Foram
anos de aprendizado para formar novos investidores no Brasil. Do plano real
para cá, o brasileiro finalmente teve oportunidade de poupar. Nasceram e
cresceram os fundos de investimentos no país, os bancos sofisticaram seus
produtos e o poupador aprendeu a arriscar um pouco mais. Mas, entre o
“vendedor” e o “consumidor” de investimentos cresceu também uma pilha de
custos, papéis e tratados. “Você sabe o que é preciso para abrir uma poupança?
Só o RG. E para aplicar num fundo DI? Um monte de papelada. A difusão dos
fundos de investimento não simplificou a vida do poupador. Não é só uma questão
de custo da poupança. Eu não vou me surpreender se ela continuar batendo
recorde. A poupança é simples, todo mundo entende”, disse ao G1 o professor da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), William Eid. A poupança brasileira já tem quase
R$ 540 bilhões aplicados, sendo que os depósitos superaram as retiradas em R$
9,33 bilhões em julho deste ano e em R$ 37,6 bilhões no ano, segundo o BC. Pela
última conta feita pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a caderneta de
poupança tinha, no fim de 2012 (último dado disponível), 108,9 milhões de
investidores – mais da metade da população brasileira. Em 2011, eram 98
milhões. O curioso é que, no ano em que o governo mudou as regras de rendimento
da aplicação para que os juros historicamente baixos (chegaram a 7,25% ao ano)
não causassem uma fuga dos fundos de investimentos, a velha e boa poupança
continuou atraindo gente nova e mais dinheiro. Com a mudança da regra em 2012,
esperava-se uma queda na migração já que, com a taxa básica Selic menor, a
poupança passou a render menos que os fundos de mercado. Claro que, na conta
feita pelo poupador, também estão a isenção do imposto de renda e a
inexistência da taxa de administração para a caderneta. Esse custo pesa no
bolso o mesmo ou até mais que o cálculo sobre os ganhos. “O nosso poupador não
liga para duas coisas: os juros que ele recebe numa aplicação ou que ele paga
num crediário. Ele quer saber quanto vai receber num período e quanto dá conta
de pagar por uma prestação no seu orçamento. O investidor brasileiro não segue
o padrão ‘risco-retorno’ de investimento. Ele segue uma pirâmide em que a base
é a proteção. E quem pode dar essa proteção a ele aqui? A poupança e a compra
de um imóvel”, explica o professor Eid. Essa tese pode explicar a forte alta no
preço dos imóveis, registrada pelo índice FipeZap – o preço do metro quadrado
subiu mais de 7% esse ano, ou seja, mais do que o dobro da inflação, que está
por volta de 3,20% no mesmo período.
Fonte: G1
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