Autoridade decide realizar leilões diários a partir desta 6ª feira
no total de US$ 100 bi até o final do ano. Medida foi divulgada pelo BC Correio
após o fechamento do mercado.
Preocupado
com a disparada do dólar frente a o real e com o peso dessa alta sobre a
inflação, o Banco Central (BC) decidiu realizar a maior intervenção da
história. Anunciou, ontem, que desaguará no mercado mais US$ 60 bilhões até 31
de dezembro. Serão operações equivalentes a venda de dólares no mercado futuro
(swap cambial), além de vendas da divisa em espécie, mas com compromisso de
recompra. Até o fim do ano, somando o que a autoridade monetária já fez até
ontem, será uma intervenção, segundo o BC, de US$ 105 bilhões. A expectativa é
de que ação contenha a escalada do dólar e até mesmo que leve a cotação para um
nível abaixo de R$ 2,45. A medida foi bem recebida pelo mercado. “Essa é uma
forte mudança na estratégia do governo e, na nossa opinião, a forma correta
para conter a queda do real frente ao dólar”, ponderou Aloísio Teles, diretor
da Nomura Securities. “Eles aumentarão a previsibilidade, o que pode ser o caminho
mais eficiente para tirar alguma coisa do excesso de volatilidade do sistema”,
ponderou. Para o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do
Bradesco, Octavio de Barros, o BC está no caminho certo. “A medida é uma
maneira de tentar ajustar a taxa de cambio para o efetivo fundamento da
economia doméstica e global. Isso é fundamental para descartar a aceleração dos
juros”, avaliou. “Esse tipo de medida praticamente descarta, na minha visão, a
possibilidade de aceleração do ritmo de aumento de juros. Ou seja, o BC vai
continuar com mais duas rodadas de alta de 0,5 ponto percentual na Selic até o
fim do ano”, previu. Ítalo Abucater, gerente da mesa de dólar da Icap Brasil, avalia
que em um primeiro momento pode ser que a medida derrube a cotação da divisa
americana, mas ponderou que a longo prazo apenas conterá o movimento de alta.
“Isso mostra o comprometimento do governo, mas não vai fazer preço de queda. Óbvio
que em um primeiro momento vamos ter uma virada pra baixo, o mercado realizará lucro,
mas não acredito no dólar muito abaixo de R$ 2,40”, calculou. “Essa medida
também reduz pressão sobre a próxima reunião do Copom (Comitê de Política
Monetária). Pode ser que o BC adie um aperto mais forte nos juros para o
encontro seguinte”, completou. Analistas ponderam ainda que com a medida o BC
mantém intocadas as reservas internacionais, que hoje somam US$ 373,5 bilhões.
Caso haja mais pressão de alta na divisa dos EUA, sobretudo se o Federal
Reserve (Fed, o BC americano) diminuir os estímulos monetários mensais de US$
85 bilhões, o BC brasileiro ainda teria estoque suficiente para conter uma
supervalorização. O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, também
vê a medida como correta e considera que o BC está no caminho certo. “Ela ajuda
a evitar criar um pânico no mercado. E isso estava gerando problema na
inflação. O governo está comprado em dólar. Não tem problema com o câmbio, mas
o que quer é evitar que nesse processo forte de especulação as empresas
altamente endividadas em moeda estrangeira tenham problemas”, destacou. “O cambio
nesse patamar atrapalha muita gente. O passivo privado saiu de US$ 100 bilhões
em 2008 para US$ 180 bilhões, antes de o dólar ter disparado recentemente. Tem
muita gente exposta”, acrescentou. Na avaliação de Perfeito, da Gradual, essa
medida também vai trazer mais tranquilidade para a reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom), na semana que vem, evitando uma alta mais forte nos
juros. Os mais pessimistas apostam em uma Selic acima de 10% até o fim do ano. Mas
como a economia brasileira está enfraquecida e a população endividada, uma
elevação muito forte dos juros muito prejudicaria ainda mais a atividade
econômica, contribuindo para o país rumar mais rápido para uma recessão. “O BC
quer evitar isso e isso e está fazendo tudo o que ele tem a seu alcance já que
não teve notícias fiscais boas por parte do governo”, explicou.
Fonte: JC
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