Estragos provocados pela quebra do Lehman Brothers, que culminou
com o estouro da bolha imobiliária em setembro de 2008, estão longe do fim.
Durante
um bom tempo, o Brasil se vangloriou de ter sido o primeiro país a sair da
crise que varreu o mundo a partir de 15 de setembro de 2008, quando um dos
maiores símbolos do capitalismo ruiu, o banco norte americano Lehman Brothers. Cinco
anos depois do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, que revelou ao mundo
o monstro dos subprimes – créditos de péssima qualidade vendidos como o melhor negócio
do planeta –, o País está entre os mais vulneráveis do globo, justamente no
momento em que deveria tirar proveito da retomada da atividade internacional, puxada
por sua maior locomotiva, os EUA. Se, em 2008, quando o então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva definiu como "marolinha" o tsunami que destruiu pelo
menos US$ 18 trilhões em riquezas no mundo, pelos cálculos da Organização das Nações
Unidas (ONU), o Brasil pôde lançar mão de medidas que minimizaram os estragos na
economia, hoje, o que se vê é um governo com pouca margem de manobra para
encarar o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chama de "minicrise".
Não sem motivos. Em vez de aproveitar a recuperação da atividade, que teve seu
ápice em 2010, com o crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) – o maior,
em 24 anos –, para consolidar a estabilidade, o País cometeu uma sucessão de equívocos
e improvisos que resultaram na alta da inflação, na perda de ritmo da expansão econômica
e em um rombo crescente nas contas externas. O quadro que se vê no Brasil é
desalentador, admite Roberto Fendt, diretor executivo do Centro Brasileiro de
Relações Internacionais (Cebri). Em vez de cortar juros para estimular o
crescimento, o País está sendo obrigado a elevar o custo do dinheiro para que a
inflação, que se mantém insistentemente próxima do teto da meta perseguida pelo
Banco Central, de 6,5%, não saia do controle. Ao contrário de dar um sinal claro
aos investidores de que o ajuste fiscal é para valer, o Palácio do Planalto
encaminhou ao Congresso Nacional uma proposta de Orçamento de 2014 na qual
reduz a economia para pagamento de juros da dívida (superávit primário) a 2,1%
do PIB. A gastança nos últimos anos foi tamanha, que já não há mais espaço para
estímulos à atividade, em especial aos investimentos produtivos. Não por outra
razão, o Brasil passou a liderar a onda de desconfiança que inundou os países
emergentes desde maio, quando o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA,
indicou que estava se preparando para reduzir os estímulos que vinha dando à
maior economia do planeta. Com os juros norte-americanos apontando para cima,
os investidores optaram por selecionar os países nos quais manteriam suas
aplicações. De prioridade, o Brasil passou a ser visto com ressalvas. Os
problemas estruturais da economia, com a infraestrutura precária, o
intervencionismo estatal, a leniência com a inflação e truques fiscais,
deixaram de ser relevados. A cobrança veio por meio de uma forte saída de
recursos do País e da disparada de quase 20% do dólar ante o real.
Blindagem falha
Na
avaliação de especialistas, mais do que olhar para trás, para os cinco anos
pós-Lehman, o que assusta é a falta de transparência do que será a política
econômica em um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff. "Infelizmente,
o Brasil nunca teve o costume de fazer o dever de casa", afirma Creomar
Lima e Souza, professor de Relações Internacionais da Universidade Católica de
Brasília. Poucos acreditam que as tarefas que poderiam blindar o País neste
momento serão executadas com êxito. "Os tempos são de incerteza para o
Brasil, quando todos deveriam estar comemorando a recuperação da economia
mundial, em especial a dos Estados Unidos", acrescenta Ernesto Lozardo, professor
da Fundação Getulio Vargas. Ninguém espera, contudo, a ruína dos países
emergentes, em especial de Brasil, Índia, Indonésia, Turquia e África Sul,
cujas moedas estão derretendo, por causa da fragilidade crescente nas contas
externas e da alta do endividamento interno. "Teremos pelo menos mais dois
anos de dificuldades, até que se saiba ao certo como será a condução da
política monetária norte-americana", destaca Lozardo. Muitos acreditam que
o desmonte dos estímulos dados pelo Fed será complexo, pois não se sabe para
onde vão os juros norte americanos. Antônio Corrêa de Lacerda, professor de
economia política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), diz
não ter dúvidas de que o Brasil apresentou uma das melhores respostas de países
emergentes ao terremoto financeiro oriundo dos EUA. "O uso de bancos
públicos para compensar as dificuldades de crédito e estimular a demanda interna
foram positivas e impediram a economia de levar um tombo igual ao de Rússia e México
", explica. De toda forma, ele acredita que, desde 2009, estava claro para
o governo que o modelo de desenvolvimento não poderia mais se ancorar no
consumo das famílias, cujo comprometimento da renda com dívidas saltou de 32%,
em setembro de 2007, para 45%, em junho deste ano. "As ferramentas usadas
para superar a crise no auge dela não servem mais agora", resume.
Fonte: JC
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