Há
muito tempo, mesmo os economistas mais
ortodoxos, muitos invocando Keynes, repudiam as propostas do laissez faire –
laissez passer, lançadas por Adam Smith, em 1776, segundo as quais o mundo
econômico se autorregula e o mercado é ordenado por uma “mão invisível” que
dispensa a presença e a intervenção regulatória do Estado. Durante muitos anos,
o liberalismo econômico pautou o relacionamento do Estado com a iniciativa
privada, no pressuposto de que a dinâmica econômica, pela via principalmente da
lei da oferta e procura, assegura o equilíbrio das forças do mercado.
Sucessivas crises econômicas, principalmente a partir da grande depressão dos
anos trinta, provaram o contrário. Deixado ao livre arbítrio dos agentes
econômicos, o mercado tende ao abuso, à exploração do mais fraco pelo mais forte,
ao monopólio, ao enriquecimento ilícito. Com o avanço da tecnologia da
informática, que imprimiu extrema velocidade às operações no comércio
internacional, e, especialmente, ao sistema financeiro, esse espantoso
crescimento deu margem às formas mais abusivas de especulação e desvios da boa
administração. As operações de hedge e derivativos nas Bolsas de Mercadorias e
Futuros transformaram o mercado de capitais em verdadeiro cassino. No início,
esses avanços da tecnologia produziram uma intensa euforia, tanto dos
empresários como dos consumidores, com a inusitada expansão do crédito,
praticamente sem limites. No final do Século XX, tivemos vários anos de forte
expansão econômica, interrompidos apenas em 2001, pelo atentado terrorista nos
Estados Unidos. Logo depois, voltaram o otimismo, o açodamento do consumo e a
explosiva expansão do crédito e da securitização. O sistema financeiro adquiriu
uma acintosa prevalência sobre a economia real. Em setembro de 2008, deu-se a
quebra do Banco Lehman Brothers, pondo a descoberto toda a trama especulativa do sistema financeiro. A
partir daí, o mundo se deu conta de que tudo isso aconteceu pelo excesso de
liberdade conferido especialmente aos bancos e à ausência de uma prudente
fiscalização e regulação de parte do Estado. A crise financeira e fiscal,
seguida de impressionantes níveis de desemprego, assombrou a economia dos
Estados Unidos e da Europa. A crise pouco nos ensinou em termos de teoria
econômica, mas deixou uma lição dramática: o liberalismo econômico foi posto em
cheque e nem os mais ortodoxos economistas são capazes de defendê-lo sem
reservas. O grande risco, agora, é o ressurgimento dos socialistas,
mancomunados com fanáticos ambientalistas, que vão ao extremo ideológico de
propor o fim da empresa privada e do direito à propriedade, a essência do
capitalismo. É impressionante a audácia de alguns ambientalistas que propõem um
novo modelo de desenvolvimento econômico, baseado no crescimento zero dos
países desenvolvidos e emergentes, como resposta à expansão demográfica, a fim
de evitar uma dramática crise de alimentos, de água e de energia. Mesmo no
Brasil, que não tem esses problemas, há fortes correntes, inclusive no Governo,
advogando drásticas providências para “erradicar a pobreza mundial”. Fez-se uma
perniciosa confusão. O erro não está no capitalismo privado, mas, no excessivo
liberalismo e na falta de adequada regulação e eficiente fiscalização da parte
do Estado. Cabe ao Estado corrigir essas distorções.
Fonte: JC
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