Com o aumento das demissões (quase 1 milhão
de vagas foram perdidas nos últimos 12 meses) e a dificuldade de conseguir um
novo emprego com carteira assinada, o brasileiro está recorrendo cada vez mais
ao trabalho por conta própria. Em agosto, 19,8% da população ocupada se
enquadrou nessa modalidade, o maior patamar desde dezembro de 2006, o
equivalente a 4,5 milhões de trabalhadores. Um ano antes, essa participação era
de 19%, e, em agosto de 2013, de 17,9%, segundo dados do IBGE das seis
principais regiões metropolitanas.
Nos anos anteriores, o mercado de trabalho
vivia um boom da carteira assinada, acompanhada de um avanço do rendimento do
trabalhador, o que apoiou o período de crescimento da economia brasileira
alavancado pelo consumo das famílias. Esse cenário, com a recessão, acabou.
"Estão acontecendo mudanças expressivas no mercado de trabalho. A forma de
inserção está mudando", afirma Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e
rendimento do IBGE. Essas mudanças se traduzem no funcionário da indústria de
calçado que foi mandado embora e passou a consertar sapato em casa ou no
engenheiro que também perdeu lugar e virou consultor. Grande parte tem entre 25
e 49 anos, sustenta a família e não pode ficar parada em casa esperando uma
nova oportunidade com carteira assinada. Ou seja, neste momento de crise, a
renda é mais importante que benefícios como 13º salário e férias. Muitos partem
para atividades ligadas ao comércio, como a revenda de cosméticos ou alimentos,
explica Azeredo, do IBGE.
RENDIMENTO
Outra face deste novo modelo de inserção no
trabalho aparece na renda. Na média, o grupo dos que trabalham por conta
própria tem sentido uma queda menor no rendimento real que os trabalhadores do
setor privado com acesso aos direitos trabalhistas. Em agosto, os primeiros
tiveram queda de 1,7%, metade da sentida pelos empregados com carteira
assinada.
A explicação, porém, não é necessariamente
positiva. Um dos possíveis motivos é a entrada de pessoas com maior
qualificação, como advogados e engenheiros, no grupo do conta própria, que
levantaram a média dos rendimentos –ainda que esses profissionais possam estar
ganhando menos que quando eram empregados. Naercio Menezes Filho, do Insper,
ressalva que "ainda é cedo para verificar uma transformação radical no
mercado de trabalho". Melhores conclusões a respeito dos reflexos da atual
desocupação ficarão mais claros a partir do ano que vem, diz.
Fonte?
Folha SP
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