Governo fixa meta menor de inflação para 2019, de 4,25%.

Número para 2020 também foi reduzido, a 4%.


BRASÍLIA - Sob críticas de que poderia perder a oportunidade de manter a inflação baixa no país, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu fixar não apenas meta para 2019 como esperado, mas também a de 2020. Numa reunião extraordinária nesta manhã, os ministros determinaram que o objetivo para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2019 em 4,25%, como previam os analistas do mercado financeiro. E ainda estabeleceram em 4% a meta para 2020. O intervalo de tolerância para os próximos anos será de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Essa é a mesma banda usada atualmente.

É a primeira vez desde 2003 que a meta é reduzida. Desde 2005 a meta oficial de inflação do governo está em 4,5% ao ano. Os únicos anos em que o Banco Central cumpriu essa meta foram 2006, 2007 e 2009. A meta é estabelecida pelo CMN e deve ser cumprida pelo Banco Central.

Para estipular um alvo para três anos à frente, o governo publicou um decreto no Diário Oficial, que permitiu que o conselho criasse esse objetivo. No anúncio, todo o discurso foi voltado para a necessidade de previsibilidade. Os três ministros — da Fazenda, do Planejamento e o presidente do Banco Central — frisaram que o estabelecimento de um horizonte de longo prazo de queda da inflação é fundamental para a recuperação do país.

 A fixação de uma meta menor vai levar a índices mais baixos desde que sejam críveis falou o presidente do BC, Ilan Goldfajn.


A queda na meta de inflação para 2019 é a primeira em uma década. No entanto, o mercado queria mais: não apenas um objetivo mais baixo, mas que o CMN também revisasse a marca do ano que vem, que continuou em 4,5%. O argumento é que o IPCA está muito abaixo desse patamar. Nos últimos 12 meses, a inflação está em 3,6%. E, por isso, haveria espaço para uma queda da meta já no ano que vem.

No entanto, a visão do governo é que é importante manter os objetivos traçados. O GLOBO antecipou, em maio, que a equipe econômica já tinha decido que não alteraria o objetivo para o ano que vem porque poderia abrir um precedente perigoso no futuro. Ilan confirmou isso nesta quinta-feira.

— Fixamos metas e não pretendemos mudá-las. Nem as passadas e nem as futuras — garantiu.

Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, ressaltou que alterar o objetivo para o ano que vem poderia dar sinais de que os objetivos não são firmes e poderiam ser mudados ao sabor da conjuntura.

— Existe custo de mudança de meta. Algo que surpreendesse a todos. Do ponto de vista de ancoragem de expectativas futuras, não seria bom para a inflação. É importante cada vez mais que ancoremos as expectativas.

Frisou ainda que em alguns momentos a inflação pode ficar abaixo da meta e que, por isso, há o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Essa banda foi mantida para os objetivos fixados até 2020.

Repetidamente, os três ministros que compõem o CMN citaram a desarrumação da economia no governo passado, mas sem citar diretamente a equipe econômica da ex-presidente Dilma Rousseff. Lembraram que inflação alta não é sinônimo de crescimento. E explicaram que a missão agora é deixar claro que as metas fixadas serão cumpridas. E, assim, o país terá inflação mais baixa no futuro.

— Não há dúvidas que de há uma sinalização de convergência para padrões internacionais. Há uma sinalização clara de convergir para padrões internacionais.

ILAN DIZ QUE FICA NO CARGO SE TEMER SAIR

Ilan foi questionado se, à luz do acirramento da crise política, ele permanecerá no comando do Banco Central independentemente de um eventual afastamento do presidente Michel Temer e se a política monetária também seria mantida.

— Acho que a pergunta é para mim e vou ter de responder. Acho que a resposta é: sim, sim — resumiu o presidente.

Quando foi-lhe solicitado detalhes, ele disse que o Banco Central é uma instituição que preza autonomia e, portanto, é uma instituição que se mantém. Ele ressaltou que o BC olha o longo prazo.

— E o presidente do Banco Central está dentro desse contexto institucionalizado onde nós estamos trabalhando para a economia brasileira e para o país — afirmou antes de questionar os repórteres:

— Vocês não gostaram do “sim, sim”?

Quando questionado sobre qual era a garantia de que permaneceria no cargo mesmo com uma mudança de governo, Ilan começou a responder, mas antes de completar a primeira palavra, foi interrompido por Meirelles. O ministro da Fazenda disse que o governo não trabalha por hipóteses. Afirmou que a equipe econômica trabalha com foco e continuará assim. E tentou consertar o que foi dito anteriormente pelo presidente do BC.

— Agora, evidentemente, que compete ao presidente da República a nomeação dos seus ministros. Não só os aqui presentes, mas quaisquer ministros.

Interlocutores do presidente do BC, entretanto, esclareceram que a resposta foi genérica e indicava apenas que ele gostaria de permanecer à frente da autoridade monetária.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA NÃO INFLUENCIOU A META

Questionados sobre o impasse em relação à reforma da previdência no Congresso Nacional por causa da crise política, os ministros deixaram claro que a aprovação da proposta não influenciou no estabelecimento da meta. Ressaltaram, entretanto, que ela tem impacto no nível de juros que o país tem de ter para controlar a inflação.

Meirelles teve de responder novamente se o governo aumentará a Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico (Cide). Ele disse que essa equipe econômica sempre anuncia o mais rapidamente possível suas decisões. E que, se preciso aumentar imposto para cumprir a meta de manter o rombo das contas públicas em R$ 139 bilhões.


Fonte: Jornal o Globo

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