BEM MAIS SIMPLES BRASIL - Governo lança programa que reduz burocracia para abrir empresa.


O governo lançou nesta quinta-feira o programa Bem Mais Simples Brasil, uma nova etapa do programa Simples, que reduz a burocracia para pequenas e médias empresas. Nesta nova versão o governo promete que a papelada para abrir empresas será reduzida e o tempo necessário para começar o negócio diminuído para apenas cinco dias. Segundo a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, atualmente são necessários 83 dias para abrir uma firma. A presidente Dilma disse em seu discurso que o programa dá benefícios ao cidadão sem reduzir a arrecadação, que para o governo é importante. — Temos que considerar que o cidadão é em princípio honesto. Para nós o cidadão brasileiro é honesto, trabalhador e não desiste nunca. Temos que tornar o Estado brasileiro um peso muito menor que é hoje para o cidadão e empresas – disse a presidente. A desburocratização dos serviços públicos foi uma das promessas de campanha eleitoral de Dilma Rousseff. O Bem Mais Simples vai unificar o cadastro de identificação do cidadão e centralizar em um só posto os serviços públicos que empreendedores preciso acessar para tocar seus negócios. As novas regras preveem a dispensa de certidões e débitos tributários, previdenciários e trabalhistas para as operações de baixa dos CNPJs das empresas. Com isso o governo espera facilitar o processo de fechamento das empresas.
FECHAMENTO DE EMPRESAS TAMBÉM SERÁ FACILITADO, AFIRMA MINISTRO
Ao apresentar o Bem Mais Simples, o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, pediu que o programa seja comandado pela presidente Dilma Rousseff porque, segundo ele, será preciso ter vontade política para implementar a medida, o que exigirá participação conjunta de vários órgãos públicos. Ao se dirigir à presidente, o ministro disse que ainda falta uma etapa do programa, o Crescer Sem Medo, que vai criar condições para que as pequenas empresas cresçam sem serem sacrificadas pela carga tributária. De acordo com o ministro, as empresas que saem do Simples para o lucro presumido tem um aumento de tributos da ordem de 54%. — Precisa ter priorização e vontade política. Esse programa tem que ser comandado pela senhora. É uma questão de voz de comando — destacou o ministro. Ele explicou que o programa tem eixos: empresa, governo e cidadão. Contará com um portal de unificação dos serviços públicos, com simplificação e uniformização da linguagem. O objetivo é que todas as informações do cidadão sejam concentradas um único órgão para facilitar a abertura e o fechamento de empresas, sem a exigência de apresentação repetida de documentos. Guilherme Afif assegurou que o programa Bem Mais Simples vai permitir o fechamento automático das empresas, em qualquer localidade do país. Não será mais exigida a certidão negativa, bastando apenas o pagamento de uma taxa, que custa em torno de R$ 50,00. A medida será possível com a construção de um sistema entre Receita Federal e Juntas Comerciais. A principal vantagem, segundo o ministro, é o fim do aumento de custo. Ele explicou que empresas inativas precisam publicar balanços anuais, o que envolve despesas com contadores e advogados. — Quando uma empresa permanece aberta, os custos começam a acumular. Esse é o desespero dos débitos que vão se acumulando — disse o ministro. No processo de baixa da empresa, os interessados precisam preencher um cadastro com os nomes dos sócios e a localização dos livros de contabilidade para uma eventual fiscalização. O ministro destacou que o fechamento automático não elimina dívidas deixadas pelos sócios e que o Código Nacional de Tributação não sofreu qualquer alteração. A próxima meta do programa será facilitar a abertura de empresas, cronograma previsto para junho. Nesse prazo, as diversos órgãos públicos vão trabalhar na unificação de portais e construção de um cadastro único, podendo utilizar, por exemplo, a biometria, processo de identificação já adotado pela justiça eleitoral. Apesar da necessidade de ajuste fiscal das contas públicas, o ministro disse que o governo não está preocupado com o impacto da ampliação das faixas do simples e que a medida será anunciada em breve. Com a proposta, o limite de faturamento das empresas beneficiadas vai subir de R$ 3,6 milhões para R$ 7,2 milhões e as 20 faixas existentes serão agrupadas em seis.





Fonte: O Globo

PERÍCIA JUDICIAL - AVISO 129/2012


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
EXPEDIENTE DO DIA 05 DE FEVEREIRO DE 2014
ATOS E DESPACHOS DA PRESIDENTE
DESEMBARGADORA LEILA MARIANO
BOLETIM Nº 25
id: 1789180
Processo: 2013-139.299
DECISÃO

