Impasses cambiais

A nova onda de valorização do real, já valendo R$ 1,53 por dólar, a maior cotação desde 1999, está deixando o governo numa sinuca de bico. Se a qualquer patamar de câmbio abaixo de R$ 2 a exportação de manufaturados é gravosa para a maioria das indústrias, na beira de R$ 1,50 é a produção no país que passa a deixar de compensar.Com o mundo rateando para sair da crise, que legou uma ociosidade industrial recorde desde a Grande Depressão dos anos de 1930, além de dívidas públicas e déficits fiscais virtualmente impagáveis, a palavra de ordem em toda parte é exportar – e exportar a qualquer preço, com financiamento subsidiado ao importador e manipulação da taxa cambial, as especialidades da China, a grande fábrica global. E cada vez mais copiadas por governos variados, dos EUA à Europa.Enquanto o mundo acelera para sair do atoleiro pelas exportações, e praticamente apenas as economias emergentes têm crescimento para absorver os estoques encalhados nas economias da velha ordem, não surpreende que estejamos no radar de todas as multinacionais. Mas não só crescimento assimétrico atrai a cobiça dos países em crise.Entre os emergentes, Brasil é praticamente o único com economia aberta, inclusive para os fluxos financeiros, tornando-se a um só tempo presa fácil para a liquidez internacional à deriva num mundo sem juros e a menina ingênua para os exportadores de países em que os interesses privados se amalgamam aos dos governos, como China e Coréia do Sul. É isso o que permite à Hyundai, por exemplo, chegar com os seus carros ao Brasil e vendê-los a preço de nacional.Nessa corrida, não é a taxa conjuntural do câmbio que cria para a indústria asiática - e a dos EUA vai pelo mesmo caminho - condição de competitividade imbatível. É a existência de uma estratégia de longo prazo para a política industrial que faz a diferença. E como competir nesses mesmos termos? Impossível. Os EUA já tentaram sem sucesso. Os países asiáticos controlam os ingressos de capitais e camuflam a proteção à produção local com artifícios variados, além do câmbio desvalorizado. Ou colado ao dólar, como faz a China.

Fonte: JC

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