Circuit Breaker 2020: as lições aprendidas no pior dia da Bolsa no século


Na última segunda-feira (9), o Ibovespa teve o circuit breaker acionado após a queda de mais de 10% no início do pregão, impulsionada pela derrocada dos preços do petróleo em meio ao imbróglio entre a Arábia Saudita e Rússia, dois dos três maiores produtores mundiais.
Para falar a respeito, o time do Stock Pickers realizou um episódio especial ao vivo para discutir os aprendizados com o primeiro circuit breaker de 2020. O convidado para a roda de conversa foi Francisco Utsch, diretor de investimentos da Kiron Capital. Ele tem cerca de 16 anos de experiência no mercado de ações.
“A gente vinha do ano passado muito positivo para bolsa. Vimos o S&P500 subir 30%, empresas de tecnologia também subindo e o próprio Ibovespa subiu cerca de 30%. Fazia tempo que não via um ano, que não fosse após um crash, com um movimento tão forte. E dentro desse tipo de movimento é normal ter exageros, e geralmente o mercado acerta a direção, mas erra a intensidade e nosso trabalho é tentar garimpar as oportunidades”, afirmou Utsch.
O gestor está otimista para os próximos anos e contou como a Kiron lidou com a turbulência que o mercado enfrentou.
“A primeira coisa que fizemos foi limpar o caixa. Usamos tudo, que não era muito. Viramos fevereiro para março, depois do CoronaDay, 97% comprados mais ou menos. Mas apostamos em nomes específicos, como a Azul”, diz.
Segundo ele, sempre que existe um choque muito grande, seja de câmbio, commodity, algo que pode balançar muito a estrutura do mercado, o mais importante ao olhar para a empresa que será comprada é se ela vai sobreviver na hora que a coisa normalizar.
“Não se sabe quanto tempo demora, então é preciso ter certeza que a companhia ficará de pé depois. Todas as empresas que aumentamos a posição, ou elas não tinham problema de alavancagem ou achamos que valia o risco”, explica.
Utsch acredita que também é fundamental se manter alinhado ao fundamento operacional mesmo em dias turbulentos. “Ao olhar a dinâmica da empresa que vamos aumentar a posição, precisamos enxergar um negócio que vai continuar crescendo significativamente, que tem uma trajetória de expansão de margem e de resultados. Não adianta só estar barato se o fundamento não está tão bom. Isso porque ao longo do tempo, se o contexto negativo se estende, é uma posição que vai ficando incômoda”.
Ele afirma que o ideal, se o gestor tem uma carteira bem montada, é querer comprar mais da ação, se ela cair 20% ou 30% – porque está barato. “Quando uma ação está caindo 20% ou 30% e você quer vender, errou a tese. Algum pilar do racional de investimento não se concretizou”, diz.
Além disso, ele conta que durante o pregão do circuit breaker teve que tomar uma decisão difícil.
“Usamos o caixa todo, mas ainda tinha algumas posições que queríamos estar comprados. Então, tivemos que tomar a decisão difícil de vender alguns papeis que gostamos, para comprar outros que gostamos ainda mais. É uma situação complicada porque eventualmente nessa troca de ativos é possível se perder no meio do caminho e fazer um mau negócio, principalmente porque a volatilidade é grande e não tem como saber o parâmetro de onde os preços vão se estabilizar”, afirma.
Por isso, segundo ele, é tão importante estar confortável com os fundamentos da empresa. “Para não ter erro, aposte em empresas que você conhece, que já tem a lição de casa feita ou que consegue fazer rapidamente durante o pregão”.

Petróleo, dólar e coronavírus: pode ficar pior?

No contexto desse pregão em especial, uma série de fatores estavam envolvidos e nenhum operando no terreno positivo: uma questão geopolítica entre Arábia Saudita e Rússia, o dólar disparando e sem saber o próximo ponto de alcance da epidemia do coronavírus.
O desafio de muitos gestores é entender se o momento é propício para colocar mais dinheiro ou se o ciclo acabou é hora de “fugir para as colinas”.
Para Utsch é preciso pensar nisso o tempo todo e ser flexível caso perceba que os movimentos estão mudando. “Mas por enquanto não achamos que houve uma mudança desse cenário. O câmbio me dá um pouco mais de frio na barriga pelo potencial impacto inflacionário. O que poderia quebrar esse potencial do Brasil, seria acabar com o ciclo de redução de juros e eventualmente entrar para um ciclo de elevação de juros. É um ponto de atenção”, diz.
“A questão do petróleo, pela primeira vez, vamos viver algo que acontece em países desenvolvidos como nos EUA, é ter uma queda no petróleo e isso ser repassado para a população. Porque na prática, se isso realmente acontecer, você tira dinheiro das petroleiras e passa para o bolso do consumidor brasileiro. Pode ser algo positivo. E sobre o coronavírus, é difícil prever o tamanho do impacto. Mas cada vez mais vejo que será um impacto de curto prazo. Não dá para afirmar, mas acho que é choque pontual”, diz.


FONTE:  infomoney.com.br

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