Vale vai propor um acordo para antecipação das indenizações






A Vale quer buscar um acordo com as autoridades em Minas Gerais para antecipar as indenizações às famílias das vítimas da tragédia de Brumadinho (MG). O objetivo da mineradora é chegar de forma rápida a um entendimento que permita pagar essas indenizações. Segundo fontes, existem referências de valores nos tribunais que possibilitam amparar, juridicamente, o pagamento dessas compensações. Não está claro ainda, porém, qual seria o valor a ser recebido pelas famílias que tiveram parentes mortos ou desaparecidos com o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, da mineradora, na sexta-feira.

Um acordo para pagamento antecipado das indenizações é o segundo marco no qual a Vale trabalha depois do anúncio do plano de fechamento de dez barragens a montante em Minas Gerais, anunciado pelo presidente da companhia, Fabio Schvartsman, na terça-feira, em Brasília.

Advogados ouvidos pelo Valor dizem que se a indenização envolver o Ministério Público, o que certamente acontecerá, a figura jurídica que daria amparo ao acordo seria um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Mas fontes falam também na possibilidade de o entendimento se dar via termo de compromisso emergencial, uma espécie de TAC, disse um advogado.


Ontem a Vale fez uma teleconferência com clientes para atualizar a situação depois de Brumadinho em um dia em que os contratos futuros de minério de ferro subiram para a maior alta em um ano, enquanto as cotações da commodity escalaram quase 5% no mercado à vista, em Qingdao, na China, para US$ 82,3 a toneladas.  Maior produtora mundial de minério de ferro, a Vale responde também por 40% da produção mundial de pelotas, produto cuja demanda, pelas siderúrgicas, é forte hoje no mundo. As pelotas garantem maior produtividade dos altos-fornos e reduzem a emissão de poluentes. 


Na avaliação de analistas de bancos, haveria um exagero na alta dos preços futuros do minério de ferro na China, como decorrência de Brumadinho, uma vez que a Vale vai compensar parte da perda de produção em Minas Gerais nos próximos anos com expansões no Pará. Além disso, os analistas acreditam que o impacto da tragédia sobre a produção global de minério de ferro, o chamado mercado transoceânico, será pequeno.


No anúncio feito por Schvartsman na noite terça-feira, a Vale se comprometeu a cortar a produção de 40 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, incluindo neste número o "pellet feed" necessário para a produção de 11 milhões de toneladas de pelotas.  Esse corte de produção, a ser feito ao longo de três anos, será necessário para poder fechar as dez barragens da empresa construídas pela tecnologia de alteamento a montante, como a de Feijão. São nove minas a serem paradas, para permitir o descomissionamento das dez barragens: Abóboras, Vargem Grande, Capitão do Mato e Tamanduá, no complexo Vargem Grande, e as operações de Jangada, Fábrica, Segredo, João Pereira e Alto Bandeira, no complexo Paraopebas. Todas as unidades estão em Minas Gerais, onde a Vale tem cerca de metade de sua produção.


A paralisação também vai atingir as plantas de pelotização de Fábrica e Vargem Grande, uma vez que vai faltar "pellet feed" para alimentar essa produção. Mas a Vale já tem a intenção de comprar "pellet feed" no mercado para suprir essas plantas, disseram fontes.

As obras para fechamento das dez barragens a montante da Vale, com investimentos estimados em R$ 5 bilhões, só devem começar, no melhor dos cenários, a partir de julho de 2019, segundo fontes. Em 45 dias, a Vale deve apresentar às autoridades os projetos para fazer o fechamento dessas barragens. Depois, a expectativa é que o sistema ambiental de Minas Gerais leve cerca de 60 dias para conceder as licenças ambientais necessárias para que a companhia comece a fazer o "descomissionamento" dos reservatórios. Uma vez de posse das licenças ambientais, a Vale precisará ainda contratar as empreiteiras que vão fazer as obras.

O prazo dado pela mineradora para fechar as dez barragens em três anos se deve ao fato de que as unidades têm portes diferentes e, portanto, exigirão prazos também distintos para serem desativadas. As unidades pequenas devem levar um ano para serem fechadas; as médias, dois anos, e as grandes, três anos. As operações nas minas paralisadas serão retomadas à medida que forem concluídos os descomissionamentos, informou a Vale. A tecnologia mais rápida para fechar essas barragens de rejeitos é retirar a água e cobrir os sedimentos que ali ficarem, transformando a antiga barragem em uma espécie de morro. A pergunta que muitos se fazem é por que a Vale não fez antes o fechamento das barragens a montante, sobretudo depois do rompimento de Fundão, da Samarco, em 2015, erguida por esse mesmo método construtivo.

