Todas as seis empresas do grupo EBX, com exceção da MPX Energia,
perderam mais de 90% de seu valor de mercado desde que atingiram suas máximas
À
medida que o império industrial de Eike Batista desmorona, sua situação cada
vez mais se parece com a construção do Porto de Açu, um dos empreendimentos
mais visíveis do empresário e que se assemelha a um monte de areia no meio de
um pântano. Para construir o terminal, estaleiro e parque industrial de
petróleo e minério de ferro de 2 bilhões de dólares, localizado a 300 km do Rio
de Janeiro, o maior navio de dragagem do mundo atravessou a praia e escavou 13
quilômetros de docas entre dunas e restinga. E para manter os usuários do porto
secos, a areia está sendo usada em aterros de até cinco metros acima das
planícies inundadas do entorno. O complexo, uma vez e meia do tamanho de
Manhattan, tem um outro cais, de 3 km, que pode receber meia dúzia dos maiores
petroleiros e cargueiros do mundo ao mesmo tempo. No entanto, apesar de todo
esse trabalho e de um país desesperado por portos e outras infraestruturas
pesadas, os investidores consideram quase sem valor as três empresas do grupo
EBX com participações em Açu. Todas as seis empresas do grupo EBX, com exceção
de uma, perderam mais de 90 por cento de seu valor desde que atingiram suas
máximas, e as ações da OGX Petróleo e Gás (OGXP3), principal empresa
do grupo, estão sendo negociadas a níveis que sugerem que um calote é iminente.
Eike, que foi o mais bem sucedido empresário do Brasil durante a década do boom
das commodities, tem sido obrigado a ver uma das maiores fortunas do mundo
desaparecer. No ano passado, quando a revista Forbes classificou sua fortuna
como a sétima maior do mundo, Eike se vangloriou e disse que se tornaria o homem
mais rico do mundo. O Brasil, que durante o boom cresceu em seu ritmo mais
rápido em três décadas, estagnou. Conversas sobre um "milagre
brasileiro" foram substituídas por protestos contra a corrupção. A fortuna
pessoal de Eike encolheu em mais de 20 bilhões de dólares e isso lhe custou o
título de homem mais rico do Brasil. "A situação de Eike é incrível, no
sentido verdadeiro da palavra", disse Chris Kettenmann, analista de
petróleo e gás da Prime Executions, uma corretora de ações de Nova York.
"É espectacular ver o quanto de valor foi corroído." Os
empreendimentos da EBX em petróleo, construção naval, energia e transporte
podem sobreviver em uma versão reduzida. Eike, porém, provavelmente não será o
controlador, sendo obrigado a vender sua parte para pagar dívida. Batista tenta
vender ativos de sua companhia de carvão, a CCX (CCXC3), de ouro, a AUX,
além de participação na produtora de minério de ferro MMX (MMXM3), disse à Reuters
nesta terça-feira uma fonte ligada ao Grupo EBX, em meio à limitação de caixa
para executar projetos que requerem grandes cifras. A EBX recusou pedidos para
entrevistar Eike e outros executivos do grupo.
Sinergias se tornam passivos
No ano passado, a "sinergia" e
as ligações financeiras entre as empresas do grupo EBX, que ajudaram Eike a
vender cerca de 7 bilhões de dólares em ações para investidores minoritários
desde 2006, tornaram-se passivos. Em junho de 2012, a petrolífera OGX revelou
que a produção de seu primeiro campo foi menor do que esperado, aumentando as
preocupações de que o estaleiro da OSX Brasil SA (OSXB3) receberia menos
pedidos da OGX, seu principal cliente. Como a OSX é âncora de Açu, detido pela
LLX Logistica SA (LLXL3), do grupo EBX, as
ações da LLX também caíram. E os dominós continuam caindo, graças em parte aos
níveis elevados do endividamento das empresas do grupo EBX, e à falta de
transparência nos negócios com a holding pessoal de Batista, a Centennial
Investments. Ao mesmo tempo que Eike propôs comprar mais ações da OGX e da OSX
para acalmar os investidores minoritários, ele também trouxe ajudas externas. Em
março de 2012, Batista vendeu 5,63 por cento da Centennial à Mubadala
Development Corp , um fundo soberano de Abu Dhabi, por 2 bilhões de dólares. O
que Eike não disse que na época foi que ele concordou em se desfazer de uma
participação indeterminada da EBX em favor da Mubadala, caso o investimento na
Centennial não proporcionasse um retorno anual de 5 por cento, de acordo com
uma reportagem da Bloomberg News de dezembro. Desde então, aumentaram as
especulações de que Eike está lutando para cumprir os termos de Mubadala, bem
como os de seus próprios banqueiros. A Centennial também vendeu 0,8 por cento
de participações para a General Electric em maio de 2012. A Mubadala detém uma
participação de GE.