Versam os presentes autos acerca de solicitação da Associação dos Peritos Oficiais do Estado do Rio de Janeiro no sentido que seja revogado o AVISO 129/2012 da Presidência do Tribunal de Justiça, a fim de que possam os peritos oficiais atuar na realização das perícias judiciais.
Instada a se manifestar, o fez a DIJUR às fls. 133/135, juntando aos autos cópia do processo administrativo 2011-231.827.
Em que pese a existência de interpretações contrárias, entende esta Administração que não há qualquer óbice a realização de perícias judiciais pelos senhores peritos oficiais do Estado do Rio de Janeiro, que sempre prestaram valoroso trabalho junto ao
TJERJ.
Cediço que foi decidido pelo E. Conselho Nacional de Justiça (Consulta nº 0002581-95.2012.2.00.0000) a impossibilidade de acumulação de cargo público e a função de Perito Judicial.
Uma análise detida do caso concreto revela que a Consulta 0002581-95.2012.2.00.0000 não guarda similitude com a hipótese ora em comento. A uma por não serem os requerentes servidores da própria estrutura do Poder Judiciário, não havendo qualquer risco de acesso a informações privilegiadas, como pontuado pelo Conselho; a duas, por não haver acumulação de cargos públicos ou acumulação de remunerações pagas pelos cofres públicos. Há o pagamento de ajuda de custo que é paga com verba do Fundo
Especial do Tribunal de Justiça e possui caráter meramente indenizatório.
Para melhor compreender a hipótese concreta faz-se necessária breve digressão sobre a atividade do Perito Judicial.
Ernani Fidelis dos Santos elenca o Perito Judicial, dentre os Auxiliares da Justiça, definindo-os.
“Os meros auxiliares são os que atuam eventualmente nos processos, sem ocupar nenhum cargo da justiça. É o caso do perito, do depositário, do administrador e do intérprete.”
Da definição se extrai com clarividência que o Perito não exerce cargo ou função pública, não se aplicando a vedação inserta no art. 37 incisos XVI e XVII da Constituição da República.
Por seu turno, o Perito não é pago pelos cofres públicos, mas pelas partes como determina o art. 33 do Código de Processo Civil.
In verbis:
“Art. 33. Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo Juízo.”
O que há no Estado do rio de Janeiro é um sistema que ao Perito nomeado para atuar em processos sob o pálio da Gratuidade de Justiça, o pagamento de despesas mínimas para a execução do trabalho não constituindo verba vencimental.
Como bem salientou a ilustre Procuradora do Estado em seu parecer, cuja cópia se encontra às fls. 121/128 e de acordo com o entendimento jurisprudencial oriundo do Superior Tribunal de Justiça, é possível a nomeação de servidor público como perito judicial, desde que seja considerado imparcial para o exame da questão técnica a ele submetida.
Deve-se analisar, outrossim, se a Lei instituidora do estatuto da categoria a que pertence aquele servidor veda ou não a sua participação como perito judicial.
Não evidenciada qualquer proibição na Lei 3.586/2001 ou no Estatuto dos Servidores Públicos Civis – Dec. Lei 200/75, conclui-se pela compatibilidade.
Assim, se o ponto controvertido remanescente é o adiantamento ao perito judicial de ajuda de custo nos processos sob o pálio da Gratuidade de Justiça, solução simples e alternativa é excluir o apontado benefício aos servidores públicos.
De qualquer sorte, é exigível que o servidor ao ser nomeado perito do Juízo atente para o fato de que não poderá atuar em processo do interesse da Unidade da Federação a qual pertença, nem tampouco, valer-se de instrumentos e insumos de propriedade do ente público, devendo ainda compatibilizar sua atuação como perito com o rigoroso cumprimento da sua jornada de trabalho.
Pelo exposto, acolho a pretensão e determino a edição de AVISO dirigido aos Magistrados, Chefes de Serventia, Advogados, Defensores Públicos, membros do Ministério Público, partes e demais interessados, de que não há qualquer óbice ao exercício de perícias judiciais pelos senhores peritos oficiais do Estado do Rio de Janeiro, ficando estes, no entanto excluídos do pagamento relativo à ajuda de custo, revogando-se o AVISO nº 129/2012 da Presidência do Tribunal de Justiça, publicado no DJE de 04/10/2012.
Advertindo aos Senhores Peritos quanto a necessidade compatibilizar o exercício do múnus com o efetivo cumprimento de sua jornada de trabalho e, ainda, que há impedimento de atuação nos processos em que haja interesse da Unidade da Federação à que pertençam.
Dê-se ciência à DGJUR, DEINP e DIPEJ.
Rio de Janeiro, 03 de Faveiro de 2014.

Desembargadora LEILA MARIANO
Presidente do Tribunal de Justiça


AVISO TJ Nº 11/2014

A PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DESEMBARGADORA Leila Maria Carrilo Cavalcante Ribeiro Mariano, no uso de suas atribuições legais, AVISA aos Senhores Magistrados, Chefes de Serventia, Advogados, Defensores Públicos, membros do Ministério Público, partes e demais interessados, de que não há qualquer óbice ao exercício de perícias judiciais pelos senhores peritos oficiais do Estado do Rio de Janeiro, ficando estes, no entanto, excluídos do pagamento relativo à ajuda de custo concedida pelo TJERJ nos processos que tramitam sob o pálio da Gratuidade de Justiça.
Advirto aos Senhores Peritos que o exercício do múnus deverá ser compatibilizado com o efetivo cumprimento de sua jornada de trabalho e, ainda, que há impedimento de atuação nos processos em que haja interesse da Unidade da Federação à que pertençam.
Rio de Janeiro, 03 de Fevereiro de 2014.

Desembargadora LEILA MARIANO
Presidente do Tribunal de Justiça








Fonte: Diário de Justiça/TJRJ

Segurado do INSS pode desaposentar sem ter que devolver dinheiro.

Desaposentação ocorre quando o beneficiário renuncia à aposentadoria para requerer uma nova.

A aposentadoria é direito patrimonial e disponível, sendo, portanto, passível de renúncia, podendo o titular contar o tempo de contribuição efetuada à Previdência após a primeira aposentadoria para fins de obtenção de novo benefício da mesma espécie, sem que tenha que devolver o que auferiu a esse título. Com esse entendimento, a 2ª turma do TRF da 1ª região permitiu que um segurado do INSS cancelasse sua aposentadoria com vistas à obtenção de uma nova, mais vantajosa, não sendo necessária a devolução das importâncias percebidas em razão da primeira aposentadoria. "É possível obter-se aposentadoria mais favorável, utilizando-se de tempo de serviço posterior à jubilação, com novo cálculo da renda mensal inicial", afirmou o juiz Federal Márcio Barbosa Maia, relator convocado, lembrando que, desde agosto de 2011, o STJ tem decidido nesse mesmo sentido.

