As apostas na queda da Selic ao longo de 2019 ganharam fôlego adicional ontem com a nova rodada de queda de juros pelo mundo e os sinais de fragilidade da economia brasileira. Na B3, as taxas futuras caíram do começo ao fim do pregão e agora projetam flexibilização próxima de 0,75 ponto percentual da Selic até o fim do ano.
Todo esse movimento foi capitaneado por temores de uma recessão global, trazidos por dados fracos de atividade e pela persistente disputa comercial entre EUA e China, o que eleva a expectativa por novas medidas de estímulo.
Ontem, a taxa do contrato de DI para janeiro de 2020 recuou de 5,53% para 5,515%, enquanto a do DI para janeiro de 2021 caiu de 5,49% para 5,43%, a despeito da alta do dólar e da instabilidade do Ibovespa durante boa parte do pregão.
O contraste com o desempenho negativo de outros ativos locais deixa a queda dos juros ainda mais notória e denota uma postura bastante cautelosa com o risco de recessão global. O investidor aposta em novos estímulos monetários, mas mostra receio em aumentar de maneira significativa a exposição em ativos de risco, como ações e divisas emergentes.
Com a queda dos juros futuros, o mercado precifica agora que a Selic chegará ao fim do ano bem próximo de 5,25%, ante o nível atual de 6%. De acordo com analistas, as apostas numa flexibilização adicional em 2019 ainda podem ganhar tração nos próximos meses conforme o cenário de aprovação de reformas, inflação baixa e atividade fraca em todo o mundo vai se confirmando.
Lá fora, já existem dúvidas sobre quais alternativas os bancos centrais das economias desenvolvidas - muitos dos quais já apresentam juro negativo - ainda têm para sustentar o atual ciclo econômico. Já a resposta esperada no Brasil é, de fato, novas quedas da taxa básica de juros.
"O ciclo de flexibilização deve ser mesmo entre 1,25 ponto e 1,50 ponto. A diferença é que os juros podem ficar neste nível baixo por um longo período. Por exemplo, o BC pode não ter que subir os juros ano que vem", diz Marcos Mollica, gestor do Opportunity. Esse quadro, entretanto, estaria condicionado tanto ao cenário externo quanto ao local de inflação e atividade.
Por aqui, os novos sinais de fraqueza econômica no Brasil vieram com a frustração com as vendas no varejo, que subiram bem menos que o esperado em junho.
Já o clamor no mercado global por mais estímulos pelo mundo foi reforçado pelos dados piores que o esperado da indústria na Alemanha e pelo receio persistente com a disputa comercial entre EUA e China. O juro do título americano de dez anos caiu de 1,73% para 1,71%, enquanto o papel alemão de mesmo vencimento ficou ainda mais negativo, em -0,573%.
Diante deste quadro, os emergentes continuam se movimentando para conter a fraqueza econômica que abala o mundo. Ontem, os bancos centrais de Nova Zelândia, Índia e Tailândia reduziram suas taxas básicas.
Ainda assim, os desdobramentos da guerra comercial exigem cautela. Marcos de Callis, estrategista de investimento da asset do Banco Votorantim, afirma que a alta do dólar contra emergentes é um ponto de atenção, que pode até deixar o processo de flexibilização monetária do Brasil mais lento. "Se estivermos com uma taxa de câmbio de R$ 4 por dólar na próxima reunião do Copom, não sei se haveria espaço para indicar ciclo de queda de 1,50 ponto da Selic."
Ainda assim, os desdobramentos da guerra comercial exigem cautela. Marcos de Callis, estrategista de investimento da asset do Banco Votorantim, afirma que a alta do dólar contra emergentes é um ponto de atenção, que pode até deixar o processo de flexibilização monetária do Brasil mais lento. "Se estivermos com uma taxa de câmbio de R$ 4 por dólar na próxima reunião do Copom, não sei se haveria espaço para indicar ciclo de queda de 1,50 ponto da Selic."
Fonte: Valor
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