Saída de dinheiro
vai superar entrada pela 1ª vez desde 1988, diz instituto internacional.
Em meio ao fraco crescimento econômico em
muitos países emergentes e à previsão de elevação nas taxas de juros nos
Estados Unidos, o fluxo de capitais para esses mercados ficará negativo neste
ano pela primeira vez desde 1988, anunciou nesta quinta-feira o Instituto de
Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês). A saída de dinheiro vai
superar a entrada em mais de US$ 500 bilhões. O Brasil, junto com a Turquia,
está entre os países mais ameaçados. O IIF reúne entidades financeiras globais
(bancos, fundos privados, bancos centrais, seguradoras e fundos soberanos). O
documento prevê uma entrada de capitais total de US$ 548 bilhões este ano
frente a US$ 1,074 trilhão no ano passado. Esse montante é equivalente a apenas
2% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países em desenvolvimento e fica abaixo
dos quase 8% registrados em 2007. Segundo o IIF, enquanto a entrada de capitais
em mercados emergentes registra diminuição, a saída de dinheiro de cidadãos
locais cresce e deve chegar a US$ 1,089 trilhão este ano. Isso eleva a pressão
de baixa nas reservas em moeda estrangeira, assim como sobre as taxas de câmbio
e os preços de ativos nesses países. Assim, o fluxo de capitais ficaria
negativo este ano em US$ 541 bilhões, recuperando-se de forma modesta no ano
que vem, com um resultado de US$ 306 bilhões, segundo cálculos do IIF. O
instituto considera que, diferentemente do que aconteceu na crise de 2008, a
retirada de dinheiro dos mercados emergentes deve-se principalmente a fatores
internos, refletindo uma desaceleração sustentada no crescimento dos mercados
emergentes, o que piorou com as incertezas em relação à economia da China e
suas políticas. A previsão de novas desvalorizações do yuan chinês é outra
fonte de risco.
BRASIL
O relatório do IIF se baseia em dados de 30
economias emergentes. E o Brasil, juntamente com a Turquia, é citado como um
dos mais correm risco nesse cenário, por acumular grandes déficits em conta
corrente, grandes passivos em moeda estrangeira e incertezas políticas. O IIF
também observou que a desvalorização da moeda em vários países, como Brasil,
Ucrânia e Colômbia, já ultrapassou o limiar de 25%, usado para identificar uma
crise externa. E isso eleva as preocupações em relação às empresas que tomaram dinheiro
emprestado no exterior devido às baixas taxas de juros que passaram a vigorar a
partir de 2008 e 2009 em consequência da crise global. A dívida corporativa não
financeira dos países emergentes está em US$ 27 trilhões, tendo subido o
equivalente a 30% do PIB nos últimos cinco anos, segundo Hung Tran, diretor
executivo do IIF. E agora há ainda o risco adicional do iminente aumento dos
juros americanos. — Toda a pesquisa mostra que a velocidade de constituição da
dívida desempenha um papel fundamental na qualidade da dívida e da
probabilidade de uma crise — afirmou Tran. O diretor executivo do IIF prevê, no
entanto, que a desaceleração do crescimento prolongado é um cenário mais
provável do que um colapso súbito porque os balanços dos países estão
relativamente mais fortes hoje do que em crises anteriores. Na terça-feira, o
Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que e acordo o endividamento das
empresas de mercados emergentes quadruplicou na última década, o que eleva a
vulnerabilidade do setor corporativo diante da perspectiva de aumento dos juros
americanos, da maior aversão a risco pelos investidores e da alta do dólar. O
salto na dívida das companhias brasileiras foi o quarto maior entre os 20
países em desenvolvimento analisados pela equipe do organismo multilateral. Entre
2004 e 2014, o endividamento corporativo no mundo emergente subiu de US$ 4
trilhões para US$ 18 trilhões, segundo o Fundo. Na comparação com o PIB, a
fatia da dívida subiu de cerca de 47% para a casa de 73%, puxado principalmente
pelos setores de construção civil, petróleo e gás e mineração.
Fonte:
O Globo
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