Seca leva Petrobras a pagar mais por GNL importado

No Brasil, gás natural é usado como combustível substituto, em termelétricas, em épocas de chuvas escassas, quando caem os níveis dos reservatórios das hidrelétricas

O Brasil está pagando preços altos por importações de emergência de Gás Natural Liquefeito (GNL), para lidar com uma crise no setor de eletricidade, em um momento em que a pior seca em décadas ameaça o fornecimento de hidrelétricas principalmente no Nordeste do País. O GNL, gás natural resfriado ao estado líquido para o transporte, é usado como combustível substituto no Brasil, em termelétricas, durante os meses de chuvas escassas, quando caem os níveis dos reservatórios de água das hidrelétricas. A Petrobras entrega gás às termelétricas a preços pré-determinados em contratos fechados em 2006, 2007 e 2008, mas se o preço do insumo sobe no mercado spot (à vista), como agora, ela compra por um preço alto e tem de vender por um valor mais baixo. Segundo cálculos da consultoria Gas Energy, o prejuízo é de cerca de R$ 240 milhões por mês, já que o preço do gás disparou, impulsionado por uma onda de frio na Ásia e na Europa. A estatal contesta esses números, mas não revela quanto perde. A consultoria diz porém que, somado com o prejuízo da companhia com a importação de diesel e gasolina, a Petrobras tem perdido US$ 1,12 bilhão por mês com a importação de combustíveis a preços mais altos do que os de revenda. Em nota, a Petrobras diz que o negócio das térmicas flexíveis precisa ser avaliado num “horizonte de tempo compatível com a duração dos contratos, de 15 a 20 anos”. O presidente da Gas Energy, Marco Tavares, critica o modelo assumido pela Petrobras, em que a companhia compra no mercado spot e vende no modelo flexível. “O problema está no modelo, uma empresa privada não assumiria este risco, pois pode não ser financiável. Não tem como prever, não tem como se proteger”, disse. Empresas de comércio exterior calculam que a Petrobras tem recebido no máximo US$ 12 por milhão de BTUs no despacho flexível das termelétricas, enquanto paga cerca de US$ 18 por milhão de BTUs no mercado spot. As perdas acontecem em cima da diferença de US$ 6. Como não é possível prever a demanda, a Petrobras também não tem como se proteger (hedge).
Importação
Até novembro de 2012, a Petrobras importou 11,9 bilhões de metros cúbicos de gás, o maior volume em mais de uma década. O engenheiro Luis Olavo Dantas, consultor e editor do site sobre gás natural Gasnet, lembra que o Brasil é abastecido por produção nacional (na casa de 70 milhões de metros cúbicos/dia), pelo gasoduto da Bolívia (30 milhões de metros cúbicos/dia) e pelo gás natural liquefeito (GNL). Foram em média 13 milhões de metros cúbicos/dia de GNL em 2012, chegando de navio ao Brasil na forma líquida a baixas temperaturas. A Petrobras esquenta o gás importado líquido para que volte ao seu estado inicial em dois terminais de regaseificação, no Rio e no Ceará, somando capacidade para 21 milhões de metros cúbicos/dia. No contrato flexível, a Petrobras fornece o gás quando as termoelétricas precisam ser acionadas para compensar a produção insuficiente das usinas hidrelétricas. “Não há demanda firme o ano inteiro, por isso o contrato é flexível, não há necessidade de contrato firme”, disse Dantas. A Petrobras defende o modelo: “As termelétricas flexíveis têm papel de grande importância uma vez que são acionadas em complemento às hidrelétricas, nos momentos de baixo nível de reservatório e/ou baixas afluências”. Em 2010, também houve despacho térmico elevado, embora em menor nível do que hoje. No entanto, o gás no mercado internacional estava em cerca de US$ 8 a US$ 10 por milhão de BTUs, segundo a consultoria. Segundo Tavares, o prejuízo da Petrobras foi evidenciado em novembro com o aumento do despacho e a situação não deve se alterar antes de março. “Mesmo com chuvas, as usinas movidas a gás são as últimas a serem desconectadas. Primeiro são as movidas a diesel e a óleo combustível”, disse Tavares. (Com agências)


Fonte: JC

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