Setor aprofundou o
ritmo de queda da produção no segundo trimestre deste ano, com recuo de 6,7% em
relação a igual período de 2014, e já opera a níveis de julho de 2009, quando a
atividade ainda caminhava para se recuperar da crise internacional, que teve
seu estopim em setembro de 2008.
A indústria brasileira opera a níveis de
julho de 2009, quando a atividade ainda caminhava para se recuperar da crise
internacional. A diferença é que a demanda das famílias brasileiras, que
resgatou o setor há seis anos, agora segue ladeira abaixo. Tanto que a produção
chegou a esse patamar porque aprofundou o ritmo de queda no segundo trimestre,
com recuo de 6,7% em relação a igual período de 2014, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho é o pior desde o
terceiro trimestre de 2009, quando a queda foi de 8,1%. Além disso, posicionou
a indústria em um nível 9,9% abaixo de setembro de 2008, mês em que a crise
internacional teve seu estopim. Depois disso, a produção afundou, recuperou-se até
junho de 2013, quando atingiu o auge, e voltou a desacelerar até os dias de
hoje. “O baixo nível de confiança dos empresários e do consumidor, o aumento da
taxa de desemprego, a renda disponível das famílias diminuindo, seja porque tem
inflação mais alta ou porque você permanece comprometido com outras dívidas, e
o mercado externo ainda adverso pontuam a trajetória descendente que marca a
produção da indústria” explicou André Macedo, gerente da Coordenação de
Indústria do IBGE. Apenas em junho, o recuo na produção foi de 0,3% ante maio,
menos intenso do que o previsto por economistas. Mesmo assim, os dados não animam,
já que não compensam perdas anteriores e porque os bens de capital (que incluem
máquinas e equipamentos) e os bens de consumo duráveis, categorias que exibem as
retrações mais intensas, sinalizam para um menor potencial de crescimento da economia
nos próximos anos. “A pesquisa mostra que o País parou. Não adianta pensar que
deixar de fazer o Brasil crescer fará com que a inflação ceda, pois precisa de
PIB (Produto Interno Bruto) potencial para que isso aconteça”, disse o economista-chefe
da Saga Capital, Marcelo Castello Branco. “Nosso produto potencial está sendo
dizimado e já está em zero ou até mesmo negativo”. Em junho, a produção de bens
de capital recuou pela 16ª vez consecutiva na comparação com igual mês do ano anterior.
Só neste ano, a retração já beira os 20%. “A variação de bens de capital afunda
num país que abortou o futuro num ajuste suicida”, afirmou André Perfeito,
economista-chefe da Gradual Investimentos. Os bens duráveis vivem quadro semelhante.
Desde meados do ano passado, a fabricação de veículos, móveis e
eletrodomésticos tem caído diante da desaceleração na renda das famílias – que
se transformou em queda no início de 2015 – e do aumento dos juros, que
encarecem o crédito e os financiamentos, única maneira para muitos brasileiros
adquirirem esse tipo de bem. “É um quadro meticulosamente construído por um ajuste
fiscal e monetário em uma economia que já estava desacelerando”, disse
Perfeito. Segundo ele, a grande variável de ajuste este ano será o salário real
dos brasileiros, e nenhum empresário investe se não há demanda. Ainda há a incerteza
política, que tem dado sinais cada vez mais fortes. “O processo de ajuste está mal
desenhado. Mas, uma vez desenhado, tem de ser levado até onde dá. Foi
corretíssima a atitude do ministro Joaquim Levy de diminuir a meta fiscal. O
problema é mais político, a presidente Dilma (Rousseff ) perdeu a capacidade de
ancorar expectativas, e o investimento não está ocorrendo”, afirma Perfeito.
Estoques
Alguns setores conseguiram recentemente
reequilibrar a produção e ajustar estoques, como bebidas, perfumaria e produtos
de limpeza. Com isso, eles conseguiram elevar a produção em junho ante maio. A
produção de alimentos também cresceu diante da estratégia das famílias de
substituir o consumo de carne bovina por aves. Além disso, o câmbio tem ajudado
alguns setores, como a celulose, as próprias carnes e o minério de ferro, mas
ainda não é um fator de impulso para a indústria como um todo. “Os favorecidos são
os que já têm viés para mercado externo”, ponderou Macedo, do IBGE. “Por
enquanto ainda não tem reversão de cenário, é um reflexo setorial”. Na
comparação com junho do ano passado, dois efeitos ajudaram a indústria: o
calendário maior e a base de comparação fraca. É que o sexto mês deste ano
contou com um dia útil a mais do que em 2014. Além disso, a Copa do Mundo no
ano passado reduziu jornadas de trabalho e levou a um resultado negativo na
produção. Mesmo assim, a atividade recuou 3,2% em junho ante igual mês de 2014.
Fonte:
JC
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