Efeitos da violência.

No Rio, varejo gastou R$ 1 bi com segurança este ano. Número de lojas fechadas sobe 78%.

“O roubo de cargas e outros indicadores de falta de segurança afetam a instalação de lojas nestes locais” Riley Rodrigues Gerente de Estudos de Infraestrutura da Firjan 29%.

Gastos de quase R$ 1 bilhão com segurança, frete 40% mais caro, fechamento de lojas e suspensão de investimentos são os rastros econômicos deixados pelo aumento da violência urbana no Rio. A Magazine Luiza anunciou esta semana que, das 60 lojas que vai abrir no país, nenhuma será no Rio por causa da violência. As despesas com segurança privada e vigilantes, equipamentos eletrônicos, grades, blindagens, reforços de portas e vitrines e seguros chegaram a R$ 996 milhões somente este ano, segundo dados do Clube de Diretores Lojistas (CDL-Rio).

O frete para a distribuição das mercadorias por transportadores subiu em média 40%, de acordo com as empresas que operam no setor. Nos oito primeiros de 2017, foram 6.860 casos de roubo de carga, o equivalente a 870 episódios por mês. No ano passado, essa média estava em 822. Os ataques a caminhões de carga dos Correios no estado cresceram 117% este ano. Por causa da violência, os Correios estão preparando plano logístico de segurança especialmente para o Rio de Janeiro, segundo a empresa, para preservar a integridade física dos empregados e da carga.

A falta de segurança intensificou os efeitos da recessão, e lojas e indústrias fecharam. Encerraram as atividades 9,7 mil lojas no primeiro semestre deste ano em todo o estado, alta de 55% em relação aos 6,2 mil fechadas no mesmo período do ano passado. Na capital, o salto foi ainda maior: 78%. Enquanto no primeiro semestre do ano passado 2,3 mil lojas fecharam, este ano foram 4,1 mil, quase o dobro de 2016. A maior parte, 2,8 mil, nas zonas Norte e Oeste, de acordo com dados do Centro de Estudos do CDL-Rio. MENOS ESTOQUE DE CELULARES Mapeamento produzido pela Federação do Comércio do Rio (FecomércioRJ), entre janeiro de 2015 a agosto de 2017, mostra que fecharam mais estabelecimentos no setor de comércio de bens, serviços e turismo nos bairros da Pavuna, Costa Barros, Jacaré, Deodoro, Mallet, Vila Kennedy, Largo do Machado e Bairro de Fátima. A L’Oréal, por exemplo, encerrou suas atividades na Pavuna por causa da violência.

— A sociedade é afetada diretamente numa situação de roubo de cargas, venda de produtos pirateados, falsificados, contrabandeados. O estado tem queda de arrecadação e, com menos receita, faz menos investimentos. A população é prejudicada, e o setor produtivo tem aumento de custos com segurança, frete e logística. Esse é um desafio para toda sociedade carioca e fluminense — afirma Natan Schiper, diretor-secretário da Fecomércio-RJ.

Aldo Gonçalves, presidente do Clube de Dirigentes Lojistas do Rio (CDL-Rio), diz que a violência vem fechando estabelecimentos no Rio, seja por causa da falta de segurança dos próprios funcionários e prejuízos, quanto pela queda de movimento. Os moradores da cidade estão evitando certas regiões da cidade e esvaziando restaurantes em determinados horários com medo da violência.

— A loja do Ponto Frio de Ipanema já foi assaltada 18 vezes esse ano — exemplificou Gonçalves.

Com aumento de roubos a lojas que vendem celulares, os comerciantes passaram a trabalhar com um estoque mínimo mesmo nos shoppings, afirmou Luís Augusto Ildefonso, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop):

— O gasto com a reposição é maior, mas compensa em caso de roubo.

Diretor de uma grande rede varejista do ramo de vestuário, que pediu para não ser identificado, disse que a empresa decidiu fechar 11 das suas 32 lojas no Rio nos últimos dois anos. Foi o estado onde mais fecharam lojas. Além da violência, a crise no Rio tem sido mais sentida do que no restante no país, por causa da penúria fiscal do governo estadual.

— O movimento caiu 30% em média, e muitas lojas passaram a dar prejuízo. Além da violência, há o problema da crise do estado. Acredito que o varejo ainda deve demorar alguns anos para voltar a faturar como antes. Optamos por fechar 40% do nosso negócio no Rio — disse o executivo. CORREIOS: RESTRIÇÕES DE ENTREGA A Via Varejo, que administra as lojas do Ponto Frio e Casas Bahia, disse que desde o fim do ano passado tem usado escoltas armadas para fazer as entregas nas lojas de todo o Estado do Rio, procedimento que até então era adotado somente em algumas áreas. Além do reforço na escolta, a empresa tem investido em sistemas de segurança eletrônicas e aumentado o número de seguranças nas lojas. Sem informar valores, a rede disse ter tido aumento nos custos com segurança no estado.

Dono de uma transportadora em Minas Gerais, Maurício Rodrigues, que opera há 15 anos na distribuição de produtos no Rio, afirma que o preço do seguro das cargas subiu 50% em dois anos.

— Minha empresa não tem interesse em aumentar a participação dos negócios no Rio. Na verdade, se eu pudesse até evitaria as operações para a Região Metropolitana, mas 25% do volume de pedidos ainda é para o mercado consumidor do estado — afirma Rodrigues.

Os Correios já tinham implementado um mapeamento com restrições de entrega em endereços de alguns bairros como: Costa Barros, Ricardo de Albuquerque, Irajá e Thomaz Coelho. Segundo a estatal, nesses locais os consumidores que fazem compras pela internet devem retirar os produtos em uma agência. No ano passado, a estatal contratou escolta armada, rastreadores de carga, gerenciamento de risco, com valor de investimento de R$ 19,8 milhões, somente no Rio de Janeiro — 46,8% a mais que em 2015.

— O roubo de cargas e outros indicadores de falta de segurança afetam a instalação de lojas nestes locais. Algumas situações mexem na estrutura industrial e são observadas durante a tomada de decisões para o empresário preservar seu patrimônio. Isso afasta investidores, mas não é apenas a questão da violência. O estado atravessa uma crise. Há a questão da concessão de incentivos. As regiões com dinâmica econômica mais fraca sentem os efeitos da crise mais rapidamente e de maneira mais profunda — ressalta Riley Rodrigues, gerente de Estudos de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Rio (Firjan).



Fonte: Jornal o Globo

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