O argumento da mineradora é que ela já havia tomado a decisão de descomissionar as barragens a montante desde 2016. A Vale possui 19 unidades desse tipo, das quais nove foram fechadas e restavam dez no fim de 2018. Todas as barragens a montante estavam "estáveis", sendo descomissionadas em ritmo adequado, na visão de fontes da empresa. A barragem I da mina de Feijão, por exemplo, não recebia rejeitos há três anos e, portanto, na avaliação de fontes da companhia, o seu rompimento não guarda nenhuma relação com a produção dessa mina.

O rompimento da barragem I de Feijão, na última sexta-feira, levou a Vale a acelerar os fechamentos das dez unidades a montante, o que exige parar, temporariamente, a produção das minas a elas ligadas. As operações nas unidades paralisadas serão retomadas à medida que forem concluídos os descomissionamentos e a retomada será possível por meio de investimentos em tecnologias de processamento a seco do minério de ferro. Essas tecnologias, incluindo o peneiramento a seco, leva a perdas do teor de ferro no produto final, mas evita o risco associado ao uso de barragens. Ontem à noite, em mais uma medida resultante de Brumadinho, a Vale adiou a divulgação do balanço do quarto trimestre de 13 de fevereiro para 27 de março.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            Fonte: Valor


















Vale gastará R$5 bi para acabar com barragens a montante, vai parar 40 mi t de produção




A mineradora Vale aprovou investimentos de 5 bilhões de reais para acabar com as barragens a montante, o mesmo sistema utilizado na estrutura que se rompeu em Brumadinho (MG) na última sexta-feira, em um desastre que matou pelo menos 84 pessoas e deixou centenas de desaparecidos.
Para acelerar o processo de descomissionamento de barragens, a companhia terá que parar produção de minério de ferro nas áreas próximas das unidades situadas em Minas Gerais, com impacto de 40 milhões de toneladas de minério de ferro e 11 milhões de toneladas de pelotas ao ano, anunciou nesta terça-feira o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman.
Os 40 milhões de toneladas de minério de ferro representam 10 por cento da previsão de produção da Vale, maior produtora global da commodity, em 2019.
O executivo não comentou, durante entrevista após apresentar o plano no Ministério de Minas e Energia, se a Vale poderia compensar a produção que será paralisada com a extração em outras minas.
A empresa previu anteriormente elevar a produção do mega empreendimento S11D, no Pará, de estimados 55 milhões em 2018 para 70/80 milhões de toneladas em 2019 --para 2020, o S11D produziria 90 milhões de toneladas.
O S11D integra o maior sistema de produção de minério da Vale, situado em Carajás, no Pará.
ACABAR COM INSEGURANÇA
O executivo disse que o plano de acabar com o sistema a montante visa encerrar com a insegurança nas barragens em Minas Gerais.
Ele observou que nove das 19 barragens a montante já foram descomissionadas.
E destacou que as 10 barragens paradas mas ainda não descomissionadas --incluindo a de Brumadinho-- apenas não foram desmontadas antes porque a companhia tinha informações técnicas que atestavam sua estabilidade.
Mais cedo, o ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, havia dito ter recebido a informação do governo de Minas Gerais de que a companhia acabaria com barragens com tecnologia de alteamento a montante.
O CEO da Vale confirmou mais tarde que apresentou o plano na véspera ao governo de Minas Gerais.
O mesmo sistema utilizado na unidade de Brumadinho havia sido usado na barragem da Samarco (joint venture da Vale com a BHP Billiton), que entrou em colapso em 2015, deixando 19 mortos, centenas de desabrigados e poluindo o rio Doce, em toda a sua extensão, até o mar do Espírito Santo, no maior desastre ambiental do Brasil.
Desde então, a companhia decidiu por um processo de acabar com tal sistema de rejeitos.
Schvartsman ressaltou que as unidades produtoras de Minas Gerais já processam o minério a seco.
O descomissionamento total das barragens poderá levar de um a três anos, dependendo da unidade. O processo também requer licenciamento do governo de Minas Gerais para se desenvolver.
O executivo disse que os trabalhadores das unidades de Minas Gerais deverão ser absorvidos pelo quadro da Vale, durante o período em que as minas ficarem paralisadas.
Questionado sobre pressão do governo em relação aos diretores após o desastre de Brumadinho, o CEO afirmou que "em nenhum momento ouviu falar em intervenção na diretoria ou pressão sobre o conselho da companhia".
A Reuters publicou nesta terça-feira reportagem, com base em um documento oficial, indicando que a mineradora Vale demonstrou preocupações sobre suas barragens de rejeitos há dez anos, mas não implementou várias medidas avaliadas na época que poderiam ter evitado desastres como os de Brumadinho ou Mariana.
(Por Jake Spring; texto e reportagem adicional de Roberto Samora em São Paulo)