Dúvidas sobre as dívidas
Diante de tal dúvida, nem mesmo a injeção
de mais de 1 bilhão de dólares em capital de resgate da petrolífera malaia
Petronas em maio, e em março da alemã E.ON, além do apoio do banco de
investimentos BTG Pactual SA, do bilionário André Esteves, conseguiram deter a
queda da EBX. A dívida de Eike, ou "alavancagem", é alta, disse Frank
Holmes, executivo-chefe da US Global Investors de San Antonio, Texas, que
conhece Eike desde o final da década de 1980. No final de março, a dívida de
longo prazo das empresas OGX, MPX (MPXE3), OSX e LLX, que
detém Açu, estavam em mais do triplo dos níveis médios de endividamento de
empresas similares, e representavam de um terço a um quinto do capital total de
cada empresa. Tais níveis implicam grande risco. Sem fluxo de caixa positivo ou
lucro, pagar a dívida exige que as empresas do grupo EBX gastem um dinheiro que
seria melhor utilizado para concluir projetos e aumentar receita. O Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Fundo da Marinha
Mercante do Brasil emprestaram ou ofereceram empréstimos à EBX. Eles podem
intervir para proteger seu investimento, mas o fluxo de caixa prometido para o
pagamento de dívidas está sendo atrasado pela burocracia brasileira e as
próprias falhas de gestão de Eike. "O cara alavancou tudo, e os banqueiros
como todas as outras pessoas acreditaram na visão dele. É fácil fazer
isso", disse Holmes. Agora aqueles crentes já não têm tanta certeza. Desde
março, os títulos com vencimento em 2018 e 2022 têm constantemente se
desvalorizado. Começando em 5 de junho, eles caíram para menos de um terço de
seu valor nominal, nível que sinaliza um aumento das chances de default. Em
maio, Eike vendeu 70,5 milhões de ações na OGX por 57 milhões de dólares,
cortando sua participação na petrolífera para 59 por cento ante 61 por cento
anteriormente, vendendo por menos de um terço do que ele havia prometido pagar pelas
novas ações. Esta promessa, conhecida como uma opção de venda, requer que Eike
compre até 1 bilhão de dólares em ações da OGX a 6,30 reais por ação até 30 de
abril de 2014, caso o conselho OGX acredite que seja necessário.
Membros do conselho se demitem
A Fitch Rating Service quase que
imediatamente rebaixou a dívida da OGX para "CCC", o que significa
que há alto risco de default. A venda de ações abaixo do valor que ele prometeu
comprar elevou especulações de que Eike não tem dinheiro o suficiente honrar
sua promessa. "Os rebaixamentos de rating refletem uma maior incerteza
sobre a disposição e a capacidade do acionista controlador da OGX, Eike
Batista, de honrar a opção de venda da empresa de 1 bilhão de dólares",
escreveu a Fitch. Uma semana após o rebaixamento, três membros do conselho da
OGX, que decidiriam se a OSX precisa do dinheiro da opção de venda de Eike,
demitiram-se. O trio figura entre os mais respeitados líderes políticos,
financeiros e jurídicos do Brasil. Pedro Malan é um ex-ministro da Fazenda,
Rodolfo Tourinho já foi ministro de Minas e Energia, e Ellen Gracie é
ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
Visão sem execução
Holmes acredita que o problema de Eike é
principalmente de administração. Há uma década, erros semelhantes forçaram Eike
a vender a TVX Gold para a Kinross Gold Corp após projetos de ouro empolgantes
na Rússia e na Grécia acabarem sendo levados a um tribunal. "Eu realmente
respeito Eike como um empreendedor visionário, um pioneiro. Ele não é uma
fraude, ele não é um mentiroso", disse Holmes. "Onde há problemas é
na execução." Holmes, que nunca comprou ações do Grupo EBX pois as
considerava muito caras, disse que os preços já caíram tanto, que talvez seja
hora de observá-las novamente. De volta a Açu, os problemas de Eike continuam.
A OSX, empresa de construção naval, pode não ter conseguido realizar o
pagamento de 500 milhões de reais à espanhola Acciona, empreiteira no local,
informou o jornal Folha de S.Paulo. A OGX negou a matéria na segunda-feira. "Eu
não sei o que vai acontecer com Eike", disse o secretário estadual de
Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, Julio Bueno, cujo governo tem
ajudado Eike a desapropriar terras para o porto, em uma entrevista. "Nós
precisamos do porto e outros investidores querem construir portos nas
proximidades. O porto ainda será construído? Sim. É uma boa ideia? Sim. Será
Eike seu controlador? Isso eu não posso dizer."
Fonte: InfoMoney
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