Depois
de retirarem seus dólares do Brasil em janeiro, em meio à turbulência nos mercados
emergentes com as decisões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e
diante da perspectiva de redução da nota de crédito do País, os investidores
internacionais retornaram em fevereiro, de olho nos ganhos com a alta da taxa
de juros. A entrada de dólares superou a saída em US$ 318 milhões no acumulado
de fevereiro até sexta-feira da semana passada, informou ontem o Banco Central (BC).
O resultado parcial do mês fez que o fluxo acumulado em 2013 ficasse positivo
em quase US$ 2 bilhões, resultado bem distinto do igual período do ano passado,
quando US$ 4 bilhões deixaram o País. O ingresso de dólar está se dando pela
chamada conta financeira, pela qual são registrados os investimentos
estrangeiros diretos (IED), as aplicações em carteira e as remessas de lucros e
dividendos. Até sexta-feira, entrou por esse canal US$ 1,72 bilhão. No mês
passado, a conta financeira contribuiu apenas com US$ 19 milhões para o saldo
de US$ 1,6 bilhão. Apesar do quadro de desconfiança dos investidores
internacionais em relação à economia brasileira, principalmente pela piora das
contas públicas e pela dependência cada vez maior de recursos externos,
especialistas afirmam que o mercado já assimilou boa parte do impacto de uma
possível revisão para baixo da nota do País por agências de classificação de
risco.
Retorno
Para
o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, antes mesmo da
decisão da Standard & Poor’s e independentemente de qual seja ela, os
ativos brasileiros se desvalorizaram a ponto de ficarem muito atrativos para os
investidores. "Os mesmos que deram orientação para sair do Brasil vão
recomendar comprar assim que a S&P se pronunciar sobre o País, para o bem
ou para o mal." Um dos sinais da melhora das expectativas dos investidores
em relação ao Brasil pode ser percebido pela queda de 11,5% no mês dos Credit
Default Swaps (CDS), um tipo de papel que serve como "seguro" contra
eventual calote do País. Em janeiro, com a deterioração da situação cambial
argentina, o CDS de referência que vence em cinco anos tinha subido quase 11%. O
interesse pelo País é justificado, entre
outros motivos, pelo fato de que, como lembrou na terça-feira o presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini, o processo de alta da taxa básica de juros no
Brasil começou bem antes do de outras economias emergentes. André Perfeito
calcula que o real ofereça 0,87% de juros, três vezes acima da taxa do México, nas
operações de investimento em que o investidor tomam empréstimo em um país que
tem juros baixos e investe os recursos em outro que tem juros elevados, chamadas
de carry trade. Além da alta de 3,25 pontos percentuais nos juros básicos do País
nos últimos 12 meses, o economista Antonio Madeira, da LCA Consultores, afirma
que a diferença entre o resultado das primeiras semanas de 2013 e as de 2014
também se deve ao cenário econômico internacional distinto e aos impostos
cobrados sobre investimentos no País naquele momento.
Fonte: JC
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