Comércio forte

O Brasil deve ao comércio, mais do que à indústria ou ao próprio governo a recuperação da atividade econômica em pleno ano da crise que derrubou mercados financeiros e empurrou a economia global para a recessão. Vamos ter um final de ano com quase todos os setores de nossa economia se reaquecendo, alguns ainda lentamente, mas aos poucos todos vão se encaixando no ritmo de crescimento sustentado pelo aumento do consumo interno. Desde o começo o governo intuiu corretamente o problema e teve o mérito de convencer as pessoas que ia usar as ferramentas que estavam à mão para dar suporte ao setor privado, mas foram os comerciantes que partiram na frente, no pior momento do pânico que paralisou os mercados. Na ausência do financiamento bancário, as lojas passaram a oferecer o crédito aos seus fornecedores e a facilitar prazos e condições de pagamento aos consumidores finais. É certo que algumas estão ligadas a bancos, mas os lojistas resolveram correr o risco que o setor financeiro aparvalhado hesitava em assumir. Essa atitude foi fundamental para impedir a eliminação de um grande número de postos de trabalho, evitando reduzir dramaticamente a massa salarial e a queda abrupta do consumo. O governo fez o que tinha que ser feito ao isentar de impostos a indústria em setores-chave da produção, fundamental para a manutenção de milhares de empregos. Hoje ninguém tem dúvida, no entanto, que o fator decisivo que possibilitou essa resistência à crise foi o efeito do crédito das lojas em substituição ao crédito bancário. O Brasil só não teve uma queda muito maior do consumo porque o comércio manteve o crédito praticamente inalterado, o nível do emprego no setor ficou o mesmo e o salário real até subiu um pouquinho. Importa é que estamos chegando ao último trimestre do ano com a economia em crescimento. O PIB este ano não terá crescido em relação ao excelente resultado do ano passado (vamos ficar próximos de zero), mas para 2010 já está contratado aritmeticamente um crescimento da ordem de 4,5% a 5%. Em 2009, ano de crise mundial, o que derrubou nosso crescimento foram as exportações e os investimentos. Nós continuamos a ter dificuldades com as exportações principalmente com o câmbio e porque, com metade do mundo em recessão, a demanda não se recupera. O que foi trágico, realmente, foi a queda dos investimentos (suspensos a partir de setembro de 2008), causada pelo pânico da ameaça do tsunami financeiro que ao final, pelo menos entre nós, se não ficou na marolinha, não passou muito de marola... Estamos caminhando, felizmente, para uma retomada desses investimentos que tinham sido adiados. Os empresários começam a entender que eles podem ser retomados porque vai haver demanda mais na frente. E estas são as decisões fundamentais para o crescimento mais sólido e mais estável da economia brasileira. Em 2.010, ano de eleições gerais, podemos ter um crescimento até mesmo superior ao que já está "contratado". Vamos chegar ao final de 2009 com o consumo interno em alta, como sempre acontece nos períodos do Natal, turbinado com a injeção de 140 bilhões de reais do décimo-terceiro salário nas mãos dos trabalhadores. Festa para o comércio, que fez por merecer, e fator estimulante da demanda para aquecer todos os setores da economia.
Fonte D.Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário