Banco Central do Brasil x BNDES

A opinião da Associação Promotora de Estudos da Economia (Apec), pode ser resumida na seguinte frase, publicada originalmente pela entidade: “Se a política monetária não controla o crédito, não é política monetária”.Na quarta-feira, uma matéria assinada por Tal Barak Harif e André Soliani na Bloomberg resumiu o pensamento do professor da Universidade de Harvard Ricardo Hausmann sobre o assunto. Para ele, enquanto o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empurra a economia do País para o crescimento econômico mais robusto em 15 anos, via expansão do crédito, o Banco Central do Brasil tenta desacelerar o ritmo, promovendo a elevação da taxa referencial de juros, a Selic. Ou seja, os dois bancos estão, claramente, praticando políticas antagônicas.
A segunda e última arma que tem sido utilizada pelo Banco Central para lidar com a inglória tarefa de – sozinho e contra todos os demais órgãos do governo – controlar a inflação, é a compra ou venda de dólares. Nesse terreno existe ainda declarada preocupação do presidente Lula e de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, de tornar as exportações brasileiras mais competitivas no mercado internacional, impedindo uma valorização mais acentuada do real. Há tempos, o BC vem retirando dólares do mercado e adicionando às suas reservas.
Para Hausmann, o confronto entre BNDES e BC é óbvio. O crescimento econômico que vem sendo promovido pelo volume recorde de empréstimos concedidos pelo BNDES leva a economia do País aos limites de sua capacidade produtiva, pressionando os preços. “Isso força o BC a elevar o juro básico 1,5 ponto percentual este ano, para 10,25% ao ano”, salientou o economista. “Por sua vez, os juros mais altos estão atraindo capital externo para os ativos de renda fixa do Brasil e alimentando a valorização do real, que Lula ainda tentou interromper ao implementar o imposto de 2% sobre investimentos estrangeiros”.
O BNDES – que é o quarto maior banco do País por ativos – disse em comunicado datado de 1º de junho que aumentou o crédito em 34% nos quatro primeiros meses desse ano, para R$ 35,7 bilhões. O banco emprestou um volume recorde de US$ 72 bilhões no ano passado, segundo o presidente da instituição, Luciano Coutinho. “O BNDES deveria receber ordens para desacelerar o crescimento do crédito”, simplificou Hausmann, em entrevista por telefone. Na sua visão, enquanto o Banco Central está tentando controlar a inflação responsavelmente, o BNDES, na contramão, segue expandindo os empréstimos. Isso significa que o Banco Central terá de subir bem mais os juros, numa espiral desastrosa.
O diretor do Centro de Desenvolvimento Internacional de Harvard e a Apec, porém, não são os únicos que vêm emitindo alertas sobre a atual dicotomia brasileira. Shelly Shetty, analista da Fitch em Nova York, comentou na semana passada que "as atividades do BNDES estão colocando um peso adicional sobre a política monetária para limitar a demanda doméstica excessiva", corroborando as observações de Hausmann e da associação. Para o secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle, os empréstimos patrocinados pelo governo vão se "estabilizar" à medida que os bancos privados "aumentam sua fatia de mercado" em meio à expansão econômica. Enquanto o governo parece esperar por um re-equilíbrio natural o volume total de crédito do sistema financeiro nacional aumentou 2,1% em maio, no ritmo mais rápido em dez meses, para R$ 1,5 trilhão, de acordo com o Banco Central.
A contradição das políticas em vigor dos dois bancos está agravando problemas que são velhos conhecidos. O real sobrevalorizado penaliza exportadores – praticamente inviabilizando a manufatura brasileira no exterior – e favorece as importações, alargando o déficit em conta corrente e colocando ainda mais pressão nas taxas de juros domésticas, a fim de garantir o capital especulativo necessário para fechar as contas do País. O real é a moeda de maior valorização nos mercados emergentes desde 20 de maio, com a taxa de câmbio avançando 5,8% para o patamar de R$ 1,78 por dólar no período. A Fitch Ratings enfatizou ainda que o crescimento nos empréstimos pelo BNDES está também desacelerando o processo de redução da dívida como percentual do Produto Interno Bruto, criando preocupações em um momento em que a agência avalia melhorar a classificação de crédito do Brasil, que está em BBB-, o menor grau de investimento.
Fonte: JC

Nenhum comentário:

Postar um comentário