Governo propõe
adiamento do reajuste dos servidores públicos para agosto. Objetivo é conseguir
superávit primário de 0,7% do PIB no ano que vem.
Após um final de semana de muitas reuniões
entre a presidente Dilma Rousseff e vários de seus ministros, o governo federal
anunciou nesta segunda-feira (14) um bloqueio adicional de gastos no orçamento
de 2016 no valor de R$ 26 bilhões. Além disso, o governo também anunciou uma
nova rodada de alta de tributos, com a proposta de retorno da CPMF. A CPMF,
segundo os cálculos divulgados pelo governo, vai ser responsável por metade do
ajuste nas contas públicas anunciado nesta segunda-feira para o ano de 2016, que
é de R$ 64,9 bilhões. "O objetivo é que a CPMF não dure mais do que quatro
anos", disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Também foi anunciado que
haverá redução de ministérios e cargos de confiança, gerando uma redução de
gastos de R$ 200 milhões. Esses cortes, no entanto, não foram detalhados. As
medidas, que foram anunciadas por Levy e pelo ministro do Planejamento, Nelson
Barbosa, representam recuo em relação à posição adotada anteriormente. Na
semana retrasada, Dilma havia dito que o governo cortou "tudo o que
poderia ser cortado". "Muitas das medidas exigirão apoio do Congresso
para se tornarem efetivas, e a confiança dos brasileiros. Foi sugerido que se
procurasse dialogar mais com a sociedade para que tivesse pleno entendimento
sobre a necessidade desse esforço adicional. Nestas últimas semanas, ficou
absolutamente evidente para todos a necessidade desse ajuste. Temos os próximos
meses para converter em realidade essas medidas, principalmente por meio da
votação de projetos de lei e PECs", declarou o ministro da Fazenda, Joaquim
Levy. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, informou que deve haver uma
reunião com as lideranças da base governista, na Câmara e no Senado Federal, e
também com os presidentes de ambas as casas, para viabilizar as medidas
propostas. O ministro da Fazenda informou ainda que, ao atualizar os parâmetros
do orçamento do ano que vem, baixando a previsão do nível de atividade, foi
estimada uma perda de R$ 5,5 bilhões em arrecadação em 2016. O orçamento do ano
que vem trazia uma previsão de queda do PIB de 2015 de 1,8% e um aumento de
0,2% no próximo ano. Na semana passada, entretanto, o mercado financeiro previu
uma contração do PIB de 2,55% neste ano e de 0,6% em 2016. Queda maior do PIB
representa menos recursos no caixa do governo.
Volta
da CPMF
O governo informou que vai propor o retorno
da CPMF, com alíquota de 0,2%, inferior, portanto, aos 0,38% que vigoravam antes.
Também informou que vai reduzir o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF).
Com isso, espera conseguir R$ 32 bilhões em 2016. "Essa é uma medida
bastante central no esforço. Foi considerada que, diante de todas as
alternativas de tributos, a prorrogação da vigência da lei original da CPMF
seria um caminho que traria menor distorção à economia, seria o caminho com
menor impacto inflacionário, seria melhor distribuído. Incide de maneira
equitativa em todos os setores. E, na verdade, se a gente for pensar, tratam-se
de dois milésimos do que [a pessoa] vai comprar. Você teria, por exemplo, dois
milésimos de uma entrada de cinema que você comprar para diminuir o déficit da
Previdência Social", declarou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “CPMF
para quê? Para garantir o pagamento das aposentadorias e para diminuir o
déficit da Previdência Social”, declarou Levy. Segundo ele, a prorrogação
proposta será por 48 meses. “É uma contribuição de prazo determinado, com
objetivo determinado, que é pagar as aposentadorias. Dar tranquilidade à
Previdência Social”, disse Levy. Ele acrescentou que a CPMF seria
"provisória", durando não mais que quatro anos. "Procuramos por
essa alíquota no mínimo necessário para a segurança fiscal. Conhecemos essa
medida. Essa contribuição é que os bancos estão preparados em implementar. É
relativamente rápida, tem grande transparência. Alcança o informal. Depois de
ouvir muitos empresários, essa seria a forma mais eficaz de proteger a
Previdência Social em um momento em que a economia enfrenta dificuldades, que
tem se agravado, com essa questão do grau de investimento", disse o
ministro da Fazenda. Barbosa explicou que, pela proposta do governo, toda a
arrecadação da CPMF ficaria com o governo, não sendo dividida, portanto, com
estados e municípios.
