Gostemos ou não do que foi dito, é preciso reconhecer que The
Economist acerta ao apontar a falta de um entendimento adequado entre o setor
privado e o governo.
Passou
meio “batida” em nossa mídia uma das notícias mais interessantes dos últimos
tempos na economia mundial: a iniciativa revolucionária do (novo) governo
chinês de criar na região de Xangai uma zona de livre-comércio. Ali garantirá
às empresas o uso da liberdade plena dos instrumentos capitalistas nas formas
que julgarem mais adequadas e lucrativas. Uma experiência fenomenal de
competição, em que a moeda, o yuan, será conversível dentro dessa zona, a taxa
de juros será livremente estabelecida no mercado, não haverá licença de
importação ou controle de exportações, cada qual correndo seus riscos em uma
sociedade fechada do ponto de vista político. A China consegue calibrar melhor
a política econômica em meio à crise mundial e aparentemente sustenta uma
estratégia de expansão, sem se deixar dominar pelo pessimismo estéril. Nos
Estados Unidos a recuperação da economia ainda é lenta e sofre com os
sobressaltos produzidos pela má gestão (melhor seria, indigestão) da política
fiscal e com a quase suicida exacerbação ideológica em face de qualquer
tentativa de inclusão social. Os países da Eurozona apenas iniciam uma fraca
reação, lutam para se livrar do abismo do desemprego e sair do processo
recessivo, enquanto na Ásia o Japão se reequilibra com o sucesso inicial da
Abenomics. O exemplo de recuperação da China devia ser objeto de meditação,
pelo fato de multiplicar iniciativas para usar os instrumentos de mercado de
forma adequada à sua estratégia de crescimento. No Brasil, o pessimismo em
queda no noticiário econômico voltou a ser alimentado com a reprodução de
reportagem da Economist, que aponta uma perda de dinamismo da economia
brasileira. Em 2009, ela tinha exagerado um pouco ao publicar um importante
artigo de capa que ajudou a aumentar o nosso prestígio externo, e deu a
impressão de que a economia estava em processo de expansão capaz de repetir
alguns dos momentos mais significativos da história do desenvolvimento
brasileiro. Hoje ela levanta dúvidas sobre a continuidade desse processo, com
alguns exageros. Nos dois casos exagerou, mas não inventou nada. Ora, gostemos
ou não, a Economist é a revista econômica semanal mais lida em cento e tantos
países do mundo. Foi criada em 1843: são 170 anos que lhe permitem uma
arrogância permanente, mas sem lhe tirar a credibilidade. Cometeu erros, passou
por dificuldades financeiras e continua o que sempre foi, com o humor e a
ironia britânicos, de forma que tem de ser vista como é. E não adianta ficar
triste, mas sim prestar atenção ao que é dito. Em certa medida, reflete um
pouco o que estamos vendo aqui dentro: um sentimento pessimista muito maior do
que a realidade. Uma reportagem como essa, de 14 páginas, produz um efeito
devastador na disposição dos empresários estrangeiros que não têm ligações com
o Brasil e por isso não podem separar o exagero da ironia ou fruto do humor. O
que me pareceu correto no texto foi a abordagem sobre a filosofia (mais do que
a natureza) da política econômica que estamos adotando: ela enxerga uma
situação em que não se consegue o entendimento adequado entre o governo e o
setor privado, o que prejudica muito o desenvolvimento. Na mesma semana em que
a Economist publicou a matéria sobre o Brasil, a presidenta Dilma Rousseff
participava em Nova York de um seminário sobre o desenvolvimento de nossa
economia para convidados da Rede Bandeirantes e falava exatamente das
diretrizes de política de seu governo e das oportunidades do vasto programa de
obras de infraestrutura. No evento, disse aos eventuais investidores: “Eu
coloco a estabilidade fiscal como a prioridade número 1 de nossa política
econômica”. E mais: “Reconheço que nós precisamos do setor privado não porque
ele trará dinheiro para obras de infraestrutura, mas porque sabemos que ele é
mais eficiente e pode construir com muito mais rapidez do que o setor público”
Fonte: Carta Capital
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