internacional
caiu. Internamente, o impacto para o produtor é limitado pela alta do dólar,
mas, na balança comercial, há queda de receita”, diz Gil Barabach, analista da
consultoria Safras & Mercado. Só neste ciclo, Estados Unidos, Brasil e
Argentina devem acumular um estoque de mais de 33 milhões de toneladas do grão.
“Tivemos um ano de clima bom e de safra recorde na América do Sul e nos EUA, o
que gera excedentes e baixa os preços”, diz. No caso do minério de ferro, também há um
descompasso entre oferta e demanda. No mercado internacional, a primeira avança
7%, enquanto a segunda cresce apenas 2%. Já o petróleo é a principal incógnita
– a entrada do Irã no mercado deve provocar uma excedente do produto no
mercado, o que tende a reduzir ainda mais o preço. “Claramente o cenário não é
bom para o petróleo, e isso afeta a economia brasileira tanto na produção como
na exportação”, diz Castro, da AEB. Balança. Para Fabio Silveira, no entanto, a
queda dos preços não deve impactar de forma significativa a balança comercial
brasileira em 2015. “A queda de preços gera um desconforto, mas a balança vai
ter um saldo positivo, um superávit, por causa da drástica queda das
importações brasileiras.” Esse queda, afirma ele, é ocasionada tanto pela
recessão do País em 2015 como pela própria queda de preços das commodities, uma
vez que o País também importa produtos básicos, como petróleo. “O Brasil vai
fazer o ajuste clássico de toda a economia que entra em recessão: passar a ser
superavitária. A saída de uma recessão é no setor externo – é a única via
possível”.
Fonte:
JESP
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