Comitê de Política
Monetária avalia que manutenção é necessária para a convergência da inflação
para a meta no fim de 2016; movimento era esperado por analistas do mercado.
O Banco Central decidiu ontem manter
inalterada a taxa básica de juros no encerramento da reunião do Comitê de
Política Monetária e, com isso, a Selic permanecerá no patamar de 14,25% ao
ano, ainda assim o mais elevado nível desde agosto de 2006. O movimento era
esperado por analistas do mercado depois que o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo
trimestre foi divulgado na semana passada, revelando uma recessão ainda mais
grave do que a estimada pelo governo e pelo próprio setor privado. Em decisão
unânime de seus integrantes, o Copom repetiu o comunicado da última reunião, no
fim de julho, quando a instituição tinha decidido pela elevação da Selic em 0,5
ponto percentual. O Copom informou ontem entender que a manutenção da Selic a
14,25% ao ano, “por período suficientemente prolongado” é necessária “para a
convergência da inflação para a meta no final de 2016”. A decisão do Banco
Central ocorreu no mesmo dia em que o dólar fechou cotado a R$ 3,76, o maior
patamar em 12 anos. Com a desvalorização do real, os bens importados sofrem
aumentos de preços e, com isso, pressionam a inflação. Apesar disso, o BC
sinalizou, com a decisão, que o trabalho está concluído e que a inflação
oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve chegar
no centro da meta, de 4,5%, no fim do ano que vem. Não é essa a opinião da
equipe econômica, no entanto. Na proposta orçamentária de 2016, enviada pelo
governo ao Congresso na segunda-feira, a projeção de alta do IPCA é de 9,25% neste
ano e de 5,4% no ano que vem. As duas projeções trazem dores de cabeça para Alexandre
Tombini, presidente do BC. Neste ano, o IPCA vai romper o teto da meta de
inflação pela primeira vez desde 2003, o que exigirá uma carta de Tombini para
a presidente Dilma Rousseff explicitando as razões para o descumprimento. Ao
mesmo tempo, caso a projeção do governo para 2016 se confirme, será o sétimo
ano consecutivo de inflação acima do centro da meta. Tombini, que assumiu o
comando do BC em janeiro de 2011, nunca conseguiu ver o IPCA chegar a 4,5% ao fim
de um ano. A projeção orçamentária do governo, fechada pelos ministérios da
Fazenda e do Planejamento, comandados por Joaquim Levy e Nelson Barbosa, respectivamente,
aponta que o IPCA somente chegará a 4,5% no fim de 2017. A reportagem apurou
que a decisão foi bem recebida pelo Palácio do Planalto. A avaliação da
presidente Dilma, segundo um auxiliar próximo, é que novas elevações dos juros
produziriam pouco efeito sobre a taxa de câmbio e, consequentemente, sobre o
ritmo da inflação. Além disso, a pressão produzida pelos juros nas contas
públicas não é desprezível. O gasto do governo com os juros da dívida pública
saltou de cerca de 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2013, para quase 8%
do PIB no momento. O quadro fiscal, hoje, representa a maior preocupação
política e econômica do governo, que se esforça para convencer as agências
internacionais de rating a não rebaixarem a nota de crédito do Brasil. Hoje, o País
continua com o selo de “grau de investimento” das principais agências, como Standard
& Poor’s, Moody’s e Fitch, apesar da forte elevação da dívida pública
bruta, da recessão e da inflação acima do teto da meta do BC. O fim do aperto
da política monetária, por parte do Banco Central, deixa agora exclusivamente nas
mãos da política fiscal (o corte de gastos e os aumentos de arrecadação) a
responsabilidade para a melhora dos indicadores. O ciclo de aumento de juros começou
em abril de 2013, quando a Selic estava cotada na mínima histórica de 7,25% ao ano.
O BC elevou os juros por um ano, parou durante as eleições presidenciais e
retomou o aperto a partir de novembro do ano passado. Desde a retomada foram
sete aumentos consecutivos até julho. Agora, especialistas do mercado financeiro
apontam que a Selic deve seguir no patamar de 14,25% ao ano – um dos mais elevados
do mundo – até o primeiro semestre do ano que vem, quando o BC deve iniciar um
ciclo de corte da Selic.
Fonte:
JC
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