Segundo o ministro Sebastião Reis Júnior, relator do REsp 1.240.447, "estando cancelada a aposentadoria no regime geral, o segurado tem o direito de ver computado o tempo de contribuição em novo benefício. Outrossim, a renúncia ao benefício gera efeitos ex nunc(não retroativos), não envolvendo a obrigação de devolução das parcelas recebidas".
·         Processo: 0036685-67.2012.4.01.3800
Veja a íntegra da decisão.
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APELAÇÃO CÍVEL 0036685-67.2012.4.01.3800/MG
Processo na Origem: 366856720124013800
RELATOR: JUIZ FEDERAL MÁRCIO BARBOSA MAIA (CONV.)
APELANTE: OMAR CASSIMIRO DE AQUINO
ADVOGADO: LEANDRO JOSE FERREIRA
APELADO: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
PROCURADOR: ADRIANA MAIA VENTURINI
EMENTA
ADMINISTRATIVO. PREVIDENCIÁRIO. INOCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO. INEXISTÊNCIA. DESAPOSENTAÇÃO. POSSIBILIDADE. APELAÇÃO PROVIDA.
1. Não há decadência, por não se tratar de revisão de benefício previdenciário, mas sim de renúncia e cancelamento do benefício anteriormente concedido, com vistas à obtenção de nova aposentadoria.
2. A prescrição atinge apenas as parcelas anteriores ao quinquênio que precede o ajuizamento da ação, na forma da Súmula 85/STJ.
3. A aposentadoria é direito patrimonial e disponível, sendo, portanto, passível de renúncia, podendo o titular contar o tempo de contribuição efetuada à Previdência após a primeira aposentadoria para fins de obtenção de novo benefício da mesma espécie, sem que tenha que devolver o que auferiu a esse título. Precedentes desta Corte e do STJ.
4. As parcelas vencidas deverão ser compensadas com aquelas percebidas pela parte autora com a aposentadoria anterior desde a data de início do novo benefício e pagas acrescidas de correção monetária que incide sobre o débito previdenciário, a partir do vencimento de cada prestação, conforme Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal. devendo-se, contudo, aplicar-se o IPCA-E após a entrada em vigor da Lei 11960/2009, tendo em vista a imprestabilidade da TR - atualmente usada na remuneração das cadernetas de poupança - como índice de correção monetária de débitos judiciais, conforme assentado pelo STF no julgamento da ADI n. 493/DF. Os juros moratórios são devidos no percentual de 1% (hum por cento) do valor de cada parcela vencida incidindo esse taxa até a entrada em vigor da Lei n. 11960/2009, a partir de quando devem ser reduzidos para 0,5% (meio por cento) ao mês, tendo em vista que esses são os juros aplicados nas cadernetas de poupança-, até a apuração definitiva dos cálculos de liquidação.
5. Nas causas ajuizadas perante a Justiça Estadual, no exercício da jurisdição federal (§3º do art. 109 da CF/88), o INSS está isento das custas somente quando lei estadual específica prevê a isenção, o que ocorre nos estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Mato Grosso. Tratando-se de causas ajuizadas perante a Justiça Federal, o INSS está isento de custas por força do art. 4º, inc. I, da Lei n. 9.289/96, abrangendo, inclusive, as despesas com oficial de justiça.
6. Sobre o valor da condenação, correspondente às parcelas vencidas até o momento da prolação do acórdão, incidem honorários advocatícios à razão de 10%, de acordo com a Súmula 111, do Superior Tribunal de Justiça e artigo 20,§ 3º, do CPC.
7. Apelação a que se dá provimento.
ACÓRDÃO
Decide a Turma, por unanimidade, dar provimento à apelação, nos termos do voto do Relator.
Brasília, DF - de 27/11/2013.
Juiz Federal MÁRCIO BARBOSA MAIA
Relator Convocado






Fonte:Migalhas/STJ

Advogado não deve responder por autuação.


Em duas decisões recentes, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) considerou que advogados e contadores não devem ser responsabilizados solidariamente por autuações. Os profissionais foram incluídos nos autos porque os contribuintes alegaram que seguiram suas orientações. Ainda cabe recurso nos dois casos. Em uma das autuações, um hospital alegou que a compensação de crédito considerada indevida foi indicada pelo escritório Nelson Wilians e Advogados Associados. Com a afirmação, o sócio Nelson Wilians foi considerado devedor solidário da multa de 150% aplicada pela fiscalização. Em sua defesa, o advogado afirmou que o Fisco atribuiu a ele “sem nenhuma fundamentação legal” a condição de responsável tributário solidário. De acordo com Rodrigues, ele nem teve contato pessoal com a empresa ou seus dirigentes. O contrato, acrescentou, foi firmado e executado pela filial de Goiânia (GO). Ao analisar o caso, os conselheiros entenderam que o advogado não deveria ser responsabilizado pelas contribuições previdenciárias exigidas ou pela multa imposta, segundo o advogado e conselheiro Fabio Pallaretti Calcini, do Brasil Salomão & Matthes Advocacia, que participou do julgamento na 3ª Câmara da 2ª Turma Ordinária da 2ª Seção do Carf. “Seria necessário editar uma lei específica para responsabilizar os advogados. E, ainda assim, seria discutível”, disse. Os conselheiros seguiram o voto da relatora, Liege Lacroix Thomasi, que saiu vencida quanto à manutenção da multa imposta à empresa. Liege afirmou que seria muito cômodo para as empresas culparem seus empregados, prepostos ou prestadores de serviço por possíveis erros. “O fato exposto pela empresa que se sentiu lesada pelo profissional que contratou no que tange a ação judicial que visava a compensação de contribuições previdenciárias, deve ser levado à competente esfera judiciária, ou quiçá uma representação à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas não pode ser analisada por este colegiado”, disse em seu voto. A argumentação foi parecida com a apresentada por conselheiros em outro caso julgado pelo Carf, em que um contador era apontado como responsável solidário. A empresa foi autuada por omissão de receitas e argumentou que apenas seguiu a orientação do profissional. Nesses casos, os conselheiros da 3ª Câmara da 1ª Turma Ordinária da 1ª Seção consideraram que não seria possível imputar ao contador a responsabilidade pelos créditos tributários discutidos. O conselheiro Carlos Augusto de Andrade Jenier afirmou em seu voto que uma eventual responsabilização do profissional por prejuízos deveria ser questionada no campo das relações contratuais mantidas entre a empresa e o profissional. É o que defende Paulo Schnorr, conselheiro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). De acordo com Schnorr, normalmente, nos casos em que o profissional comete irregularidades repetidas vezes, a Receita Federal costuma denunciá-lo ao conselho regional ou federal. “Autuação direto da Receita contra o contador é muito rara”, disse. “Estão tentando responsabilizar os profissionais – contadores, auditores e advogados – que de alguma forma prestaram serviços para empresas que obtiveram benefícios não reconhecidos pela Receita Federal“, afirmou a advogada Mary Elbe Queiroz, do escritório Queiroz Advogados Associados, que elogiou as decisões do Carf. “Se permanecer esse tipo de interpretação [do Fisco] nenhum advogado ou contador vai poder prestar serviço dado o risco de ser responsabilizado pelo tributo.” Questionada sobre a responsabilidade solidária tributária de advogados e contadores, a Receita informou que “atua nos estritos limites da responsabilidade previstos no Código Tributário e no Código Penal, independente da atividade profissional”. A polêmica questão também será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A ação foi proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra uma lei do Estado do Mato Grosso que atribui ao advogado responsabilidade solidária no pagamento de débitos tributários de seus clientes. No processo, segundo Mattheus Montenegro, membro da Comissão Tributária da OAB, a entidade alega que a categoria está protegida por imunidade prevista na Constituição.


Fonte: Jornal Valor Econômico

Fora da rede.


