'Há mais de 1 milhão de desempregados, não há sinal mais claro da crise'.

Economista da Firjan analisa situação econômica do Rio e como ela afeta as cidades fluminenses.

RIO - Economista-chefe da Firjan, Guilherme Mercês aponta como e que regiões a crise fluminense mais impacta na atividade econômica do estado e, consequentemente, na vida da população. Citando números do último Boletim de Mercado de Trabalho divulgada pela Federação, ele afirma que o desemprego é um dos retratos mais nítidos do fundo do poço ao que o Rio chegou. Além disso, ele ressalta a influência desse quadro para o agravamento da situação da segurança no estado. Como mostrou O GLOBO neste domingo, cidades que antes eram consideradas eldorados fluminenses estão entre as mais afetadas pela crise, com consequências que se mostram, por exemplo, na perda de empregos e no aumento da violência.

O GLOBO: Quais os principais impactos que o prolongamento da crise fluminense tem tido no dia a dia da população e das cidades do Rio?

Guilherme Mercês: Entre 2015 e 2016, foram 472 mil postos de trabalho fechados no Rio. Chegamos a uma taxa de desemprego de 13,4%. Há mais de 1 milhão de pessoas desempregadas no estado, não há sinal mais claro da crise do que esse. A atividade econômica está debilitada como nunca antes. A renda diminui. Do outro lado, o setor público que sente. Particularmente, acredito que a situação da segurança pública resume a crise econômica. Em pouco tempo, voltamos uma década atrás. Obviamente que tantos postos de trabalho fechados tem um impacto nisso, uma vez que a queda da renda pode estimular as práticas ilícitas. A situação se torna mais grave em cidades com alta densidade demográfica, como Campos dos Goytacazes e Macaé, fortemente afetadas pela crise.

Quais são as regiões mais afetadas?

A cidade do Rio e a Região Metropolitana foram as que mais sentiram os efeitos da crise. No primeiro trimestre deste ano, a capital fechou mais de 27 mil postos de trabalho. Foi a cidade do Brasil que mais demitiu. Para se ter uma ideia, a segunda colocada foi Fortaleza, no Ceará, com 8 mil postos de trabalho fechados. São Paulo, teve cerca de 5 mil, número parecido com o de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Outras cidades do Rio estão entre as que mais demitiram, como Nova Iguaçu e Niterói. Mas o interior também sofre muito, principalmente o Sul e o Norte Fluminense. No Sul, municípios como Porto Real e Resende, onde a crise afeta fortemente o setor automotivo. No Norte há economias muito ligadas ao petróleo, como a de Macaé.

Além disso, muito dos megaempreendimentos previstos para o Rio ficaram pelo caminho, como o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), em Itaboraí...

Segundo a própria Petrobras, a retomada das obras do Comperj depende da recuperação econômica. A posição oficial é que devem recomeçar só em 2022, eventualmente em 2018.

Quais as chances dessa recuperação econômica a curto prazo?

Vai ser difícil uma retomada sem uma solução da crise fiscal do estado, que vem impactando nas demandas dos servidores e do governo. Nas condições atuais, o Rio demoraria bastante para se recuperar. Precisaria de medidas adicionais (além do plano de recuperação fiscal em discussão em Brasília). O problema é que não vejo no horizonte estratégias do estado para sair dessa situação. Pelo contrário, o impedimento de incentivos fiscais, por exemplo, mesmo a empresas novas, afasta investimentos. E o que Rio precisa é de atração de novos negócios. Mas a opção, desde 2015, tem sido o aumento da carga tributária, o que cria um ambiente ainda mais hostil aos investimentos. O efeito disso, no fim, é uma queda na arrecadação.

Por que o Rio enfrentou uma deterioração tão drástica, em tão pouco tempo?

Só na indústria, de 2012 a 2016, a queda na produção foi de 20%, pior do que na década de 1990, que foi um período muito ruim para o Rio. Por um lado, a economia do Rio tem como um de seus pontos fortes justamente alguns dos setores mais impactados pela crise nacional, como o do petróleo, a construção civil, o automotivo e a metalurgia. Soma-se a isso a questão política do estado. Por isso vimos a economia fluminense se deteriorar ainda mais rápido do que a nacional.

Há alguma luz no fim do túnel?

Um ponto importante é que a indústria extrativista, no caso a do petróleo, tem se recuperado. É o carro-chefe do estado. Pode ter efeitos positivos no Norte Fluminense e na capital. A retomada econômica do país pode ajudar o polo automotivo do Sul Fluminense.


Fonte:Jornal o Globo 

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