Trabalhador já paga a fatura.

Oferta de empregos esfria e peso da atividade lenta recai sobre a renda das famílias, até então o sustentáculo do País. Cálculos do Bradesco mostram que reajuste médio salarial em 2013 será de 2,5%, o menor ganho real em nove anos.

A crise chegou ao bolso do brasileiro. Depois de dois anos seguidos de baixo crescimento e de inflação elevada, os trabalhadores começam a pagar a fatura da desordem econômica. A oferta de empregos esfriou e o peso da frustração com o Produto Interno Bruto (PIB), agora, recai sobre a renda das famílias, até então o sustentáculo do País. Segundo cálculos do Bradesco, o reajuste médio salarial em 2013 será de 2,5% – o menor ganho real em nove anos. A instituição projeta ainda desaceleração do consumo, para 2,7%. No ano passado, essa taxa havia sido de 3,1%. Além de uma inflação persistente, o endividamento elevado das famílias e bancos mais seletivos na oferta de crédito são vistos como um cenário adverso e que pode agravar as condições no País, que já enfrenta dificuldades para encontrar uma taxa de expansão satisfatória. Todo esse cenário, de acordo com analistas, afeta os ganhos dos trabalhadores e os empregos. As empresas adiaram demissões o quanto foi possível, mas com as margens de lucro estranguladas pela carestia e por uma economia aquém do ideal, o mercado de trabalho, assim como o aumento de renda, começam a esfriar. O sonho do pleno emprego, de acordo com os economistas, está ameaçado. Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) reforçam a tese do Bradesco para a renda. Diminuiu o número de categorias que obtiveram ganhos salariais acima da inflação. Em 2012, 96,3% delas tiverem reajustes capazes de vencer a inflação. Este ano, o número caiu para 84,5%. O tamanho do ganho real também encolheu, passando de 2,26% em 2012 para 1,19%. Especialistas alertam que esse processo de aumento da renda, em muitos casos acima da produtividade, deve se tornar mais raro. “Os que têm salário próximo do mínimo receberam ganhos maiores que sua produtividade, não nos parece mais possível aumentos tão exagerados”, ponderou Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse. Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central, pondera que as empresas, em função do elevado custo de demissão e contratação, adiaram planos de cortar postos. “Houve um entesouramento de mão de obra. Os empresários optaram por esperar o máximo possível na expectativa de que o crescimento do País melhorasse. Como essa recuperação é lenta, eles pararam de absorver perdas e o mercado de trabalho esfriou”, argumentou. Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, faz avaliação semelhante. “Desde 2004, a demanda por mão de obra cresce acima da oferta. Agora, isso se inverteu, a disponibilidade de emprego desacelera a uma velocidade maior”, observou. Com a menor oferta de postos de trabalho, a possibilidade de ganhos acima da inflação se reduziu. Construção Na construção civil, até 2010, era comum um trabalhador migrar de uma empresa para outra, cooptado por rendimentos maiores. Diante da desaceleração da economia, o número de obras caiu e a necessidade de operários também, o que possibilitou às empresas manter um empregado por mais tempo e com o mesmo salário. A situação não se restringiu apenas à construção civil. A indústria amarga as piores condições. O setor parou de gerar postos de trabalho e o total de ocupados em fábricas está nos piores níveis desde 2009. O gasto com a folha de pagamentos, em alguns setores, também está menor, a exemplo de meio de transporte, papel e gráfica, produtos de metal, madeira e calçados e couro. “O crescimento mais fraco influencia, a inflação também ao reduzir o poder de compra e as vendas no varejo”, diz José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Quando se tem queda nas vendas, os setores de comércio e serviço sofrem e a indústria, por consequência, produz menos. Tudo isso reflete, em algum momento, em uma desaceleração do aumento da renda”, explica. Newton Rosa, economista chefe da Sul América Investimentos, afirma que o Brasil entrou em um círculo vicioso. Na visão dele, os sinais são claros de que o mercado de trabalho está perdendo força. “Hoje, o Brasil cresce abaixo do PIB potencial e para reaquecer o mercado de trabalho precisamos de uma atividade mais dinâmica”, argumentou. Com a renda dos trabalhadores crescendo a um ritmo menor, o varejo começa a se preparar para tempos de vendas em baixa. As projeções do Bradesco são de forte desaceleração no comércio. Enquanto em 2012 o setor avançou 8,4%, a previsão para este ano é de 3,2%. Para 2014, o cenário piora ainda mais e o número cai para 3%.




Fonte: JC

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