Mais
tributos
O governo informou ainda que diminuirá o
benefício a ser concedido no próximo ano para os exportadores de produtos
manufaturados. A alíquota do Reintegra, programa que "devolve" aos
empresários uma parte do valor exportado em produtos manufaturados por meio de
créditos do PIS e Cofins, que seria de 1% em 2016, será de apenas 0,1%. O
benefício, portanto, foi praticamente eliminado no ano que vem. Com isso, o governo
vai arrecadar R$ 2 bilhões a mais. Também cairá o benefício dado à indústria
química (por meio do PIS/Cofins), que renderá mais R$ 800 milhões ao governo. O
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou ajustes nos juros sobre capital
próprio, limitando a incidência da TJLP a 5% do efeito do cálculo, e aumento da
alíquota de 15% para 18%. Essa medida renderá mais R$ 1,1 bilhão aos cofres
públicos.
Imposto
sobre ganho de capital
O ministro anunciou ainda a criação de um
imposto sobre “ganho de capital progressivo”, que será cobrado sobre aumentos
de receita das pessoas físicas. Esse tributo vai afetar, por exemplo, os
recursos gerados com a venda de um imóvel. Atualmente, há uma cobrança de 15%
sobre o valor da venda da propriedade. Agora, o percentual será maior, conforme
o volume de recursos gerados com a operação. O impacto estimado com o tributo é
de R$ 1,8 bilhão. O novo imposto terá as seguintes alíquotas: Para venda de até
R$ 1 milhão será de 15% De R$ 1 milhão a R$ 5 milhões, será de 20% De R$ 5
milhões a R$ 20 milhões, será de 25% Mais de R$ 20 milhões, será de 30% “Como é
um imposto novo isso leva uma mudança de hábitos. É difícil estimar as
receitas. É um ganho de quando você aliena um bem. Hoje você paga 15%. Agora,
quando houver vendas cumulativas acima de R$ 1 milhão, você pagará uma alíquota
maior”, disse.
Sistema
S
O ministro da Fazenda informou que vai
“compartilhar temporariamente” com os órgãos do sistema S os estímulos hoje
concedidos para empresas que investem em inovação. A expectativa é gerar um
impacto positivo de R$ 2 bilhões. “Hoje já temos alguns programas de
valorização da inovação. Temos lá de trás a chamada lei do MEI, que permitia
que várias despesas pudessem ser abatidas em dobro do custo do lucro tributado.
Era um estímulo. No caso, estamos compartilhando esse estímulo pelos órgãos do
sistema S, temporariamente”, disse. Além disso, Joaquim Levy informou que
haverá redução de 30% nas alíquotas do sistema S e do Sebrae e, também,
oneração da tributação da contribuição previdenciária incidente sobre a folha –
o que renderá mais R$ 6 bilhões aos cofres públicos em 2016. Na prática, esses
recursos deixarão de ir para o Sistema S e passarão a ser direcionados para a
Previdência Social.
Reajuste
de servidores e suspensão de concursos
Entre as medidas anunciadas, do lado do
bloqueio de gastos, está o adiamento do reajuste do salário dos servidores
públicos até agosto do ano que vem. Sem essa medida, os salários seriam
corrigidos em janeiro de 2016. Com essa medida, o governo espera um impacto de
R$ 7 bilhões a menos nos gastos públicos. Além disso, também haverá suspensão
de concursos públicos, que estavam estimados em R$ 1,5 bilhão em gastos em
2016. "Estamos vendo aumento do desemprego no setor privado e reajustes de
salários sem contemplar inflação. Nesse momento, é plenamente justificável
[adiar reajuste para 2016]. A média de salários [no setor público] é superior
ao setor privado. E [os servidores públicos] têm estabilidade no emprego. Nesse
momento de travessia fiscal, nesse esforço para elevar o superávit primário,
todos estão fazendo sua parte. Achamos adequado adiar proposta de reajuste para
2016 de janeiro para agosto", declarou o ministro do Planejamento, Nelson
Barbosa.
Corte
de ministérios e despesas administrativas
O governo anunciou ainda uma redução de R$ 2
bilhões em despesas discricionárias com DAS (cargos comissionados) e gastos
administrativos. Dentro da redução de gastos administrativos, o governo prevê a
economia de R$ 200 milhões com corte de ministérios e cargos de confiança. e
outros R$ 200 milhões em gastos com servidores (diárias, passagens, auxílio
moradia e telefone). Outros R$ 1,6 bilhão estão previsto em renegociação de
contratos, como aluguel, manutenção, segurança e veículos.
Teto
salarial
O governo pretende ainda enviar ao Congresso
projeto de lei para garantir o cumprimento do teto salarial a todos os agentes
públicos e servidores. Atualmente, a legislação já diz que a remuneração no
setor público não pode ultrapassar o salário de ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF), mas alguns benefícios e complementações salariais acabam por
aumentar o valor.
