A
confirmação, na sexta feira, de que a economia ainda patinou no primeiro
trimestre veio no momento em que o governo conta com pequena margem de manobra
para a adotar mais medidas de estímulo ao consumo e à indústria, segundo
economistas. Para especialistas do mercado consultados pelo Jornal do
Commercio, mais investidas deste tipo poderiam resultar em pressões
inflacionárias que comprometeriam a expansão econômica no médio prazo. O crescimento
do PIB nos três meses até março foi de 0,2%,
na comparação com os três meses finais de 2011. “Medidas para acelerar a
retomada do crescimento do País neste momento seriam revertidas em inflação em
alguns meses”, diz o gestor de investimento s da Lecca Investimentos, Georges
Catalão. Para ele, a melhor alternativa seria deixar de lado as ofensivas para
turbinar a demanda interna, que vêm sendo feitas desde agosto do ano passado, e
concentrar os esforços no sentido de incentivar investimentos em produção e
infraestrutura. “Não tem como o Brasil crescer continuamente a base de consumo
de carros e eletrodomésticos”, afirmou Catalão, se referindo à decisão do
Planalto de utilizar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
sobre estes bens para estimular a expansão econômica. “Não há muito o que fazer
além de esperar até que os estímulos injetados na atividade desde o ano passado
surtam efeito”, disse o economista-chefe do Banco Votorantim, Leonardo
Sapienza. Apesar do prognóstico, o economista prevê que o Banco Central
encontrará espaço para segui r buscando o fortalecimento da economia por meio
de mais cortes na taxa básica de juros (Selic), caso o governo cumpra à risca a
promessa de atingir a meta cheia de superávit primário de 3,1% no fim do ano.
Desde agosto de 2011, a Selic teve sete
cortes, saindo de 12,5% para o piso histórico de 8,5% na semana passada. Na
sexta-feira, após a divulgação do PIB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
voltou a garantir que o Planalto continuará perseguindo a meta cheia. A
afirmação desmente rumores de que o governo estaria estudando a possibilidade
de sacrificar o superávit, na tentativa de ampliar o volume de recursos para
investimentos. Aumento das despesas Apesar do discurso de Mantega, a economista
da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro avalia que o crescimento de 3,4%,
em base anual, nos gastos públicos no primeiro trimestre aponta para uma
tendência de aumento nas despesas do governo. “Nas próximas semanas, deve sair
alguma evidência mais clara de que o governo abrirá mão do aperto fiscal
visando a um crescimento econômico maior”, projeta, ao lembrar que o componente
teve avanço de 1,9% ao longo de 2011. “Além disso, 2012 é ano eleitoral e nestes
períodos este tipo de dispêndio sempre tende a crescer”, acrescentou. De acordo
com a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca De La Rocque Palis, o salto na
linha de gastos do governo foi resultado de uma base de comparação deprimida.“No
começo do ano passado, primeiro do mandato da presidente Dilma Rousselff, houve
um severo corte fiscal”, assinalou. Sapienza ressalta que se as contas forem de
fato mantidas em ordem, o governo não encontrará espaço para acomodar mais
medidas de renúncia fiscal, como as empacotadas nas políticas de incentivo ao
consumo e à indústria. “Com a economia crescendo menos, a arrecadação será
menor, o que reduzirá ainda mais o escopo para um afrouxamento fiscal como o
adotado em 2008 e 2009, quando o governo reduziu o superávit em troca de crescimento”,
explica. Catalão, da Lecca Investimentos, lembra que a promessa de apertar o
cinto em relação aos gastos públicos foi assumida no ano passado, na tentativa
de pavimentar o caminho para o que o BC pudesse reduzir a Selic. “Mudar de
ideia a essa altura significaria ter que lidar com o problema da inflação lá na
frente”, argumenta. Dado o contexto, Sapienza estima que a saída do governo
para seguir tentando fazer a economia ganhar tração será continuar usando as
instituições públicas para forçar a queda dos
juros nos sistema bancário e o
aumento da oferta de crédito no mercado. (M.C.F)
Fonte: JC
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