Um mistério ronda o comércio externo brasileiro. Por que as exportações não vão elevar o PIB, se o real está mais fraco e o mundo vai crescer mais? O ceticismo sobre o impacto positivo do câmbio e do crescimento mundial no comércio vem do fato de o Brasil ter poucos acordos bilaterais, continuar amarrado ao Mercosul e não participar das grandes cadeias mundiais de produção. O Brasil está fora da rede. Com o sétimo maior PIB nominal do Mundo — até o último ranking divulgado — o Brasil é só o 22º maior exportador. Nossas vendas para o exterior representam apenas 1,3% do total vendido no mundo. A corrente de comércio brasileira é 21% do nosso PIB, o mesmo nível de 10 anos atrás. O Brasil continua sendo um país fechado. As projeções para 2015 são de estagnação do PIB, com risco de recessão. O consumo está perdendo força, as incertezas suspenderam projetos de investimento. Em pouco mais de três anos, o real perdeu 52% do valor em relação ao dólar. Em janeiro de 2012, a moeda americana valia R$ 1,86, segundo dados do Banco Central. No fechamento da última sexta-feira, foi cotado a R$ 2,83. Essa queda é boa para quem exporta porque torna o produto brasileiro mais barato no exterior. Apesar disso, ninguém espera um grande impulso nas exportações este ano. — O Brasil tem apenas três acordos bilaterais de comércio firmados, e apenas um está em vigor, com Israel. Tem poucos acordos bilaterais de investimento e poucos tratados que evitam a bitributação entre países. Não faz parte da OCDE e não integra o Centro Internacional para Resolução de Disputas de Investimento. Tudo isso explica por que não vamos conseguir crescer pelo canal das exportações — diz Eduardo Felipe Matias, doutor em direito internacional pela USP e autor de livros sobre globalização, sustentabilidade e comércio internacional. Os números mostram como o Brasil fez pouco para ampliar sua rede de parceiros comerciais. Ficou acomodado durante o período de alta dos preços das commodities, que agora entraram em fase de declínio. Enquanto tem apenas três acordos bilaterais de comércio, o Chile tem 21; o Peru, 16; México, 13; e a Colômbia, 12, segundo dados de 2013 da OMC. Há ainda acordos mais amplos, como o firmado por México, Chile, Peru e Colômbia, na Aliança do Pacífico, uma zona de livre comércio entre eles. Em outras partes do mundo, EUA e Europa negociam a Parceria Transatlântica. Além disso, EUA, Japão, Canadá, Austrália, México e Chile, entre outros, negociam a Parceria Transpacífica. De tratados que evitam a bitributação, reduzindo custos e estimulando a internacionalização de empresas, o Brasil tem 29 fechados. Nenhum deles assinado de 2009 para cá, segundo Eduardo Matias. Não temos tratados com EUA e Alemanha, duas das maiores potências comerciais do mundo. Já a China possui 98, e a Índia, 86. Quando o tema são os acordos bilaterais de investimento, que dão segurança ao investidor estrangeiro, o Brasil também tem ficado para trás. Há apenas 14 assinados, e nenhum ratificado. A China possui 130; a Rússia, 73; e a Índia, 84. — Os acordos são muito amplos e vão estabelecendo uma rede jurídica que dá proteção e segurança a vários tipos de assuntos, como propriedade intelectual, governança corporativa, movimentação de capitais, sustentabilidade. Estabelecem órgão internacionais de arbitragem. O Brasil não está participando dessas discussões, que definem padrões. Para se inserir nas grandes cadeias mundiais de produção, é preciso estar dentro de certas normas — explicou Matias. De 2011 a 2014, as exportações brasileiras caíram 12%, de US$ 256 bilhões para US$ 225 bi. O saldo comercial, que já foi de US$ 46 bilhões em 2006, virou déficit de US$ 4 bilhões no ano passado. O período de boom das matérias-primas ficou para trás, com preços menos favoráveis para o minério de ferro e a soja. Não foi por falta de aviso. Inúmeros especialistas alertaram para a necessidade de negociação de acordos de comércio. O Brasil preferiu esperar pelo sucesso da Rodada Doha, que não veio, aceitar todas as limitações que a Argentina impôs às negociações brasileiras. Hoje, a Argentina está cada vez mais próxima da China, que passou o Brasil no comércio com o nosso vizinho.
É preciso repensar a estratégia comercial do país.




Fonte: M. Leitão/A.Gribel

CNJ confirma dispensa do terno para advogados durante o verão.


O presidente nacional da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, saudou na tarde desta terça-feira (03), a decisão do Conselho Nacional de Justiça, que ratificou, por maioria de votos, a liminar da conselheira Luiza Frischeisen, que libera os advogados do uso do paletó e da gravata em todas as audiências, despachos e sessões realizadas nas instâncias dos tribunais do Rio de Janeiro.

O pedido de liminar, feito pela OAB/RJ, sustentava que a liberação da vestimenta implantada no início da estação pelos tribunais de Justiça e Regional do Trabalho era de pouca valia para a classe, uma vez que o terno continuava obrigatório na maior parte da rotina processual. Segundo o presidente da Seccional, Felipe Santa Cruz, a exigência seguia "uma tradição europeia não compatível com a realidade dos nossos trópicos", lembrando que as altas temperaturas causam prejuízos à saúde dos profissionais.

Presente à votação, o conselheiro federal Cláudio Pereira de Souza Neto frisou que a exigência no terno durante o verão trata-se de um ato "absolutamente desumano": "O advogado sofre não apenas quando está nas serventias judiciais, mas sobretudo quando tem que se deslocar de um tribunal para o outro, de tal modo que impor o uso do paletó e da gravata equivale a uma tortura".

Os votos contrários à liminar foram dos conselheiros Deborah Ciocci, Guilherme Calmon e Flávio Sirangelo, que entenderam que os tribunais de cada região têm autonomia para determinar as vestimentas e que não havia ilegalidade na proibição.




Fonte: Tribuna do Advogado.

‘Fórmula 85/95 é a melhor para aposentados’, diz ministro da Previdência.


