Selic deve subir para 9%.

Pressionado pelo dólar e pela inflação, Comitê de Política Monetária deve aumentar taxa básica em 0,5 ponto percentual na reunião de amanhã e de quarta-feira, segundo analistas consultados pelo Jornal do Commercio e pela agência Bloomberg.

Com uma parte do governo considerando a inflação a caminho de ser domada e outra parte vendo a queda de preços em julho como um ponto fora da curva, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reúne-se amanhã e na quarta-feira para definir a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, válida até outubro. A reunião se dá em um momento que tem complicadores, como a disparada do dólar e a necessidade do governo de fazer a economia ganhar dinamismo. Apesar de tantas variáveis, no mercado há quase unanimidade em torno de uma alta de 0,5 ponto percentual, levando a taxa para 9% ao ano. Analistas consultados pelo Jornal do Commercio e pela agência de notícias Bloomberg vão nesta direção. Em relação às perspectivas para o fim do ano, ainda não há uma tendência tão clara e os especialistas divergem sobre as próximas ações do Banco Central. As previsões vão desde o retorno das reduções da taxa, que na reunião de outubro poderia ser cortada em 0,25 ponto percentual, fechando o ano em 8,75%, até sucessivos aumentos nas reuniões de outubro e novembro, o que fará o juro abrir 2014 em 10% ao ano. Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o ciclo de alta da Selic está, contudo, próximo do fim. “O BC não quer surpreender  ninguém nesse momento e, por isso, deve acontecer uma nova alta de 0,5 ponto percentual”, afirma o especialista. “A Selic deve estabilizar em 9,25%, ou seja, depois dessa haverá ainda mais uma alta de 0,25 pontos percentual”, completa Perfeito. Ainda na avaliação do economista “só haverá estabilização do câmbio em meados de setembro, quando tivermos um panorama mais claro sobre as decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos)”. As especulações de que a instituição diminuirá o ritmo de seu programa de estímulo monetário, que injeta US$ 85 bilhões na economia mensalmente, tem elevado a cotação do dólar frente a moedas de todo o mundo. Flávio Serrano, economista sênior do Espirito Santo Investment Bank, aposta que a reunião desta semana deve ser a última deste ciclo de aumento na taxa básica de juros da economia brasileira. “O BC deverá repetir a dose e elevar a taxa Selic em 0,5 pontos percentual, para 9% ao ano”, afirma. Contudo, na visão do analista, logo na reunião seguinte, nos dias 8 e 9 de outubro, a tendência de alta se inverte. “Acreditamos que na próxima reunião o BC deverá reduzir a taxa em 0,25 ponto percentual.” Contudo, caso o dólar continue sua trajetória de valorização, o Copom poderá continuar reajustando positivamente a taxa. “A alta recente do dólar é uma variável bastante importante para a evolução futura da inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária”, explica Serrano. “O impacto da desvalorização (do real), o chamado pass-through, poderá adicionar cerca de 1 ponto percentual ao IPCA nos próximos 12 meses, se o câmbio se mantiver acima de R$ 2,40”, completa. O economista Antônio Madeira, da LCA Investimentos, também crê na continuidade de alta na taxa básica de juros. “A sinalização do BC na última reunião, em julho, e também as declarações de seus diretores desde então, são de que o ciclo de altas deve continuar com o reajuste de mais 0,5 ponto percentual, chegando a 9%”, afirma o consultor, que acredita que, até o fim do ano, não há espaço para interrupção no ciclo de altas. “Talvez nas próximas duas reuniões, em outubro e novembro, o Copom deve continuar até que chegue a 10% ao ano.” O dólar valorizado, segundo o especialista, é a principal causa do aumento da taxa básica de juros. “O Banco Central está preocupado com as consequências da alta do dólar na inflação e vai continuar agindo para conter esse aumento”, afirma o economista. “Nesse momento, a prioridade é controlar a inflação”, completa Madeira.
Longe da meta
Por considerar que os preços livres ainda estão muito longe da meta, a expectativa do diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello, é de que o Banco Central aumente a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, indo para 9%. O especialista prevê que ainda aconteça aumento de 0,25% na reunião de outubro e chegue ao final de 2013 na casa dos 9,25%, prosseguindo dessa forma em 2014. Curvello concorda com a elevação, mas acha que o ciclo poderia ser ainda maior. “Seria um risco, já que com a economia fraca e a confiança do consumidor desmoronando, um ciclo mais intenso poderia jogar a economia na recessão”, observa Curvello. “O governo deveria fazer a sua parte e fazer um superávit fiscal grande para ajudar o Banco Central a reverter as expectativas inflacionárias. Infelizmente, não vejo sintonia entre BC e Fazenda”, completa. O gestor de investimentos da Lecca, Georges Catalão, também espera elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, indo para 9%. Ele prevê ainda aumento de 0,5 ponto na reunião de outubro, levando a taxa a encerrar o ano em 9,5%, o que deve ser mantido em 2014. “O mercado está descrente na capacidade do BC em trazer a inflação de volta ao centro da meta”, afirma Catalão. “Com certeza, o BC não tem alternativa a não ser continuar elevando a Selic para tentar compensar o desequilíbrio fiscal e a desvalorização sistêmica do real”, considera. Como o BC vem aplicando um aperto monetário e tentando recuperar sua credibilidade, Catalão acredita que, caso a autoridade monetária esteja realmente preocupada com a inflação futura, deve subir a Selic em pelo menos mais 100 pontos-base. “Tendo em vista a deterioração das contas fiscais e o câmbio desvalorizado, não há muita alternativa a não ser continuar combatendo a inflação com mais juros”, observa o gestor de investimentos da Lecca. “Caso o contrário, o BC corre o risco de ver o IPCA acima do teto da meta à frente”, conclui. Na avaliação do analista fundamentalista da corretora WinTrade, Bruno Gonçalves, o ciclo de alta da taxa Selic, iniciado em abril deste ano, deve permanecer na próxima reunião do Copom. O analista acredita que o BC vai voltar a aumentá-la em 0,5 ponto percentual. “Seguindo as últimas declarações num tom mais hawkish (linha dura) do presidente Alexandre Tombini e do diretor Carlos Hamilton e com as preocupações acerca do pass trough (repasse) do câmbio para a inflação, a taxa deve subir 0,5 ponto percentual”, disse Gonçalves.


Fonte: JC


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