Analistas erraram demais

Qualquer investidor que tenha seguido as orientações dos analistas de Wall Street em março registrou apenas prejuízos depois da alta da bolsa norte-americana nos meses seguintes, a maior das últimas sete décadas.Citigroup, Bank of America e mais de 12 outras empresas aconselharam os clientes a comprar ações de empresas europeias de produtos energéticos e de laboratórios farmacêuticos norte-americanos e a vender papéis de bancos e de varejistas, segundo dados reunidos pela Bloomberg News. Um investidor que tenha usado US$ 10 mil na compra de ações de empresas dos setores mais bem classificados nesses rankings e apostado na queda dos de menor avaliação desde o início do avanço da bolsa dos EUA, a 9 de março, teria perdido tudo e ainda estaria devendo US$ 6 mil para cobrir transações baixistas no mercado de opções, segundo revelam os dados.As recomendações não se mostraram corretas porque as empresas com os piores lucros encabeçaram a alta de 45% registrada pelo índice Standard & Poor"s 500 desde sua queda para o menor patamar de 12 anos, ocorrida cinco meses atrás. Os bancos de investimentos e corretoras que não conseguiram prever que os papéis mais duramente prejudicados no ano passado seriam os de recuperação mais rápida orientaram os aplicadores para papéis de laboratórios farmacêuticos e de empresas de produtos energéticos, cujo desempenho foi 22 pontos percentuais inferior ao do Índice MSCI Mundial."Os analistas se aferram aos fundamentos econômicos", disse Romain Boscher, diretor de transações da Groupama Asset Management, de Paris. "Esta é uma alta de sentimento. Os analistas estavam na defensiva. Houve um ponto de inflexão e eles não viram."Duncan Smith, porta-voz do Citigroup, preferiu não comentar, no que foi seguido por Susan McCabe Walley, do Bank of America.Quase todas as empresas que cobriam American Express aconselharam os investidores, em março, a se desvencilhar das ações da empresa de cartões, devido ao receio de que a queda do crédito ao consumidor obrigaria a empresa a cortar os dividendos. O Citigroup recomendou que o investidor comprasse papéis da Visa, vendendo a descoberto posições em American Express, em relatório de 11 de março. Os investidores que fizeram isso até o Citigroup elevar a classificação das ações da Amex, um mês depois, tiveram um prejuízo de 12%.Os retornos das ações não estiveram ligados aos lucros durante a alta de cinco meses registrada pelas ações mundiais. As empresas do S&P 500 que registraram queda dos lucros no segundo trimestre subiram 8,4%, em média, nos últimos 30 dias, comparativamente à alta de 7,2% obtida pelas empresas que tiveram expansão dos lucros, segundo mostram dados reunidos pela Bloomberg News."Foi um lixo que se deu bem", desdenha Andrew Lapthorne, diretor de Estratégia Quantitativa do Société Générale. "A maioria dos analistas tem dificuldades de recomendar ações que são lixo."Em março, mais de 50% das classificações das empresas europeias e norte-americanas de produtos energéticos foram de "comprar", já que os analistas projetavam que o crescimento das economias dos mercados emergentes impulsionaria os lucros. Um indicador das empresas de prospecção petrolífera, de construção de oleodutos e de companhias de exploração de petróleo constantes do Índice MSCI Europa, no entanto, subiu apenas 17% desde 9 de março.Os analistas também estavam otimistas com relação às centrais elétricas europeias constantes do S&P 500. Para esse grupo, a recomendação "comprar" respondeu pela maioria das orientações. As empresas de energia elétrica registraram o único aumento dos lucros do primeiro trimestre entre os 10 principais setores do MSCI Europa. Nos últimos cinco meses, o setor avançou 28%. O Índice MSCI Mundial teve alta de 50%.A crise financeira, a maior desde a década de 1930, aliada a prejuízos com crédito de mais de US$ 1,5 trilhão no mundo inteiro, levaram os analistas a recomendar "vender" em março para 28% das instituições financeiras europeias avaliadas, segundo a Bloomberg. O percentual foi de 14% para os bancos norte-americanos. Tanto os índices de bancos do S&P 500 quanto os do MSCI Europa mais do que duplicaram desde que a alta começou.Os bancos de investimento não perceberam que as ações dos bancos e de commodities já tinham refletido as perdas da recessão, segundo estudo do estrategista-chefe de ações norte-americanas do Citigroup, Tobias Levkovich, a 7 de agosto. "Não perceberam o momento da inflexão".
Fonte:Bloomberg News

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