Dólar se aproxima de R$ 4,20 e força intervenção





No dia em que o dólar caminhava para renovar suas máximas históricas e já superava a marca de R$ 4,19, o Banco Central mostrou um pouco da munição que carrega para enfrentar momentos de nervosismo. Pela primeira vez em dez anos, desde fevereiro de 2009, a autoridade monetária injetou dólares no mercado à vista, numa operação feita sem aviso prévio nem retirada de contratos de swap cambial como vem fazendo nos últimos dias. Ou seja, mexeu nas reservas internacionais para acessar um instrumento de intervenção bastante potente.

O tamanho da surpresa fica claro no tombo do dólar. Perto do horário do almoço, quando a operação foi anunciada, a moeda americana despencou. Saiu de mais de R$ 4,19 para níveis próximos de R$ 4,12, o que evitou que o dólar rompesse a máxima histórica de fechamento: de R$ 4,1952, registrada em 19 de setembro do ano passado. Vale dizer, contudo, que ao longo do dia a queda foi paulatinamente se revertendo e a cotação encerrou o pregão em alta de 0,50%, aos R$ 4,1575.

Profissionais de mercado notaram que a moeda americana já vinha em trajetória de alta, em linha com o exterior, mas acelerou o ritmo após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmar que não via nenhum comportamento atípico no câmbio, gerando receio de que não haveria suporte ao mercado. "Recentemente, com temas comerciais e geopolíticos, o dólar se valorizou em relação a todas as moedas", disse o dirigente. Campos até admitiu que o real tem demonstrado desvalorização um pouco acima dos demais emergentes, mas notou que está "no padrão".

Com a leitura dos agentes de que não havia ninguém do lado vendedor, o mercado entrou em uma espécie de "espiral negativa". E isso teria forçado a autoridade monetária a agir. "O BC deve ter ficado desconfortável e, no intuito de acalmar esse ânimo, decidiu entrar no mercado", diz um profissional de tesouraria de um grande banco local.

O BC anunciou oferta de dólares no mercado à vista, com lotes mínimos, oferecidos às instituições financeiras, de US$ 1 milhão. A taxa de corte para a venda foi de R$ 4,1250 - abaixo dos valores negociados no mercado. Mas o volume vendido de fato só será informado nos próximos dias com a atualização dos dados das reservas internacionais.

Apesar da intervenção, o fechamento em alta do dólar indica que o câmbio deve se manter sob pressão nos próximos dias. A operação foi adotada num momento de claros sinais de falta de liquidez. O dólar à vista estava sendo negociado acima do preço do contrato futuro, enquanto a taxa do FRA de cupom cambial (juros em dólares) saltava para mais de 3,30% na B3. Estes são todos indícios de que o mercado busca dólares, num momento de nervosismo no exterior e pressão de remessas sazonais típicas do fim do mês. E tudo agravado pela perspectiva de novos cortes de juros, o que diminui a atratividade do mercado local diante do fluxo internacional.

Entre os entrevistados é unânime a avaliação de que o BC não atuou para defender um nível determinado da moeda, mas uma apreciação excessivamente rápida. "Claramente houve uma disfuncionalidade, não no nível, mas na velocidade com o que o dólar andou", diz um diretor de câmbio. Porém, o BC indica, ainda que informalmente, uma espécie de patamar de intervenção, diz outro profissional. "Não acho que seja isso que o BC esteja querendo defender, mas o mercado poderá trabalhar com esse ponto informalmente", afirma.

Os sinais do mercado são de que a disfuncionalidade não acabou. E isso deve manter os agentes em alerta por novas atuações. Ontem, depois do fechamento do pregão, o BC anunciou para hoje leilões para rolagem de US$ 1,5 bilhão em operação de linha - venda com compromisso de recompra - que venceria em setembro.

Além do câmbio, um efeito talvez até mais expressivo da ação do BC ontem foi sobre os juros futuros. As taxas dispararam, logo após o anúncio, porque o mercado passou a temer que, com o dólar nesse preço, o cenário de corte de juros fica sob risco - vale lembrar que o mercado vinha carregando muitas apostas em queda de juros. "A leitura é que, se a intervenção falhar, o instrumento será a política monetária", explica um experiente profissional de mercado. Por outro lado, o receio se dissipou em parte até o fechamento e muitos analistas acreditam que os fundamentos respaldam a queda da Selic para perto de 5%.



Fonte: Valor

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