Partido dos
Trabalhadores e setor produtivo pressionaram pela manutenção. Antes, BC
indicava alta nos juros mas mudou sinalização e manteve taxa.
Após pressão do setor produtivo, do Partido
dos Trabalhadores e em meio a sinais de que a economia terá uma retração mais
forte, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter,
pela quarta vez seguida, a taxa básica de juros inalterada em 14,25% ao ano
nesta quarta-feira (20). Mesmo assim, a Selic segue no maior patamar em quase
dez anos. Na curva de juros do mercado futuro, um tipo de aposta do mercado
financeiro, a percepção da maior parte dos economistas era de que os juros
seriam elevados na reunião do Copom, em 0,25 ponto percentual, para 14,5% ao
ano. Pesquisas com economistas das instituições financeiras, porém, mostravam
um cenário incerto, com alguns apostando em manutenção, e outros em aumento da
taxa Selic. A decisão do Comitê de Política Monetária de manter os juros,
porém, não foi unânime. Seis integrantes do Copom votaram pela manutenção da
taxa, mas outros dois queriam um aumento de 0,5 ponto percentual, para 14,75%
ao ano, que acabou não sendo implementado. Os diretores de Assuntos
Internacionais, Tony Volpon, e de Organização do Sistema Financeiro, Sidnei
Corrêa Marques, votaram pelo aumento dos juros. Ao fim do encontro, o BC emitiu
o seguinte comunicado: "Avaliando o cenário macroeconômico, as
perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando a
elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu
manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois
votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 ponto percentual".
Comunicação
do BC
Até o início desta semana, os economistas dos
bancos acreditavam que o BC teria uma postura bem mais mais agressiva, elevando
a taxa Selic para 14,75% ao ano. Para embasar suas apostas, levavam em conta o
duro recado do BC, do começo deste mês, de que adotaria "as medidas
necessárias de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas
[de inflação]" e que isso seria feito "independentemente do contorno
das demais políticas" (como aquela relacionada com os gastos públicos, por
exemplo). Essa percepção do mercado de uma alta de 0,5 ponto percentual nos
juros se alterou nesta terça-feira (19), quando o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, rompeu o tradicional silêncio que antecede os encontros do
Copom para dizer, por meio de nota à imprensa, que considerou
"significativas" as revisões das projeções de crescimento em 2016 e
2017 do FMI para o Brasil [para baixo] e acrescentou que estas informações
seriam "consideradas nas decisões do colegiado". O mercado entendeu a declaração como uma forma
de sinalizar uma alta menor dos juros, ou até mesmo a manutenção no atual
patamar de 14,25% ao ano, e não poupou críticas ao BC. "Jabuti não sobe em
árvore. Porque o BC ia comentar uma atualização das projeções do FMI? Tudo bem.
Piorou, até mais do que o consenso do mercado, mas não tão mais. É muito ruim,
mas que a gente já conhecia. Imagino que o Tombini também", disse o economista
Alexandre Schwartsman, que passou a apostar em Selic estável ou uma alta menor,
de 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira.
Recessão
Em um cenário de forte queda da atividade
econômica em 2015, com a previsão do mercado de retração do PIB da ordem de
3,75% no ano passado, a maior em 25 anos, seguida por uma contração também
significativa neste ano (por volta de 3%, segundo previsão do mercado), e com o
aumento do desemprego, podendo superar 10% neste ano, a decisão do Copom sobre
a taxa de juros está cercada de fortes pressões políticas. Tanto o presidente
do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, quanto os representantes das centrais
sindicais e do setor produtivo têm se manifestado sistematicamente contra uma
nova alta de juros por parte do Banco Central. No fim do ano passado, Falcão
pediu propostas para retomar o crescimento econômico, garantir o emprego e
preservar a renda e os salários. "Chega de altas de juros e de cortes em
investimentos", declarou ele, em artigo. As centrais sindicais fizeram ato
nesta terça-feira na frente do Banco Central de São Paulo contra um novo
aumento de juros. A Força Sindical avaliou que um novo aumento de juros
contribuiria para o "aumento da recessão e do desemprego, atingindo a
indústria nacional, reduzindo a produção e provocando, até, a insolvência das
empresas (desindustrialização)". Em artigo publicado no fim do ano
passado, institulado "Para vencer a Crise", o Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) pede redução da Selic e avalia que
juros "extraordinariamente elevados na atualidade, constituem barreiras
intransponíveis ao crescimento". Nesta semana, divulgou um documento na
qual avalia que a crise é "generalizada" no setor produtivo.
Pressão
inflacionária
Apesar dos impactos de uma nova alta dos
juros sobre a produção e o emprego, economistas observam que a inflação segue
pressionada no começo deste ano, quando 20 estados e o Distrito Federal
promoveram aumentos de tributos, como o ICMS, além de alta de impostos sobre
computadores e bebidas implementada pelo governo federal. Também foram
registradas elevações nos preços de tarifas de transportes públicos em vários
estados. O dólar, por sua vez, vem apresentando novo aumento no começo de
2016. Além disso, o mercado financeiro
não acredita na capacidade de o setor público atingir a meta de superávit
primário (economia para pagar juros da dívida pública) de R$ 30,5 bilhões em
2015, ou 0,5% do PIB. A previsão do mercado é de um déficit de 1% do PIB, de
cerca de R$ 60 bilhões, neste ano. Todos estes fatores, segundo analistas,
continuam pressionando a inflação neste ano. Após somar 10,67% em 2015, a
previsão dos economistas é que, para 2016, o IPCA some 7%, ou seja, acima
novamente do teto do sistema de metas de inflação - algo que o Banco Central
busca evitar a qualquer custo. Para o economista Alexandre Schwartsman, a
teoria de de que a recessão vai "tomar conta" da inflação só funciona
se as previsões de inflação estiverem "ancoradas" com as metas do
governo, o que não acontece atualmente. "O BC vai ter que subir os juros.
Se não subir agora, lá na frente o problema vai ficar pior. Em 2011, [o BC]
poderia ter trazido a inflação para a meta com menos esforço. Agora vai ter que
subir mais os juros", avaliou o ex-diretor do Banco Central. A alta de
juros para conter pressões inflacionárias, porém, não é unanimidade no mercado
financeiro. Para Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora, inexistindo
"demanda aquecida no consumo e por crédito", o aumento dos juros só
serviria para atender aos "reclamos do mercado financeiro, que é rentista
do governo, em detrimento da política fiscal [controle dos gastos], já caótica,
do governo".
Fonte:
G1