Empreender é preciso

Ao que tudo indica, o filósofo e escritor chinês Lao Tse – que conforme se presume teria vivido entre os anos 700 e 400 a.C. – foi um dos primeiros pensadores a identificar o empreendedorismo como característica essencial do homem e sugerir uma regra básica para a organização social nele fundamentada. Consta de seus célebres textos: "O sábio (governante) não interfere com o povo, e ele (o povo) irá se transformar espontaneamente e ao mundo (...)" Hoje, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a atividade empreendedora pode ser definida como "a ação empresarial humana na busca por geração de valor, por meio da criação ou expansão da atividade econômica, ao identificar e explorar novos produtos, processos ou mercados." Considerando-se somente esse conceito, estimular o empreendedorismo seria uma estratégia imperativa no atual momento global.
A própria OCDE reconhece, porém, que para ser bem sucedido, qualquer plano traçado com vistas ao aprimoramento de um ecossistema empreendedor deve levar em conta uma série de fatores, os quais não são tão simples de serem avaliados ou diagnosticados. Com o objetivo de facilitar essa análise, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) desenvolveu uma metodologia, pela qual associa o nível de desenvolvimento de um país ao tipo de empreendedorismo predominante e às políticas públicas que seriam mais eficazes, com fins de se impulsionar e sustentar o empreendedorismo local.

O WEF divide os países, de acordo com o estágio de desenvolvimento, em três grupos. Países 'Factor Driven' são os mais atrasados, dentro de um critério que leva em conta o Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o percentual de bens primários na pauta de exportações. A economia desse grupo é focada na agricultura de subsistência e no extrativismo, com relevante utilização de mão-de-obra em todas as etapas do processo produtivo. Classificadas em uma fase intermediária, nações 'Efficiency Driven' são industrializadas, com maior dependência de economias de escala e marcadas pelo uso de capital intensivo no meio empresarial. No topo da pirâmide, estão os países 'Innovation Driven', nos quais o ambiente econômico é voltado para a inovação. Nesta fase, o setor de serviços ganha peso e as companhias priorizam o investimento em conhecimento.

O professor de finanças do Ibmec-RJ e consultor da Probatus Consultoria Marcelo Henriques de Brito chama atenção para o fato de existirem, basicamente, dois tipos de empreendedores: os que o fazem por necessidade, na luta pela sobrevivência, comumente possuidores de baixa escolaridade, mas com elevado tino comercial; e aqueles que partem da identificação de alguma oportunidade específica para a criação de novos produtos, serviços, ou ainda, para a exploração de novos mercados, apesar de possuírem boas alternativas de emprego e de renda. Esse último perfil é predominante em países com maior grau de desenvolvimento (e maior renda per capita), ou seja, naqueles que estariam entre as fases 'Efficiency Driven' e 'Innovation Driven'. Já em nações mais atrasadas, a motivação mais forte para empreender decorreria das dificuldades de inserção no mercado de trabalho, além das condições de emprego mais precárias. Se por um lado, o empreendedor por oportunidade usualmente elabora um planejamento, correndo riscos calculados, é comum que empreendedores por necessidade se lancem no mercado de maneira intempestiva e improvisada, reduzindo as chances de êxito.

Henriques de Brito ressalta que, além de o ambiente incentivar o surgimento de determinado tipo de empreendedorismo, as características locais também tendem a atrair empreendedores com diferentes perfis. "Assim como imigrantes europeus no início do século XX foram muito bem sucedidos em países desestruturados, o empreendedorismo por necessidade continua sendo mais viável em locais com procedimentos confusos e arbitrários, onde a economia informal e ilegal consegue se estabelecer. Em contrapartida, países marcados pela liberdade política e empresarial, por sistemas tributários não inibidores e desburocratizados, pela clareza das leis, solidez das instituições, com centros intelectualmente estimulantes e fontes de financiamento que prezam o mérito, estes locais costumam atrair empreendedores mais qualificados, que vão atrás da realização de seus sonhos. É o caso do Vale do Silício nos Estados Unidos e de certas regiões na Europa, para onde ocorreu uma verdadeira fuga de talentos (brain drain) de nações com baixas taxas de produtividade e inovação."


Fonte:JC

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