Depois de negociar as medidas de restrição em benefícios previdenciários, como pensões por morte e auxílio-doença no Congresso Nacional, o governo Dilma Rousseff vai iniciar uma discussão com os movimentos sindicais para acabar com o fator previdenciário. A informação é do ministro da Previdência Social, Carlos Gabas, que concedeu ao Estado sua primeira entrevista após assumir o cargo. A ideia, diz ele, é substituir o fator, criado em 1999, por uma fórmula que retarde as aposentadorias no Brasil. “O fator previdenciário é ruim porque não cumpre o papel de retardar as aposentadorias. Agora nós precisamos pensar numa fórmula que faça isso e defendo o conceito do 85/95 como base de partida. As centrais concordam com isso”, defende. A fórmula 85/95 soma a idade com o tempo de serviço - 85 para mulheres e 95 para homens. Além de ser um dos ministros mais próximos da presidente Dilma Rousseff, Gabas está escalado para discutir com as centrais e os parlamentares o pacote de aperto aos benefícios sociais, incluindo seguro-desemprego e abono salarial. Só com pensões por morte e auxílio-doença, o governo gastou quase R$ 120 bilhões em 2014.
A seguir, a entrevista:
O governo anunciou o aperto na concessão dos benefícios sociais, inclusive as pensões por morte e auxílio-doença. Apesar do protesto dos sindicalistas, o governo vai insistir no pacote?
Primeiro, precisamos separar o conceito de ajuste fiscal do ajuste nos benefícios da Previdência. Essas medidas têm, obviamente, efeito fiscal e financeiro, mas já vinham sendo discutidas com representações de trabalhadores e empregadores. Não são medidas inventadas agora, não são novidade. As centrais sindicais sabem da necessidade de se manter uma Previdência equilibrada. Tem muitas forças políticas no Brasil que entendem que esse nosso sistema é falido, que não funciona, e dizem que precisamos fazer uma grande reforma da Previdência.
E não precisa?
Eu sou contrário. O regime atual, se bem administrado, tem sustentabilidade no tempo. Esse é nosso objetivo, por isso as mudanças necessárias em pensão por morte e no auxílio doença. Precisamos desses ajustes, não de grandes reformas. Como a sociedade é dinâmica, precisamos acompanhar com pequenas evoluções.
Como assim?
Nos últimos dez anos, a expectativa de sobrevida no Brasil subiu 4,6 anos. Em média, a expectativa de vida chega a 84 anos e a idade média de aposentadoria por tempo de contribuição é de 54 anos. Então, o cidadão fica 30 anos, em média, recebendo aposentadoria. Não há sistema que aguente. Para que nosso sistema previdenciário seja preservado temos que estender um pouquinho essa idade média de aposentadoria, que é uma discussão diferente, que ainda não entrou na pauta.
Seria a instituição de uma idade mínima para se aposentar, como boa parte dos países desenvolvidos faz?
Não, não defendo isso. Existem outras fórmulas que protegem o trabalhador mais pobre.
Mas isso passa pelo fim do fator previdenciário, não?
Eu briguei muito contra o fator previdenciário quando ele foi instituído. Eu era sindicalista. Se hoje eu estivesse no movimento sindical, eu teria outra postura, faria uma proposta, não ficaria apenas contrário ao fator. Qualquer cidadão tem que pensar que não é razoável que uma pessoa vivendo 84 anos se aposente aos 49 anos. Com o fator previdenciário, ao se aposentar cedo, a pessoa recebe um benefício menor, mas esse benefício serve como complemento de renda. Daí quando a pessoa para mesmo de trabalhar, ela fica apenas com aquela aposentadoria pequena. Previdência não é complemento de renda, ela é substituta da renda.
Então, qual é a fórmula?
O fator é ruim porque não cumpre o papel de retardar as aposentadorias. Agora nós precisamos pensar numa fórmula que cumpra esse papel de retardar. Seria a 85/95, como regra de acesso. As centrais chegaram a concordar isso.
Por que a 85/95 é melhor que idade mínima?
Porque o trabalhador mais pobre começa muito cedo a trabalhar. Se coloca 65 anos como idade mínima para se aposentar, ele terá que trabalhar quase 50 anos ou mais. Já um trabalhador de família mais rica, que ingressa mais tarde no mercado de trabalho, teria outra realidade. Nós defendemos aqui, quando essa discussão chegar, uma soma de idade com tempo de contribuição, para defender o trabalhador mais pobre. Seria 85 para mulher e 95 para homens, mas tem fórmulas dentro disso. O 85/95 é um conceito, um pacote político, para iniciar as discussões. Essa é a próxima para discutir depois do pacote das pensões por morte e auxílio doença. O foco do ministério é fazer as medidas.
Que são gastos estratosféricos, não?
Sim. Em 2014, gastamos R$ 94,8 bilhões com pensões por morte e esse dinheiro todo foi para 7,4 milhões de pensionistas. Com o auxílio doença gastamos R$ 25,6 bilhões para 1,7 milhão de beneficiados. Em relação as pensões, as mudanças foram propostas porque essa transição que vivemos no Brasil, onde as pessoas estão vivendo mais, exige uma administração diferente da Previdência. Essa expectativa de vida de 84 anos é para quem tem hoje 50 anos. Quem nasceu agora terá uma expectativa de vida de quase 100 anos.
Daí a restrição?
Isso. A pensão por morte é uma extensão da aposentadoria. O cidadão se aposentou, recebeu do INSS por 30 anos e quando morre, deixa uma pensão para outra pessoa, que depois também terá sua própria aposentadoria. Agora estamos nessa transição demográfica e precisamos encontrar novas formas. Quem está recebendo continuará recebendo. A mudança é para frente. Viúvas muito jovens e sem filhos vão receber pensão por um período, apenas.
Então o impacto nas contas para 2015 não foi pensado?
Essa não é uma medida para fechar as contas deste ano. Restringir pensão por morte e auxílio doença são medidas de médio e longo prazo. Mas é claro que o cenário atual, de complicação fiscal, favoreceu o anúncio dessas medidas.
O sr., e o ministro Nelson Barbosa, vão negociar diretamente com o Congresso. O que é possível esperar?