Fonte: Investing


Vale ganhou relevância na economia com aumento das exportações de minério

Minério de ferro é o terceiro produto mais exportado pelo Brasil. Consequências econômicas do desastre para a empresa e para o país ainda são difíceis de serem mensurados. 



A relevância da Vale na economia brasileira pode ser medida pelo peso que a exportação do minério de ferro tem na balança comercial. Atualmente, o minério é o terceiro produto mais exportado pelo Brasil, atrás apenas da soja e do petróleo. 

No ano passado, as vendas de minério para o exterior somaram US$ 20,215 bilhões e representaram 8,4% do total vendido pelo país. A Vale, segundo estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), tem uma fatia entre 70% e 80% do montante do produto exportado. 

"A companhia adquiriu uma importância grande. Hoje, é a segunda maior exportadora de minério de ferro do mundo", diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro. 

O crescimento da importância do minério de ferro nas exportações ocorreu na esteira do crescimento da China. No início dos anos 2000, a economia chinesa chegou a apresentar taxas de crescimento superior a 10%. Com a aceleração da econômica chinesa, a demanda por produtos básicos cresceu, e países produtores de soja e minério de ferro – como é o caso do Brasil – se beneficiaram dessa expansão. 

Em 2001, por exemplo, a tonelada do minério de ferro era cotada a US$ 19. Em 2011, no auge, o preço da tonelada chegou a US$ 126. Nos anos seguintes, o valor do minério recuou até se estabilizar no patamar de US$ 50 a tonelada, entre 2017 e 2018. 


Impacto na economia
Por ora, ainda é difícil medir as consequências concretas para o resultado da companhia com o estrago causado pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em Minas Gerais. A Mina Córrego do Feijão produz anualmente 8,5 milhões de toneladas de minério de ferro, o que é equivalente a 2% da produção de minério de ferro da Vale. 

Entre janeiro e setembro de 2018, a companhia produziu 283,652 milhões de toneladas de minério de ferro, um crescimento de 3,8% na comparação com 2017. A maior produção da companhia está no Sistema Norte. Lá a produção foi de 140,730 milhões de toneladas. 

"O impacto como um todo ainda é difícil de mensurar", afirma o sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira. "O mais complicado é que o acidente ampliou as desvantagens que a empresa já enfrentava no cenário internacional. A China está desacelerando. Foi um desalinhamento de astros que não poderia ter ocorrido", afirma. 

No terceiro trimestre do ano passado, a companhia teve lucro de R$ 5,753 bilhões e foi a terceira empresa mais lucrativa do país, de acordo com a Economatica. 

No mercado financeiro, o estrago já se mostra grande. Na segunda-feira (28), a companhia perdeu R$ 70 bilhões em valor de mercado. A agência de classificação de risco Fitch também já rebaixou a nota de crédito da companhia de BBB+ para BBB-. 

Se para a economia nacional ainda é difícil medir o tamanho dos impactos provocado pelo acidente em Brumadinho, entre os economistas há uma certeza de que a economia de Minas Gerais deve ser afetada de forma intensa. "Para o Estado de Minas, é uma empresa muito importante. E é um Estado que está quebrado", Otto Nogami, professor do Insper 

Desde o acidente, a companhia já teve R$ 11 bilhões bloqueados pela Justiça. "Não descarto a importância do bloqueio desses valores. Mas esse tipo de iniciativa pode causar um dano social mais forte", diz Nogami.




Fonte: G1



Produtos básicos são metade do que país exportou em 2018, mostram dados do governo

Volume é o maior em 38 anos. De US$ 239 bi exportados no ano passado, US$ 119 bi são de itens básicos. Para analistas, geração de emprego exige aumentar venda de produtos industrializados.



Metade das exportações brasileiras realizadas no ano passado foi de produtos básicos, segundo dados da série histórica do comércio exterior disponibilizados pelo Ministério da Economia.
Produtos classificados como básicos são aqueles que não têm tecnologia envolvida ou acabamento, como minerais, frutas, grãos e carnes, por exemplo. 

