Alta de 0,5 ponto confirma expetativas de economistas e comunicado
oficial reforça a avaliação de que Selic poderá chegar a 10% na próxima reunião,
marcada para novembro. É o maior ciclo de elevação da taxa do governo Dilma
Rousseff.
O
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou na noite de ontem
o aumento da taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, para 9,5% ao
ano. Consolidou, assim, o maior ciclo de elevação da taxa do governo Dilma
Rousseff. São 2,25 pontos percentuais de avanço desde abril. O comunicado
oficial do BC também reforçou a avaliação dos analistas de que os juros podem
chegar a 10% na próxima reunião, marcada para 26 e 27 de novembro. Ao repetir o
texto de reuniões anteriores, na sequência das quais houve aumento de 0,5
ponto, os especialistas entenderam que ficou indicada uma nova alta da mesma
magnitude. De acordo com o comunicado, idêntico aos apresentados em maio, julho
e agosto, o comitê avaliou de forma unânime que a decisão de aumentar a Selic em
0,5 ponto contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que a
tendência persista no próximo ano. Cinco altas seguidas A trajetória de alta da
taxa básica, a quinta consecutiva, confirmou as expectativas dos economistas.
Eles apostavam em 0,5 ponto percentual, e o aumento foi dado como garantido depois
que, pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou o resultado da inflação e setembro, que mostrou aceleração de 0,24% em
agosto para 0,35% em setembro. Apesar de ter ficado dentro das projeções, a
resistência inflacionária foi lida como um movimento não isolado do IPCA. O
IGP-DI, por exemplo, avançou de 0,46% para 1,36% no mesmo período. Os motivos
que levaram o Copom a manter o aperto monetário serão detalhados na quinta-feira
da próxima semana, com a divulgação da ata da decisão de ontem. Os
profissionais de mercado estarão atentos, no entanto, a qualquer pronunciamento
do presidente do BC, Alexandre Tombini, durante passagem pelos Estados Unidos. A
viagem, que começou ontem e vai até domingo, está repleta de compromissos
públicos. Para a equipe de economistas da Concórdia, a diretoria do BC deverá
fundamentar sua decisão em três pontos: o patamar desvalorizado da taxa de câmbio,
associado às incertezas do cenário internacional; a recente aceleração dos
indicadores de preço; e a perspectiva de um novo reajuste nos preços dos
combustíveis em 2013. Segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco
Lima Gonçalves, o cenário sofreu modificações desde a reunião anterior do
Copom. "Umas coisas para melhor, outras nem tanto. O dominante, porém, foi
para melhor", avaliou. Por isso, o BC preferiu não deixar a situação
amarrada. Pelos cálculos do economista, a Selic chegará ao final do ano em 10%.
"Símbolos são feitos para serem destruídos", afirmou, sobre a
perspectiva de os juros voltarem aos dois dígitos. A redução dos juros para
menos de 10% foi um dos feitos mais comemorados pela atual equipe de governo.
Lima Gonçalves comentou ainda a mudança de postura do colegiado do BC sobre a
situação fiscal. "Parece que alguém no governo resolveu mostrar preocupação",
considerou. Alguns analistas também enfatizaram o alerta do BC na ata da
reunião passada e no Relatório Trimestral de Inflação, publicado em setembro.