Segundo Barbosa, o projeto de lei imporia
limites a situações que hoje geram salário superior ao teto. “Vamos enviar um
projeto de lei que vai disciplinar a metodologia de cálculo e o que entra ou
não no teto de remuneração e ao mesmo tempo estabelecer um sistema de
cruzamento de dados”.
Abono
permanência
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa,
anunciou que vai eliminar o chamado abono de permanência, que um benefício
remuneratório pago a servidores que já atingiram a idade para se aposentar, mas
que permanecem na função. A extinção do benefício tem que ser feita por
proposta de emenda à Constituição. “Vamos eliminar o abono de permanência. A
previsão é que mais 123 mil servidores adquirirão nos próximos anos. No próximo
ano, os gastos com o abono serão de R$ 1,2 bilhão de reais”, disse o ministro.
Minha
Casa, Minha Vida, PAC e Saúde
O ministro do Planejamento anunciou que o
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vai sofrer corte no trecho que
trata do Minha Casa, Minha Vida, em R$ 4,8 bilhões. “Para que isso não
comprometa a execução do programa a nossa proposta é que o FGTS direcione
recursos para pagamento de parte das despesas do Minha Casa, Minha Vida, na
faixa 1, que hoje não recebe recursos do FGTS”, disse Barbosa. Segundo ele,
também está prevista uma renegociação de contratos de aluguel, manutenção e
segurança, entre outros, para economizar mais R$ 1,6 bilhão no ano que vem. Outra
medida anunciada é a redução de gastos em R$ 3,8 bilhões do Programa de
Aceleração do Crescimento (sem Minha Casa Minha Vida) e de mais R$ 3,8 bilhões
em gastos com Saúde (a serem recompostos posteriormente com emendas
parlamentares).
Objetivo
das medidas anunciadas
O objetivo do novo bloqueio de gastos é
tentar reequilibrar a peça orçamentária do ano que vem, que foi enviada ao
Congresso Nacional, pela primeira vez, com déficit (despesas maiores do que
receitas) e evitar novo rebaixamento da nota brasileira pelas agências de classificação
de risco. Na semana passada, o Brasil perdeu o grau de investimento da Standard
& Poors.
Meta
fiscal
Para aumentar a confiança no Brasil, o
governo já informou que buscará, ao invés de uma meta de déficit fiscal de R$
30,5 bilhões para o governo (0,5% do PIB) ou de R$ 21,1 bilhões para todo o
setor público (governo, estados, municípios e estatais), ou 0,34% do PIB -
conforme está no orçamento de 2016 - um superávit primário, a economia para
pagar juros da dívida pública, de 0,7% do PIB no ano que vem. A retomada de uma
meta superavitária para o próximo ano, da ordem de 0,7% do PIB, acontece após
disputas internas entre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que defende um
resultado positivo para as contas públicas em 2016, e o titular do Ministério
do Planejamento, Nelson Barbosa - que buscava, com um déficit, uma meta mais
"realista".
Resultados
fiscais
No ano passado, as contas de todo o setor
público (governo, estados, municípios e empresas estatais) registraram o
primeiro déficit primário (receitas menos despesas, sem contar juros) anual da
história. Em 2014, o déficit primário foi de R$ 32,53 bilhões, ou 0,63% do PIB.
Em 2015, apesar dos vários aumentos de tributos e bloqueio de gastos públicos,
as contas públicas continuaram a registrar deterioração. De janeiro a julho,
foi contabilizado o pior resultado da série histórica, que começa em 2001, para
este período. Em 12 meses até julho, houve um déficit primário de R$ 50,99
bilhões, ou 0,89% do PIB, também o pior resultado da série histórica para este
indicador. Quando se incorporam os juros da dívida pública na conta, no
conceito conhecido no mercado como resultado "nominal", houve déficit
de R$ 502 bilhões em 12 meses até julho, o equivalente a expressivos 8,81% do
PIB. Trata-se, também, do pior resultado da história. O déficit nominal foi
impulsionado pelos gastos do Banco Central com os contratos de "swap
cambial" - que já superam R$ 90 bilhões em 2015. Se fechar neste patamar
em 2015, o resultado nominal do Brasil só estaria em melhor situação da de
países como Bahrein (déficit de 9,8% do PIB), Antigua (-10,5% do PIB), Algéria
(-12,5% do PIB), Brunei (-15,6% do PIB), República do Djibuti (-13% do PIB), Egito
(-11,7% do PIB), Guinea Equatorial (-21,4% do PIB), Eritreia (-12,18% do PIB),
Guiné (-10,1% do PIB), Iraque (-9,9% do PIB), Líbia (-68% do PIB) e Venezuela
(-19,9% do PIB), de acordo com projeções do Fundo Monetário Internacional.
Fonte:
G1