Importa menos o
nível dos juros pelo qual o Copom acabará optando e bem mais os novos
parâmetros da economia que adotará para suas decisões.
O Comitê de Política Monetária (Copom), do
Banco Central, presidido pelo economista Alexandre Tombini, realiza nesta
quarta-feira mais uma reunião para definir o nível dos juros, em condições
econômicas claramente ruins e num clima político especialmente conturbado. O
governo Dilma desistiu de cravar o centro da meta inflacionária (4,5%) ao fim
de dezembro de 2016, conforme compromisso firme do Banco Central. No Projeto de
Lei Orçamentária de 2016, o governo passou a trabalhar com inflação de 5,4%,
ignorando o cumprimento da meta da autoridade monetária. O que precisa ser
cobrado agora do Copom é se continua insistindo nesses 4,5% ou se vai afrouxar
sua política para empurrar a inflação para os mesmos 5,4% adotados como
premissa na definição do Orçamento de 2016. E há o desdobramento dessa nova
postura do governo para a administração das expectativas, item muito importante
na política de metas. Como é que o Banco Central vai seguir tentando convencer
o mercado financeiro e os fazedores de preços de que a inflação de 2016
convergirá para a meta, se nisso nem a equipe econômica do governo acredita? Ou
será que o Banco Central não adotará a tal postura “realista” evocada pelos
ministros da área econômica? Outra preliminar é a grave questão fiscal. São
novos os parâmetros que definem a situação das contas públicas. Desde agosto de
2013, a autoridade monetária vem repetindo o mantra de que a política fiscal é
sua aliada. Reitera que o jogo do governo na administração das contas públicas
tende para neutralidade como fator de inflação, ou seja, caminha, afirma o
Banco Central, para uma situação em que nem produz nem reduz inflação, podendo
até mesmo reduzir. Além disso, como consta na última Ata do Copom, vinha
contando com um superávit primário (sobra de receita para pagamento da dívida)
de 0,15% do PIB em 2015 e de 0,7% do PIB em 2016. A novidade é a de que o
governo jogou miseravelmente a toalha. Ao apresentar o Projeto de Lei
Orçamentária de 2016, reconheceu que, às condições previstas, ficarão faltando
R$ 30,5 bilhões para fechar as contas públicas. Ainda assim, um grande número
de contas e subcontas continua vago o suficiente para levantar dúvidas sobre a
obtenção até mesmo desse resultado ruim. O Banco Central não terá outra saída senão
reconhecer que a área fiscal não ajuda a combater a inflação e que sobrará mais
esforço para a política monetária (política de juros). Também terá de dizer
como enfrentará os efeitos sobre a inflação da, de 10,8% só nos últimos 40 dias.
Vêm aumentando as pressões sobre o Banco Central para que largue o que tanta
gente denuncia como turrice ortodoxa, que reconheça a dureza do momento e
desista de puxar os juros para os cornos da lua. Cartolas do empresariado
local, como o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, repetem isso todos os dias. E
recorrem a conchavos para obter por vias políticas a flacidez da política
monetária que não conseguem defender com argumentos racionais. Enfim, nesta
reunião, importa menos o nível dos juros pelo qual o Copom acabará optando e
bem mais os novos parâmetros da economia que adotará para suas decisões
Fonte:
C. Ming/JESP
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