Temos agendados encontros com vários segmentos dentro do Congresso, vamos aos deputados e explicar as medidas. Elas são importantes, têm o papel de manter a sustentabilidade da sociedade.
E Eduardo Cunha pode ser um complicador?
Acho que o Eduardo Cunha tem a oportunidade de usar isso para provar a grandeza dele como presidente da Câmara, não usando as medidas como instrumento de barganha. No ano passado, o déficit da Previdência foi de R$ 51 bilhões. Neste ano deve subir mais, se aproximando de R$ 60 bilhões.
Essa trajetória preocupa?
A arrecadação tem surpreendido negativamente, e de fato, as desonerações da folha de pagamento impactaram muito. Mas essa história do déficit precisa ser tratada com uma visão mais contábil. Nós temos um modelo de previdência urbana e rural. Tivemos no ano passado cerca de R$ 35 bilhões de superávit na previdência urbana. No rural, a política não foi pensada com premissa de ter superávit, porque é uma política com objetivo de proteger o homem do campo, aqueles que trabalham a terra em regime de agricultura familiar. Esse trabalhador rural é quem produz 73% dos alimentos que nós comemos. Não vemos latifúndio de dez mil hectares produzindo tomate, feijão, legumes, apenas commodities.
Então, se separar, contabilmente, o modelo rural do urbano, o problema estaria resolvido?
Veja bem, falamos de 8,4 milhões de aposentados rurais que ganham um salário mínimo. Neste segmento a despesa cresceu bastante porque o salário mínimo cresceu muito. Essa política não tem objetivo de ter superávit, a conta não foi feita para fechar, tanto que a Constituição prevê a Cofins e a CSLL para servirem de fonte de renda para custear a previdência rural. Contabilmente nosso regime é equilibrado, mas a conta, depois que houve a unificação dos caixas no Tesouro, se misturou tudo. Tivemos uma arrecadação de R$ 5 bilhões com o rural e gastos de R$ 80 bilhões. A arrecadação da Cofins e CSLL é muito superior a essa diferença, mas isso não fica claro. Temos só que nos colocar de acordo com o pessoal do Ministério da Fazenda para ver como se transferem esses recursos. Não pode pensar em “vamos cobrir o rombo”. Não tem rombo, entende?

Para entender.
O Fator Previdenciário foi criado pelo governo Fernando Henrique Cardoso, em 1999,como uma forma de adiar aposentadorias. Na época, a idade média de aposentadoria era de quase 51 anos. É uma fórmula baseada na expectativa de vida, no tempo de contribuição e na idade ao se aposentar. Não conseguiu desestimular os precoces: hoje, 16 anos depois, a idade média de aposentadoria é de 54 anos. Na prática, reduziu o valor do benefício e, por isso, é combatido pelas centrais sindicais.




Fonte: O Estadão

'A diminuição de subsídios não vai fazer o País parar', diz Levy.

