A
economia do País não pode mais contar com o consumo das famílias para crescer. Todos
os indicadores têm confirmado o arrocho provocado pela inflação nas contas domésticas.
Ontem, a Serasa Experian indicou a desaceleração da demanda por crédito, reflexo
do freio na aquisição de bens e serviços: o aumento de 8,7% acumulado em 2013
até abril despencou para 6,4% em maio e caiu para 6,1% no mês passado. Atento
ao endividamento recorde dos brasileiros, que comprometida 44,3% da renda familiar
em abril, e à improvável chance de melhora nesse quadro a curto prazo, o mercado
financeiro diminuiu pela nona vez consecutiva a estimativa de alta do Produto Interno
Bruto (PIB) neste ano. De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central,
os analistas, que na semana passada acreditavam num avanço de 2,34%, reduziram a
aposta para 2,31%. É a menor previsão desde janeiro. Das 28 medições feitas
pela autoridade monetária em 2013, o mercado só aumentou a expectativa de
crescimento do país em três delas. Desde a terceira semana de maio, o percentual
atribuído ao PIB não para de cair. E, de lá para cá, a atividade não esboçou qualquer
reação, contribuindo ainda mais para o pessimismo do mercado, que começou 2013
apostando numa expansão de 3,26% da economia. Confiante na continuidade de um
superado modelo de avanço baseado no consumo, o governo se encontra numa
situação extremamente delicada, na avaliação de especialistas. No primeiro trimestre,
conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo das
famílias, responsável por turbinar a economia no passado recente, subiu apenas 0,1%.
Para o restante do ano, não se vislumbram resultados muito diferentes. Em nota,
a Serasa adiantou que o movimento de desaceleração do crédito tende a
prevalecer nos próximos meses, por causa da elevação da taxa de juros promovida
pelo Comitê de Política Monetária (Copom) com o objetivo de conter a inflação.
A taxa Selic – hoje em 8,5% ao ano, após três aumentos – pode chegar a dezembro
em 9,25%, prevê o mercado. Os juros mais altos encarecem o crédito e ajudam a arrefecer
o consumo. "O cenário é mesmo muito difícil", disse o economista da
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio
Bentes, elencando outras travas, como a subida do dólar, o fim de benefícios fiscais
concedidos a alguns setores e, sobretudo, a alta de preços, que reduziram o poder
de compra das famílias. Incerteza Embora o mercado tenha reduzido para 5,8% a
estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013,
Bentes não acredita que a desaceleração da inflação seja uma certeza para o
segundo semestre, pois outros fatores de pressão devem ajudar a inibir o
consumo. "A alta do dólar ainda não foi repassada aos produtos importados
ou produzidos com itens vindos de for a do país", explicou. Além do
consumo desaquecido, Marcelo Torto, economista da Ativa Corretora, acrescenta
outro fator agravante do pífio desempenho da atividade em 2013. "Esperava-se
um aumento forte dos investimentos, o que não ocorreu", comentou. Na
opinião dele, se a inflação terminar o ano abaixo do teto da meta, de 6,5%, já
será "muito bom" para o governo. "O ideal (para colocar o IPCA mais
próximo do centro da meta, que é de 4,5%) seria elevar os juros para 10% ao ano
ou mais, mas isso não vai acontecer", completou. Em junho, o índice
estourou o teto pela segunda vez no ano, chegando a 6,7% no acumulado de 12
meses. Newton Marques, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal,
diz que o nível de atividade no Brasil segue "ladeira abaixo", após o
esgotamento do modelo baseado no consumo das famílias. "Esbarrou no
endividamento", sublinhou Marques, para quem o crescimento baixo em 2013 é
"fato consumado". "Não tem outro jeito: com consumo caindo e
juros subindo, fica difícil convencer qualquer pessoa a investir", argumentou.
Fonte: JC
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