Com situação fiscal
delicada, inflação e juros em alta e risco de racionamento de água e luz,
dificilmente PIB vai reagir neste ano.
Marcado por várias turbulências, o primeiro
mês do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff foi um “aperitivo” do que
pode ser esperado ao longo de 2015. Uma dramática situação fiscal, que eleva a
dívida pública, inflação e taxa de juros em alta, risco de racionamento de
energia e água e baixo ritmo de crescimento econômico. Embora o termo
“recessão” esteja proibido no Palácio do Planalto, a nova equipe econômica tem
consciência de que, diante da variedade de problemas, dificilmente o PIB vai
reagir neste ano. O Estado apurou que, além do expressivo corte de despesas do
Orçamento, que incluirá os gastos com investimentos federais, o governo
continua a avaliar aumentos de impostos. Outra saída em estudo, mas ainda
embrionária, é reduzir a meta fiscal de 2015 - que ficou mais distante depois
do buraco de R$ 32,5 bilhões aberto em 2014. O ano passado terminou com o
primeiro déficit fiscal das séries históricas do Tesouro Nacional e do Banco
Central. O rombo primário de R$ 32,5 bilhões no setor público consolidado
(União, Estados e municípios) fez a dívida bruta chegar a 63,4% do Produto Interno
Bruto (PIB) - um salto de 6,7 pontos porcentuais, como proporção do PIB, em
apenas 12 meses. Isso elevou o déficit nominal a níveis estratosféricos: 6,3%
do PIB, o maior nível da história. Além disso, o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA), o principal indicador de inflação do País, deve ter registrado
uma alta de 1,1% no mês passado, segundo estimativa interna do Ministério da
Fazenda. Se confirmado, será o pior mês de janeiro, de uma perspectiva
inflacionária, em 12 anos. Com mais inflação, a renda disponível para o consumo
das famílias é menor. “Perto dos desafios de hoje, a missão ingrata que tivemos
em 2003 é fichinha”, disse o economista Alexandre Schwarstman, diretor do BC
entre 2003 e 2006. “Os números fiscais são horrorosos e vão exigir foco total
ao longo de todo o ano e também de 2016 e 2017. As medidas tomadas vão no
caminho certo, mas todos continuam céticos: será que o governo terá pulso firme
durante todo o tempo necessário?”, disse Schwartsman. Sinais positivos. Como a
nova equipe econômica sinalizou que a situação deve “piorar antes de melhorar”,
o mercado tem percebido sinais positivos em decorrência dos ajustes que já
começaram a ser feitos nas contas públicas. Além da queda dos juros de longo
prazo, negociados diariamente pelo mercado financeiro, o economista-chefe da MB
Associados, Sergio Vale, aponta que a confiança na indústria começou a
apresentar melhoras desde novembro do ano passado. “Em parte é um ‘efeito
Joaquim Levy’. Além disso, certamente o real estaria ainda mais desvalorizado
hoje não fossem as medidas de busca da credibilidade perdida na área fiscal”,
disse Vale. Os economistas consultados pelo Estado avaliam que o PIB deve
registrar uma retração neste ano. A tão negada “recessão”, portanto, parece irreversível.
“O PIB deve ter crescido 0,1% em 2014. Como alguém pode imaginar que, com todo
o aperto fiscal e monetário conduzido pelo governo, e o risco real de
racionamento, ele poderá ser melhor em 2015? Qualquer coisa pior, portanto, já
indica recessão. É até meio óbvio”, disse Schwartsman. Ex-presidente da Sabesp,
o economista Gesner Oliveira, da consultoria GO Associados, calculou os efeitos
de um eventual racionamento sobre o crescimento econômico. No melhor cenário, a
economia ainda conseguiria crescer 0,5%. Mas, dependendo do número de dias
úteis afetados pelo racionamento, o desempenho piora. No quadro mais
pessimista, a projeção chega a uma queda de 3,5%.
Fonte:
O Estadão
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