Ministro diz que a economia brasileira ‘vai entrar no eixo, mesmo que no curto prazo isso pareça difícil’.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já iniciou sua cruzada para ver aprovado pelo Congresso Nacional o plano que representa uma guinada na política fiscal, com corte de subsídios, redução de incentivos, aumento de impostos e recalibragem de benefícios previdenciários e trabalhistas. A forma de convencimento que escolheu para atrair parlamentares e a população em geral, é a mais direta possível: garantir a retomada do emprego e evitar a tendência atual de estagnação. "O Congresso votar as medidas fiscais é importante para que as decisões que vão levar ao crescimento do emprego comecem a ser tomadas logo", afirmou. "Temos que sinalizar mudanças rapidamente, para dar tempo de reverter, ainda este ano, essa tendência de estagnação", afirmou o ministro. Em entrevista por e-mail ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Levy acena com aprimoramento das medidas e diz que vai participar das negociações. Para isso, pretende usar a experiência que teve na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no período em foi secretário de Fazenda e promoveu um ajuste nas contas do Estado. Citando Keynes, o economista que criou a teoria econômica centrada na intervenção do Estado como garantidor do bem-estar social, o ministro afirmou que "ninguém rasga dinheiro". Por isso, para investir, o empresariado "precisa alguma segurança, a começar pela fiscal". Diminuir os subsídios e incentivos não vai fazer o Brasil parar, garante. Na entrevista, Levy diz que o governo tem meios sim de cumprir a meta fiscal deste ano. Ele defende abertamente ajustes e governança "amarrada" no Fies e Pronatec, programas caros a presidente Dilma Rousseff. Afirma ainda que a Petrobras vai voltar a crescer depois que desatar o nó de seu balanço e mudar também sua governança, com a eleição de um novo Conselho de Administração. E diz que o espírito do ajuste é o do "bem". "A economia vai entrar no eixo, mesmo que no curto prazo pareça difícil", prevê.
Veja a seguir, a íntegra da entrevista:
As medidas enviadas ao Congresso enfrentam resistência. A meta fiscal de 1,2% está ameaçada?
Não vejo ameaça. Em 2014, o emprego desacelerou fortemente porque foi ficando claro que insistir nas políticas "anticíclicas" não estava dando certo e não era sustentável. A incerteza fiscal começou a minar a vontade de investir e isso tinha que mudar. Então, estamos respondendo a essa realidade. Agora, a discussão no Congresso e na sociedade sobre qualquer medida legislativa é natural, e, em princípio, positiva. Isso é da essência da democracia. O que vale é que a população não só tem entendido a necessidade fiscal das medidas tomadas, mas também como essas medidas fortalecem a capacidade do Estado de implementar suas políticas sociais, reduzindo distorções e excessos da lei. As discussões e as votações vão trazer resultados para a economia.
Mas o sr. vai entregar a meta prometida?
Não tenho dúvidas sobre isso. A presidente Dilma vem mostrando total comprometimento com o superávit de 1,2% do PIB para este ano. Há meios para chegarmos lá, sim.
A eleição de Eduardo Cunha potencializa uma possível incerteza sobre a aprovação das medidas de ajuste?
O presidente Cunha é um parlamentar bastante experiente que, na posição em que se encontra, pensa, principalmente, na estabilidade e na capacidade do País crescer. Tenho convicção de que ele, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, conduzirão a votação das MPs enviadas pelo governo de forma a permitir a livre manifestação de eventuais preocupações do Congresso e a avaliação de possibilidades de aprimoramento dessas medidas, onde essas possibilidades existirem. Mas, há bastante entendimento de que são medidas indispensáveis para o Brasil voltar a crescer. E, deve-se lembrar, até agora não criamos novos impostos ou algo inusitado, simplesmente estamos normalizando algumas coisas que haviam sido afrouxadas na perspectiva anticíclica e que têm dado menos resultado agora. Anticíclico é temporário mesmo.
Por que o ministro não vai entrar agora na linha de frente das negociações das pensões e do seguro-desemprego?
Não é exato que eu não vá participar. Governo é assim: você reparte tarefas para dar conta de tudo. É muito bom quando decidiu-se ter ministros experientes como o da Previdência Social e do Planejamento explicando ao público porque os ajustes nas regras das pensões nos aproximam de legislações que valem na maior parte dos países. Muitas pessoas têm dado apoio a essas propostas de mudanças, que protegem os direitos do trabalhador.
Quando esteve à frente da Secretaria de Fazenda do Rio, o senhor ia à Assembleia Legislativa para explicar o ajuste nas contas do Estado?
Fui sim. Inclusive para discutir mudanças em leis, como a da tributação de ativos ligados à exploração do petróleo, que é muito importante no Rio, e a ampliação da transparência que fizemos lá.
E como foi?
Um processo muito respeitoso e bastante direto. Técnico, mas "explicadinho". Acho que os parlamentares, como todo mundo, gostam de entender bem o que se propõe e a necessidade, às vezes, até a urgência, das ações que tomamos. O processo é saudável e a liderança ali, com frequência, soube equilibrar os interesses de grupos específicos e o interesse geral, o que ajudou o Rio de Janeiro a ser o primeiro Estado brasileiro a ter o grau de investimento. E também a ganhar credibilidade, inclusive junto à União, para trazer a Olimpíada e abrir novas oportunidades de crescimento e bem estar para toda a população Fluminense.
Que tipo de ajuste se faz com uma economia que não cresce? Se for muito forte não pode afundar ainda mais a atividade econômica e inviabilizar o próprio ajuste?
É importante a economia voltar a crescer. E para isso, as pessoas têm que saber o que propomos e se isso é sustentável. Equilíbrio fiscal, preços no lugar e medidas que facilitem as pessoas trabalharem e investirem dão o incentivo para se enfrentar, com sucesso, o novo ambiente global que está aí. A diminuição de subsídios e incentivos fiscais não vai fazer o País parar. Compatibilizar gastos com a arrecadação não vai parar o governo. Dada a arrecadação atual e o resultado primário de 2014, levar os gastos discricionários aos níveis de 2013 - que foi um ano até certo ponto expansionista, pode ser um caminho bastante seguro. A gente não está vivendo uma crise em que a economia só possa sobreviver com doses crescentes de amparo. Ficar na cama, debaixo do cobertor, pode ser bom. Mas, quando o despertador toca, a gente salta para ir trabalhar e ganhar a vida. É assim com as pessoas e os países que são vencedores.
Então precisa do "espírito animal" dos empresários?
A muito repetida frase do Keynes, tinha a ver com o otimismo que ele considerava inato aos empresários. Empreendedor tem que ser otimista, não é? Senão, iria procurar atividades mais acomodadas, com salário garantido... Mas, apesar do contraste que ele fez entre a espontaneidade e a matemática financeira, ninguém rasga dinheiro. Assim, só vai haver retomada quando os empreendedores sentirem alguma segurança, a começar pela fiscal. Por isso, o Congresso votar as medidas fiscais é tão importante, para que as decisões que vão levar ao crescimento do emprego comecem a ser tomadas logo. As estatísticas mostram que só foram criados 150 mil empregos formais no ano passado. Portanto, temos que sinalizar mudanças rapidamente, para dar tempo de reverter, ainda este ano, essa tendência de estagnação.
O governo vai cortar programas sociais? Fies e Pronatec serão atingidos? O ajuste corre o risco de sofrer resistência dos ministros?
O Ministério escolhido pela Presidente Dilma conta com pessoas extremamente experientes e já enfrentaram situações de desafio. O ministro Cid Gomes, que foi governador de um Estado que nos últimos 25 anos estabeleceu uma tradição de gestão fiscal, é exemplo de alguém que entende profundamente da Educação e está fazendo ajustes que vão melhorar e dar sustentabilidade a programas chaves para o Brasil. Aumentar o número de universitários é muito bom e tende a ajudar a aumentar o PIB potencial do País. Mas, na medida em que envolve o governo emitir bilhões de reais em dívida pública, para pagar mensalidades em faculdades particulares, é óbvio que a governança desse programa tem que ser muito bem amarrada. Senão, serão grandes decepções mais para frente. Dos estudantes, do contribuinte e do investidor. No Pronatec, também tem que focar na qualidade dos resultados e na governança. Especialmente quando a economia vai passar por uma reengenharia, devida à reversão dos preços das matérias primas. Nesse ambiente, a disponibilidade de mão de obra, com mais qualificação e muita motivação, vai ser o caminho para crescermos.
