A boa notícia do IPCA de fevereiro.


A desaceleração do IPCA no mês de fevereiro, quando o índice de 0,90% apurado pelo IBGE ficou abaixo das previsões dos analistas financeiros, representa, enfim, uma boa notícia na área econômica. Depois da surpresa negativa com o comportamento da inflação acima das expectativas de mercado, em janeiro, a variação anual dos preços caiu para 10,36% no segundo mês do ano. Ainda é um patamar muito alto, longe do objetivo do Banco Central de conter o índice em 6,5% neste ano. Mas é um sinal de que a inflação poderá dar alguma trégua aos consumidores e oferecer um alento ao governo. A profunda recessão enfrentada pelo país começa a cumprir com mais evidência seu papel na moderação dos preços. Mesmo o segmento da educação, que teve uma variação de 5,90% em fevereiro – a maior entre os grupos destacados pelo IBGE – absorveu parte do aumento de seus custos. A dificuldade para repassar reajustes mais elevados aos clientes da área educacional explica esse comportamento, o que indica um arrefecimento dos preços no setor de serviços, que tem sido o mais resistente a ceder aos efeitos da contração da economia. Além disso, os dados da inflação de fevereiro confirmam o esperado declínio do impacto dos preços administrados, especialmente na área de energia, com mudanças de bandeiras tarifárias e o fim do ciclo de alinhamento das tarifas conduzido no ano passado. O reajuste médio das tarifas de energia elétrica para os consumidores, em 2015, chegou ao exorbitante patamar de 51%. É o que se pode chamar de um choque de preços, deflagrado para corrigir a política adotada no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff de manter as tarifas artificialmente baixas para conter a inflação. O mesmo fenômeno pode ser observado em relação ao comportamento dos preços de combustíveis. A alta de 21,43% registrada no ano passado teve relação direta com o longo período em que os preços nesse segmento foram mantidos inalterados, com o claro objetivo de produzir um ambiente favorável ao governo na campanha eleitoral de 2014. O resultado colateral desse processo não é desprezível e está por trás de boa parte das dificuldades financeiras que a Petrobras atravessa. Em fevereiro deste ano, a gasolina aumentou moderados 0,55%. A postura leniente com que o governo lidou com o aumento persistente da inflação, ao longo dos primeiros quatro anos de governo da presidente da República, é uma das explicações para as dificuldades maiores que vêm sendo enfrentadas para conter os preços. A política fiscal expansiva e a tentativa de reduzir de forma voluntarista os juros básicos da economia foram parte da receita de equívocos, que cobrou um preço alto da sociedade. Reativados os mecanismos de indexação de preços, a dimensão do desaquecimento necessário na economia para reduzir os preços revelou-se muito maior do que as previsões iniciais. De qualquer maneira, os dados positivos do IPCA de fevereiro estão alinhados com a expectativa de que o índice acumulado em doze meses deixe o patamar de dois dígitos neste mês de março. Em meio à forte incerteza política agravada pelas investigações da operação Lava Jato, a confirmação dessa trajetória vai simbolizar que existe alguma dose de controle do governo em relação à política econômica. Os obstáculos à frente, em especial para o equilíbrio das contas públicas do governo, ainda não autorizam, no entanto, a aposta em um horizonte mais amplamente favorável à economia brasileira.




Fonte: G1

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