EUA impõem multa recorde contra Deloitte Brasil por relatórios falsos.

Empresa de contabilidade pagará US$ 8 milhões a órgão americano

A unidade brasileira da empresa de contabilidade Deloitte admitiu violar legislação e vai pagar US$ 8 milhões a um órgão nos Estados Unidos para resolver acusações civis que afirmam que a empresa emitiu relatórios de auditoria "materialmente falsos" e tentou encobrir os problemas com testemunho falso e arquivos adulterados, anunciaram autoridades americanas nesta segunda-feira.

A Comissão Pública de Supervisão de Companhias de Contabilidade (PCAOB, na sigla em inglês) afirmou que a multa imposta contra a Deloitte Touche Tohmatsu Auditores é a maior penalidade civil já imposta pelo órgão.

Segundo o órgão, a Deloitte emitiu relatório falso de auditoria das contas financeiras de 2010 da companhia aérea Gol e Tele Norte Leste Participações, parte do grupo Oi.

A PCAOB também emitiu sanções contra 12 ex-sócios e representantes da empresa por seu papel no esquema.

Alertada por um informante, a PCAOB havia decidido abrir uma investigação em 2012 sobre a prestação de contas, mas não teve cooperação dos responsáveis locais da Deloitte.

"A Deloitte Brasil fracassou no seu compromisso de proteger os interesses dos investidores, emitindo falsos relatórios de auditoria", afirmou Claudius Modesti, diretor da PCAOB.

Além do acordo com a PCAOB, a Deloitte propôs acordo com a Comissão de Valores Mobiliários, que aceitou quantia de R$ 5,36 milhões.

Segundo a CVM, em 2012, a PCAOB "constatou que alguns dos papéis de trabalho relacionados às auditorias realizadas na Gol e na TNL estavam com data de salvamento eletrônico posterior à conclusão dos respectivos serviços prestados".

A partir disso a empresa de auditoria iniciou tratativas para fazer acordo com o órgão americano e encaminhou uma "autodenúncia" ao órgão regulador dos mercados brasileiros.

No caso da empresa da Oi, a CVM afirmou que "parcela substancial dos papéis de trabalho relativos aos trabalhos de auditoria realizados nas demonstrações financeiras da TNL não havia sido adequadamente arquivada no sistema, tendo sido mantida em CDs". A Deloitte reconheceu as práticas indevidas de inclusão posterior e alteração irregular e indevida de papéis de trabalho, afirmou a CVM.

Já no caso da Gol, segundo a autarquia, a Deloitte admitiu ter alterado dados sobre reconhecimento de receita por venda de passagens aéreas, que o sistema de reservas não capturava adequadamente o efetivo embarque de passageiros e que tomou decisão de emitir relatório de auditoria sem ressalva devido ao "entendimento de imaterialidade das deficiências".

Em comunicado à imprensa, a Deloitte afirmou que "quando esses fatos foram informados pelo PCAOB, a nova liderança da Deloitte Brasil tomou medidas imediatas, previamente ao acordo, para retirar os indivíduos da firma e para reforçar a cultura ética na organização".

A companhia de auditoria também afirmou que revisões internas e independentes, "bem como as recentes inspeções do PCAOB sobre o trabalho de auditoria da Deloitte Brasil, não identificaram outras quaisquer alterações impróprias de papéis de trabalho, nem comportamento antiético".

Procurados, representantes da Gol não puderam comentar o assunto de imediato.

Já a Oi citou surpresa sobre a notícia envolvendo a Deloitte, mas afirmou que a empresa não recebeu nenhum questionamento sobre seus balanços auditados pela firma entre 2007 e 2011. Desde 2012, o grupo de telecomunicações é cliente da KPMG.

Em comunicado, a Oi afirmou que "não cabe à companhia se manifestar por atividades desta empresa de auditoria independente. A Oi desconhece os termos que levaram ao noticiado acordo da auditoria".




Fonte: O Globo.

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