País vive choque de realidade.

O País que um dia já foi apontado como queridinho dos mercados durante o governo Lula tornou-se alvo da desconfiança global na gestão Dilma Rousseff. Com uma mão pesada sobre a economia, o Brasil passou a ser visto como uma nação que não inspira confiança, seja porque a inflação está persistentemente acima do centro da meta de 4,5% ao ano, seja porque não tem conseguido repetir os bons números de outrora. Faz dois anos que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial para a inflação no País, fecha sempre acima do patamar que, em tese, deveria ser perseguido pelo Banco Central (BC). Para os próximos dois anos, as perspectivas não são nada animadoras: até pelo menos meados de 2015, a inflação continuará acima da meta de 4,5%, segundo projeção da própria autoridade monetária. Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) que decolou 7,5% em 2010, no último ano do governo Lula, despencou nos anos seguintes. Para este ano, a projeção do mercado financeiro é de alta de 2,48%. E, no ano que vem, um desempenho ainda mais pífio: elevação de 2,2%. Quem olha para o Brasil atual não o reconhece na fotografia de cinco anos atrás, quando, em abril de 2008, recebeu o tão sonhado grau de investimento pela agência de classificação de riscos Standard & Poor’s. “O que em mudou desde então”, observa a economista Monica Baumgarten de Bolle, PhD em Economia pela London School of Economics, da Inglaterra, “foi que o País passou a ter um dos governos mais intervencionistas dos últimos anos”, pondera. A marca da gestão Dilma Rousseff produziu efeitos colaterais em diversas áreas da economia. Sob a avaliação de que faltava dinheiro para as empresas investirem, o Tesouro Nacional autorizou repasses bilionários aos bancos públicos. Só o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) recebeu, nos últimos anos, quase R$ 500 bilhões em recursos públicos. A medida provocou um descolamento nunca antes visto na dívida bruta, que considera apenas os passivos do Estado, e a dívida líquida, que contabiliza também os ativos do poder público. Como os empréstimos aos bancos públicos são considerados como dinheiro que um dia retornará aos cofres da União, esse dinheiro não aparece nas contas públicas. Superávit primário O mesmo foi feito com o chamado superávit primário, que é a economia que o poder público destina para o pagamento de juros da dívida pública. Sem dinheiro para fazer face às obrigações impostas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o Tesouro montou uma complexa engenharia contábil, que envolvia antecipar receitas de anos seguintes e até contabilizar como economia fiscal os gastos com obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O economista Felipe Salto, da consultoria Tendências, classifica essas operações como “a face mais obscura da economia brasileira”. Outros organismos também mostraram apreensão com essa política. Em matéria que correu o mundo, a revista inglesa The Economist questionou se o País que um dia foi considerado a bola da vez dos mercados internacionais teria, enfim, conseguido “estragar tudo”. Pouco tempo depois foi a vez da Moody’s, uma três maiores agências de classificação de risco, colocar em xeque o modelo econômico adotado pelo Brasil. No relatório em que reduziu de “positiva” para “estável” a perspectiva para a nota de crédito do país, o organismo expressou preocupação com uma série de problemas brasileiros. Em especial, a fragilidade das contas públicas – que já não inspiram mais confiança após anos de truques contábeis – e, principalmente, o frágil desempenho do PIB. Os dois organismos também mostraram especial preocupação com as contas públicas do país. Pelas contas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta brasileira atingiu, ao fim de 2012, o equivalente a 68,5% do PIB. Por esse cálculo – que é questionado veementemente pelo governo brasileiro –, o País detém o quarto maior endividamento entre economias em desenvolvimento, ficando atrás apenas do Egito, da Jordânia e da Hungria. Não à toa a Moody’s piorou a avaliação a respeito da capacidade do governo brasileiro em honrar seus compromissos com credores externos. Hoje, são cinco as agências de classificação de risco que avaliam como “estável” a nota de crédito do país. Uma pior avaliação tem a Standart&Porr’s, uma das três maiores do mercado, que desde junho deste ano passou a marcar a perspectiva para o Brasil como “negativa”. Perdas Bilionárias A piora na nota impõe perdas bilionárias ao governo, que é obrigado a pagar prêmios maiores aos investidores que aceitarem assumir o risco de ter em mãos esses papéis de dívida. Quanto maior o risco de calote, mais caro um país precisa pagar para poder recorrer ao mercado financeiro. O pior dos cenários, dizem especialistas, é que esse movimento de piora na avaliação da nota de crédito seja acompanhado pelas demais empresas da área, desencadeando um efeito em cascata de pessimismo com o Brasil em todo o mundo. O economista Antonio Madeira, da consultoria LCA, cita a elevação da dívida bruta como o principal motivo para as críticas que rondam o País. Para ele, as injeções de dinheiro do Tesouro nas instituições financeiras públicas constituem em um risco real de o Brasil perder hoje escasso crédito que tem perante o resto do mundo. “Se o governo continuar injetando dinheiro nos bancos públicos, como temos visto, isso pode levar a um rebaixamento do rating”, diz Madeira. Ele lembra que o Brasil está acima do grau especulativo em duas notas. “É possível, no entanto, que possamos perder uma dessas notas, o que seria muito ruim para o País”, pondera.



Fonte: JC

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