Ao todo, no ano passado, as vendas externas somaram US$ 239 bilhões, dos quais US$ 119 bilhões (49,7%) se referem a itens básicos. 

De acordo com o governo federal, a proporção é a maior desde o início da série histórica, em 1980, ou seja, a maior em 38 anos. 

Segundo o Ministério da Economia, as exportações de itens básicos cresceram 17,2% no ano passado, mais de duas vezes acima da expansão de manufaturados (industrializados): 7,4%. 

Para analistas ouvidos pelo G1, o Brasil precisa aumentar a exportação de produtos industrializados porque isso pode ajudar na geração de emprego e renda (entenda a argumentação mais abaixo).

Exportação de produtos manufaturados
Diante do crescimento de exportações de produtos básicos, o Brasil tem registrado nos últimos anos queda nas vendas externas de produtos manufaturados. Em 2018, por exemplo, os produtos industrializados representaram 36,07% das exportações, um dos menores níveis da série histórica.

O que dizem os analistas
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o país precisa acompanhar o movimento mundial, segundo ele, de buscar aumentar a exportação de produtos manufaturados. Castro afirma, ainda, que seria melhor o Brasil retomar patamares atingidos em anos anteriores, com menor proporção de vendas de produtos básicos. 

"Queremos voltar ao que era no passado [quando a participação de manufaturados era maior]. Todos países do mundo lutam para exportar manufaturados. O Brasil não pode ser diferente. Há uma geração maior de empregos e expansão dos mercados [com a venda de industrializados]. Para as empresas exportadoras, existe um nível de atualização permanente [de tecnologia]", declarou. 

José Augusto de Castro avalia ser preciso avançar nas reformas estruturais para o Brasil ter mais competitividade e voltar a exportar mais produtos manufaturados. De acordo com Diego Bonomo, gerente-executivo de Assuntos Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a vantagem de exportar produtos industrializados é a maior geração de emprego e renda para o país. 

Em 2019, observou Castro, o superávit comercial brasileiro deve cair por que a economia mundial está desacelerando e, com isso, os preços das "commodities" também fica mais baixo - afetando as vendas externas brasileiras. Depois de registrar um superávit (exportações menos importações) próximo de US$ 60 bilhões em 2018, a entidade estima um saldo comercial positivo de apenas US$ 32 bilhões neste ano.

Mercados compradores
Os dados do governo mostram que a China e a Europa receberam os produtos básicos brasileiros no ano passado, enquanto que os Estados Unidos se destacaram na aquisição de manufaturados. 

Veja os principais produtos comprados pela China no ano passado: 
soja
petróleo em bruto
minério de ferro
celulose
carne bovina
ferro em ligas
carne de frango
algodão em bruto

Para a União Europeia também houve destaque para produtos básicos: farelo de soja, minério de ferro, celulose, café em grão, petróleo em bruto, soja, minério de cobre.

Já para os Estados Unidos, o aumento de 6,6% das exportações foi influenciado pelo crescimento das vendas de aço semimanufaturado, petróleo bruto, partes de motores de aviões, máquinas e aparelhos para terraplanagem.

"As exportações brasileiras para os EUA, em 2018, foram majoritariamente de bens manufaturados (cerca de 60%). Com isso o mercado norte-americano se consolida como o maior destino de produtos industrializados do Brasil", informou o governo.

Ascensão da China 
Segundo Diego Bonomo, da CNI, a ascensão da China nos últimos 20 anos como país produtor de manufaturas mudou os "sistemas de trocas" da economia brasileira, que passou de exportadora, principalmente, de industrializados para vendedora de produtos sem acabamento. 

"Internamente, a gente tem um desafio de produtividade, que é baixa e está estagnada há quase 10 anos. A agricultura teve um ganho de produtividade significativo. Mas talvez o que mais explica é o fator externo, principalmente a China", declarou. 

De acordo com o analista, o crescimento da China como produtora puxou o chamado "boom" de "commodities" (alta nos preços de minérios e petróleo, adquiridos pela economia asiática como insumo para sua produção) que vem ocorrendo desde a década 2000. 

Ele observou que a China operou com câmbio desvalorizado nas últimas décadas, o que barateou seus produtos industrializados, com regras trabalhistas "inferiores" e com subsídios maciços do Estado, barateando seus produtos e dificultando a competição com as manufaturas brasileiras no exterior.



Fonte: G1