Mas vai ter saco de maldades?
Essa é outra frase muito repetida por alguns. Não é o nosso espírito. O que temos feito é, na verdade, do bem. Quase sempre reduz disparidades entre pessoas e empresas ou setores, e é feito para por o Brasil de volta à rota do crescimento. E, como disse em algumas ocasiões, temos que ajustar as coisas ao fim do ciclo das commodities e diminuição das ações anticíclicas dos nossos principais parceiros, para aumentarmos nossa produtividade genuína.
A nova equipe implantou o realismo tarifário, mas a inflação estourar o teto não é um grande problema para a Presidente?
O realismo tarifário é essencial para dar segurança à economia e ao investidor. Em um primeiro momento, isso tem um impacto nos preços, mas o efeito final na inflação depende da disciplina fiscal e da vigilância do Banco Central. Uma política fiscal não expansionista ajuda a evitar que um aumento de preços pontual se transforme em inflação, no sentido de um processo de realimentação de preços. E a política monetária tem que continuar a agir para dissipar aquele impacto inicial, evitando efeitos secundários sobre a inflação. A política monetária tem que ficar vigilante para as expectativas se manterem ancoradas. Esse é o compromisso do governo; e o que o Banco Central tem sinalizado, focando na convergência da inflação, após o impacto inicial, para o centro da banda admitida, isto é, para a meta, dos 4,5% ao ano.
Qual é solução para o balanço da Petrobrás? O senhor não quer integrar o Conselho da empresa?
A Petrobrás já está dando a virada que todos queremos ver acontecer. O impasse contábil será vencido a tempo, com serenidade e muita transparência. Junto com a companhia, a auditoria independente vai achar a forma correta e aceita pelos reguladores do mercado para registrar o que for adequado. Com isso, as coisas boas da empresa voltarão a ser valorizadas, especialmente porque há um grande compromisso de reforçar os processos de gestão. Esse processo já começou no âmbito de produção e vai se ampliar para outras áreas, com o apoio, tenho convicção, dos funcionários, de toda a sociedade e dos investidores. A produção de petróleo e gás, que vinha caindo nos últimos anos, começou a crescer em 2014 e hoje já está em nível recorde. Esse aumento se deve principalmente ao pré-sal, que já responde por um terço da produção total, com quase 700 mil barris dia. Agora, a produção do gás associado deve começar a chegar em terra e pode ajudar a economia a ser mais competitiva. A gente não deve ser ufanista, mas de vez em quando vale à pena a gente dizer "O Brasil pode!". Ou, para não maltratar o vernáculo, "a gente consegue fazer bem!". Também é importante destacar o aumento de produção, com custos de extração moderados. Nos EUA, o baixo custo do gás fez mais pela retomada do crescimento do que a expansão fiscal, que acabou em 2011. A contribuição do setor de energia pode ser significativa para a economia brasileira retomar o crescimento, porque o que se precisa agora são choques positivos de oferta, que nos tragam vantagens competitivas de verdade. E aí, investimento, flexibilidade, concorrência são as ferramentas para o sucesso.
O senhor não quer integrar o Conselho de Administrativo da empresa?
Acho que um conselho composto por pessoas experientes, evidentemente afinadas com o acionista majoritário, mas com autonomia e podendo dedicar muito tempo à empresa, é o mais adequado. A escolha do Conselho vai dar um sinal fundamental sobre os objetivos do governo, enquanto custodiante dos interesses do acionista majoritário, e sua capacidade de harmonizar institucionalmente eventuais estratégias de Estado com o bom funcionamento de empresas de capital misto, inclusive em outros setores.
Se aproxima a data das visitas anuais das agências de rating ao Brasil. Elas vão chegar aqui e encontrar uma dívida bruta que subiu para 65% do PIB e o déficit público é de quase 7%, um dos maiores do mundo. O déficit em conta corrente fechou o ano passado em 4% do PIB e a inflação deve ficar acima do teto da meta em 2015. Temos também o caso Petrobrás e o risco de racionamento. O que o senhor vai dizer?
Você descreveu uma fotografia não muito bonita: há indicadores que se deterioraram, inclusive o déficit externo. Mas a economia vai entrar no eixo, mesmo que no curto prazo pareça difícil. O País já mostrou isso outras vezes, quando havia desconfiança. A trajetória da dívida tem que ser de redução, até porque nossos competidores têm uma relação dívida sobre PIB mais baixa do que a nossa, e não estamos desejosos de entrar para o clube das grandes economias com redução de nota de risco, como alguns países desenvolvidos. Tenho dito, e não vejo porque pensar diferente, que o Brasil tem que ter por prioridade melhorar a nota da dívida pública. Ter a ambição de chegar à nota A. Não há motivos para rebaixamentos. Mas para progredir, toda a sociedade tem que eleger como prioridade o país melhorar seus indicadores fiscais. As pessoas têm que entender como isso influencia o aumento do emprego, o custo do dinheiro e outras coisas. E que vale a pena trabalhar para obter essa melhora, reduzindo subsídios, procurando diminuir a dualidade no mercado do crédito, reforçando a responsabilidade fiscal, para trazer confiança.
Mas essas questões não estão longe do dia a dia do empresário e das pessoas na rua?
Pode parecer abstrato, mas para quem está na linha de frente, não escapou que a curva de juros mudou de inclinação nos últimos três meses. A ponta longa, que é a importante para o investidor, caiu. Esse é um exemplo de como expectativas afetam preços e comportamentos. Se a gente entregar o que está se propondo, tenho certeza de que a ponta longa pode continuar com inclinação favorável, mesmo com a curva americana subindo. E aí vamos ter crédito de longo prazo de verdade. Vamos ter uma economia mais livre e robusta. Não vai ser presente do céu, mas na medida em que avançarmos, que o equilíbrio fiscal melhorar, isso vai chegar às pessoas na rua e, antes disso, aos empresários.
O sr. gerou bastante ruído com as declarações sobre taxa de câmbio. Será que a política cambial vai passar para as mãos da Fazenda, assim como era na época da Mantega?
O que eu falei foi um truísmo, em um dia um pouco mais agitado. E repeti o que o BC sempre fala: que o câmbio é livre e a sua atuação é para evitar volatilidade, porque a volatilidade nem sempre é favorável ao setor produtivo e ao consumidor. Ou seja, o câmbio reflete a realidade da economia. Aliás, por isso que, com a mudança dos termos de trocas que temos experimentado e uma política monetária vigilante, o câmbio real, que é o que interessa, já depreciou por volta de 30% nos últimos anos. O relevante é olhar o câmbio real efetivo contra a cesta de moedas dos nossos parceiros comerciais, alguns dos quais, como a China tem experimentado alguma apreciação recentemente. O presidente do BC, Alexandre Tombini, tem sido consistente a esse respeito, em toda parte. Não há novidade nisso e, apesar de talvez ser uma indiscrição, posso dizer que não comentei muito sobre minha recente ida ao G-20, mas ficou evidente ali como meu colega Alexandre é muito respeitado pelos principais banqueiros centrais e ministros do mundo. A verdade é simples: o Banco Central não tem nenhum objetivo com uma cotação específica do câmbio, pois atua basicamente para reduzir movimentos de volatilidade excessiva.
Entendo, mas a lua-de-mel do mercado com a equipe econômica já acabou?
Acho que o mercado continua apostando no Brasil. É uma das melhores oportunidades do mundo e por isso o estrangeiro continua tendo apetite. A infraestrutura, por exemplo, se a gente acertar no modelo de concessão e de financiamento pelo mercado, pode criar valor para nós e para os investidores institucionais ao redor do mundo. O investidor doméstico, que tem uma grande exposição ao país, para quem o Brasil não é apenas "mais um" na sua carteira, evidentemente tende a ser mais exigente. Porque, antes de tudo, ele é um cidadão, com sua vida centrada aqui. Por isso mesmo, a vigilância dele é positiva e temos que explicar as coisas com clareza. Temos que dar detalhes das contas fiscais, do estágio das obras e prioridades do PAC, da situação e perspectivas dos outros programas, dos riscos, daquilo que está sendo feito para estimular a concorrência e a eficiência em toda a economia. Em uma economia complexa e aberta como a nossa, o importante para crescermos de forma equilibrada é o diálogo com o parlamento, com o trabalhador, com a sociedade e com o mercado.





Fonte: O Estadão