Para o Copom, a tendência é que as contas públicas sejam neutras, e não mais
expansionistas, dentro de seu "horizonte relevante" para tomada de
decisão sobre juros. O economista-chefe para América Latina do HSBC Bank, André
Loes, é um dos poucos analistas do mercado a acreditar que, com a decisão
atual, o BC encerra o período de aperto monetário. Para ele, não há
necessariamente a obrigação de o Copom antecipar no comunicado que se segue à
decisão alguma menção ao fim do ciclo atual de alta. "O statement pode ter
ficado em aberto. Alguma qualificação deve vir apenas na ata", considerou,
admitindo que, se há um risco em seu cenário, é de mais elevações da Selic. Indústria
A elevação de 0,5 ponto percentual da Selic está dentro das expectativas,
afirmou a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A entidade adverte, porém,
que, diante deste novo cenário, "a política fiscal deve ter papel mais
ativo no combate à inflação". De acordo com a CNI, mesmo com a retração da
inflação no acumulado em 12 meses, a evolução dos preços exige um acompanhamento
muito atento da política econômica. Na análise da confederação, a desaceleração
atual dos preços tem características, basicamente, de curto prazo, sem sinais
de manutenção duradoura. "Por isso, é preciso manter o alerta para o comportamento
dos preços em 2014", cita a CNI, em nota. Segundo a entidade, um fato relevante
é a discrepância de tendência entre os preços monitorados e livres. Sem a contribuição
dos monitorados, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dificilmente terminaria
2013 dentro do limite superior da meta de 6,5%, cita a entidade. "É
importante ressaltar que esse expediente será bastante limitado em 2014, com a
reversão das reduções praticadas em 2013", menciona a nota. "Nesse
sentido, é necessário que a política fiscal tenha um papel mais ativo no
combate à inflação daqui para a frente. O maior controle dos gastos públicos reduzirá
a necessidade de atuação da política monetária e imporá menores custos ao setor
produtivo", cita a CNI. O novo aumento anunciado pelo Copom atrapalha a
recuperação da economia brasileira, conforme o presidente da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Na análise de Skaf, "é
hora de baixar juros e aumentar o investimento público direto e em
concessões". O dirigente também afirmou acreditar que a decisão de elevar
a Selic a 9,5% ao ano neutraliza o efeito positivo da desvalorização cambial
para o setor produtivo. "O estímulo à produção nacional dado pela
desvalorização cambial será anulado pelo aumento da taxa de juros",
critica, Já a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)
avalia que o Copom já deveria ter encerrado o ciclo de alta da Selic. Na
avaliação da Firjan, desde a última reunião do Copom, houve mudanças
significativas no cenário econômico global. “A perspectiva a respeito do fim do
programa de expansão monetária Fed (Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos)
já não é mais tão iminente, especialmente diante do impasse quanto à aprovação
do orçamento americano, que paralisou grande parte dos serviços públicos daquele
país e tende influenciar negativamente a retomada da atividade econômica",
cita a Firjan, em nota. Diante de tal cenário, a Firjan argumenta que a cotação
da moeda americana recuou significativamente, reduzindo o impacto da
desvalorização do real sobre os preços domésticos. "Além disso, o
resultado do IPCA de agosto, divulgado hoje, indicou o início de um movimento de
desaceleração da inflação nos próximos meses", cita a federação das
indústrias fluminenses, em nota. "Nesse contexto, o Sistema Firjan entende
que a decisão do Copom de aumentar pela quinta vez consecutiva a taxa Selic foi
equivocada e defende o fim do ciclo de aperto monetário na próxima reunião do colegiado",
conclui a Firjan. Comércio A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a
Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) declarram
que a alta dos juros básicos indica que a instituição financeira continua
empenhada em conter a inflação. "Ao elevar a taxa Selic para 9,5%, com
aumento de meio ponto percentual, em linha com o consenso de mercado, o Banco
Central parece continuar disposto a atuar para conter a alta da inflação - que,
apesar de ter mostrado recuo, continua acima da meta anual (4,5%)", afirma
o presidente da ACSP e da Facesp, Rogério Amato, em nota. De acordo com Amato,
no entanto, o BC deve agora pôr no radar a preocupação com a atividade econômica.
"Daqui para a frente, devido à fraca recuperação do nível de atividade
econômica, num contexto de queda dos índices de confiança, e ao menor patamar
alcançado pela taxa de câmbio, poderia ser conveniente dosificar o aumento dos
juros. Porém, desde que a política fiscal implementada seja efetivamente neutra
em termos de inflação", afirma.
Fonte: JC
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