Copom eleva taxa básica de juros para 8,5% ao ano


Numa decisão já esperada pela maioria do mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou ontem os juros básicos de 8% para 8,5% ao ano. Os diretores do Banco Central optaram unanimemente pelo aumento da Selic em 0,5 ponto percentual, apesar do baixo ritmo de crescimento do país, para evitar que a alta do dólar contamine as expectativas de inflação no ano que vem. Para manter a estratégia de aperto monetário, os integrantes da cúpula do BC tiveram de pesar prós e contras. De um lado, estavam dados que desencorajavam a terceira alta seguida dos juros ou, pelo menos, poderiam referendar um aumento mais modesto, como o fraco desempenho da produção industrial, a perda de fôlego da geração de emprego e, principalmente, a queda da inflação no curto prazo. Os índices têm surpreendido positivamente por causa do corte nas tarifas de transporte público. Os economistas do mercado já começam a refazer suas contas e preveem inflação de 5,81% neste ano. Mas os argumentos para o BC seguir a trilha dos juros altos eram mais fortes. A disparada do dólar, que subiu mais de 7% desde a última reunião do colegiado há 45 dias, pesou na avaliação. O repasse para os preços dos importados, que abocanham cada vez mais o mercado nacional, tem impacto na inflação do ano que vem. E a cada avanço da cotação da moeda americana, as previsões para a alta dos preços em 2014 pioram. Já estão em 5,9%. Temerosos pelo perigo de a inflação se espalhar de forma perigosa por toda a economia, os diretores do Copom decidiram manter o ritmo de alta dos juros. A medida também serviria de recado para os agentes econômicos de que o governo não deixará o controle dos preços desandar, um sinal importante no momento em que a inflação estourou o limite da meta. Hoje, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — usado oficialmente — está em 6,7% nos últimos 12 meses. O objetivo central estabelecido pela equipe econômica é de 4,5%, com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais. “O comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”, afirmou o Copom num comunicado idêntico ao divulgado após a reunião anterior. De acordo com economistas ouvidos pelo GLOBO, o Banco Central também levou em conta o patamar elevado de gastos do governo. Como o chamado “mix de política econômica” ainda continua expansionista, sobrou para o BC a responsabilidade de frear a atividade, conter a demanda e, consequentemente, o crescimento do país. — A gente está na contramão do mundo inteiro, que está com juros baixos por causa do mix de política econômica — criticou o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito. — Agora, o BC acabou de botar uma pá de cal no assunto crescimento — completou. De outro lado, Perfeito pondera que a elevação da taxa num cenário em que os países ricos começam a reverter medidas de estímulo, como a injeção de recursos nos mercados mundiais, pode facilitar a atração de recursos para o Brasil, o que contribui para a queda do dólar. Com o aumento dos juros, o Brasil subiu da quarta para a segunda colocação no ranking de países com os maiores juros reais, atrás apenas da China. Para Jason Vieira, economista responsável pela elaboração do ranking, o investidor estrangeiro deverá levar também outros fatores em conta. — Estamos passando por um período de desconfiança. Há riscos regulatórios, como as idas e vindas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a questão cambial, sem contar o cenário externo ainda turbulento — explicou.
Firjan e Fiesp criticam decisão
A elevação do juro não foi bem recebida por entidades industriais. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), cobrou “a adoção de uma política fiscal norteada pela redução dos gastos correntes e que efetivamente reduza a pressão exercida pelo consumo do governo sobre a inflação”. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) frisou que “não se pode negligenciar os efeitos negativos da elevação dos juros sobre a recuperação econômica. Já para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) o aumento levará “a uma nova revisão para baixo nas expectativas de crescimento do PIB em 2013, que pode ficar abaixo de 2%”. — Os governos precisam aumentar a eficiência da máquina, e serem capazes de fazer mais pelas pessoas — disse Paulo Skaf, presidente da Fiesp. A Força Sindical foi ainda mais dura e classificou a decisão do aumento de juro de “nefasta”. Em nota divulgada a imprensa, A Força lembra ainda que a classe trabalhadora estará hoje nas “ruas de centenas de cidades no País para cobrar mudanças na política econômica e a troca do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que é um verdadeiro ‘beija-mão’ do setor especulativo”. Para o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, o BC não tinha outro caminho a tomar e a ação deve ser entendida como a continuidade de um processo de normalização. — O custo de interromper esse processo seria mais alto do que o de dar-lhe sequência, mesmo com a desaceleração da inflação — disse ao GLOBO. Ele espera a manutenção dos preços neste mês e aposta que, em prol do crescimento, o BC não aumentará os juros além de 9,5% ao ano em 2013 e 2014. As expectativas para o crescimento do país continuam em queda. Na virada do ano, a aposta dos economistas era que o Brasil cresceria 3,3% em 2013. Agora, vislumbram algo em torno de 2,3%.


Fonte: O Globo


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