A freada de uma
economia antes vibrante assusta tanto as pessoas comuns como os economistas; desesperança
aumentou com a S&P.
Postos de recolocação profissional não
costumam ser ambientes dos mais alegres. No Brasil, onde eles com frequência
são vistos como a última alternativa, a que recorrem apenas aqueles que não
dispõem dos contatos pessoais que azeitam boa parte da vida nacional, o clima
em seu interior pode ser particularmente desolador. Aguardando a vez de ser
atendido num desses postos, na região central de São Paulo, o motorista
Francisco, de 54 anos, desempregado há dois, diz que as filas de atendimento
nunca foram tão grandes. "É a crise", lamenta. Fazia anos que a
economia brasileira vinha apresentando crescimento anêmico. Durante o primeiro
mandato da presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014, o Produto Interno
Bruto (PIB) cresceu, em média, 2% apesar da forte expansão na demanda mundial
pela soja, pelo minério de ferro e pelo petróleo do País. A interferência
excessiva do governo no setor privado, combinada com uma política monetária e
fiscal demasiadamente frouxa, minou a confiança. O investimento secou e a
inflação disparou. Agora, sem a muleta das commodities, o PIB engatou a marcha
à ré (contração, em relação aos três meses anteriores, de 1,9% no segundo
trimestre de 2015), arrastando consigo um mercado de trabalho que até então
vinha aguentando as pontas. De janeiro para cá, quase 500 mil pessoas perderam
o emprego. Pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) calculam que outros 2,5
milhões de postos de trabalho serão eliminados até o fim de 2016. O desemprego
chegou a 7,5% em julho, ante 4,9% em julho do ano passado , a alta anual mais
acentuada de que há registro. A expectativa é que o desemprego alcance os 10%
até o fim do ano que vem e permaneça nesse patamar por algum tempo. São poucos
os brasileiros que não conhecem alguém que tenha recorrido recentemente ao seguro-desemprego.
A desesperança, que por toda parte já era grande, ficou ainda maior quando a
Standard & Poor's rebaixou para grau especulativo os títulos da dívida
brasileira, depois que a presidente Dilma, numa iniciativa desastrada, tentou
transferir a um Congresso já pouco cooperativo a responsabilidade por
equilibrar o Orçamento de 2016. A agência de classificação de risco não parou
por aí: rebaixou também a nota de uma dezena de grandes empresas brasileiras,
incluindo alguns bancos de grande porte. A Petrobrás, que já estava no centro
do maior escândalo de corrupção da história do Brasil, conquistou a distinção
adicional não exatamente proveitosa de ser agora a maior empresa do mundo
sem grau de investimento. No início de 2015, a estatal respondia por cerca de
10% do total de investimentos na economia brasileira; Agora talvez tenha de
realizar um corte em suas despesas de capital superior aos 40% anunciados em
junho. A decisão da S&P foi motivada, sobretudo, por preocupações que não
vêm de hoje. Nem o mercado de ações, nem o real com desvalorização acumulada
de 30% ante o dólar, de janeiro para cá sofreram perdas muito significativas
depois do anúncio; Sinal de que o rebaixamento já estava, em grande medida,
precificado. Mas a decisão da agência certamente contribui para aumentar o
desalento. O custo da contratação de empréstimos, tanto para o setor privado,
como para o público, que já era alto, vai ficar mais salgado, aumentando assim
o risco de novos rebaixamentos nas classificações de crédito. Os fundos mútuos
e de pensão, que só podem manter em carteira ativos com grau de investimento,
terão de se desfazer dos títulos brasileiros em ritmo mais acelerado, antecipando-se
a decisões similares por parte da Moody's e da Fitch. (Em geral, é só depois
que duas das três grandes agências de classificação de risco aplicam o rótulo
de "investimento especulativo" aos títulos de um país que esses
fundos são obrigados a se desfazer deles.) Para o Brasil de hoje, com sua
economia diversificada e suas abundantes reservas cambiais, isso não terá o
efeito debilitante que teria no passado, quando a situação era mais caótica.
Ilan Goldfajn, do Banco Itaú, acredita que o fluxo anual de capital estrangeiro
tende a cair bastante em relação aos US$ 45 bilhões registrados em 2014, mas
não deve ficar abaixo de US$ 10 bilhões em 2016. Mesmo assim, com o
desinvestimento, o Brasil terá mais dificuldade para sair de sua pior recessão
nas últimas décadas. Em levantamento feito esta semana pelo Banco Central com
analistas de mercado, as projeções de crescimento foram mais uma vez revisadas para
baixo. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
acredita que o PIB brasileiro deve encolher 2,8% este ano e 0,7% em 2016. A
desvalorização do real gerou pressões inflacionárias, que o Banco Central vem
penando para debelar com elevações (contracionistas) da taxa de juros. Em razão
disso, os exportadores com exceção do hipercompetitivo setor agrícola
brasileiro não puderam se beneficiar da desvalorização cambial. Poucos
esperam que a economia volte a crescer antes de 2018, quando o eleitorado
escolherá o sucessor de Dilma. A renda per capita, que atingiu seu nível mais
elevado em 2011, deve levar mais tempo para se recuperar. Desde que renegou as
políticas intervencionistas de seu primeiro mandato, a presidente brasileira
vem tentando, sem sucesso, encontrar um meio-termo entre a ortodoxia fiscal,
defendida pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, e os estímulos propugnados
pelo titular do Planejamento, Nelson Barbosa, e muitos no PT. Com o intuito de
aplacar o descontentamento crescente entre os partidários da disciplina fiscal,
na segunda-feira o governo apresentou mais um pacote desta vez no valor de R$
65 bilhões (US$ 17 bilhões) de medidas de austeridade, incluindo o
congelamento dos reajustes salariais do funcionalismo público e o controverso
imposto sobre movimentações financeiras. Como aconteceu anteriormente, não se
observa no governo grande entusiasmo com a implementação de um pacote que, se
por um lado, não é suficiente para pôr as finanças públicas em ordem e
instaurar um ambiente econômico mais favorável, por outro, é mais do que suficiente
para atiçar rebeliões no Congresso, sobre o qual a presidente, com sua
impopularidade nas nuvens, não exerce controle algum, e onde ganha força o
movimento para promover seu impeachment. Por ora, Dilma vem conseguindo se
manter no emprego. Muitos brasileiros comuns não têm tido a mesma sorte.
Fonte:
The Economist.
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