Estudo publicado pelo Ibre/FGV aponta o explosivo endividamento
brasileiro, que chegou a R$ 2,744 trilhões em julho, como a explicação para os
60% de valorização da moeda norte-americana frente ao real no período de 3 de
maio a 22 de agosto.
Quando,
há quatro anos, a dívida bruta do setor público ultrapassou pela primeira vez a
casa dos R$ 2 trilhões, naquele momento, mesmo sem se dar conta, o governo
armou uma bomba-relógio que viria a explodir neste ano, e cujo principal
estrago é a disparada do dólar frente ao real. Esse é a constatação de estudo
publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio
Vargas (FGV), que aponta o explosivo endividamento bruto brasileiro como a
explicação para os 60% da valorização da moeda norte americana frente ao real
de 3 de maio a 22 de agosto. Nesse período, a divisa brasileira perdeu 18,7% do
seu valor ante o dólar, movimento que foi acompanhado de perto por outros
países cujo endividamento bruto também vem aumentando nos últimos anos. “Moedas
de emergentes importantes como África do Sul, Indonésia e México
desvalorizaram-se em, respectivamente, 15,4%, 14,9% e 10,8% naquele período”,
afirma o Ibre. Coincidência ou não, quatro desses cinco países integram hoje o
chamado grupo “Fragile Five”, formado por Brasil, Índia, Indonésia, África do
Sul e Turquia. As nações estão no centro da desconfiança mundial, entre outros
motivos, por terem aumentando seu endividamento bruto de forma descontrolada, situação
que pode ser constatada a partir de levantamento feito pela Consultoria
Tendências elaborado a partir de dados extraídos do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Os cinco países aparecem com destaque no ranking de emergentes
com maior passivo do Estado. Nesse levantamento, o Brasil é o líder entre os
países citados, com uma dívida de 68,5% do Produto Interno Bruto (PIB), pelas
contas do FMI de dezembro de 2012. O governo brasileiro questiona esses números
por entender que o cálculo do organismo internacional, que contabiliza como
dívida a carteira de títulos públicos sob poder do Banco Central, está errado.
A medição proposta pelas autoridades brasileiras aponta que essa relação foi,
em dezembro de 2012, de 58,7% do PIB. Mesmo nessa comparação, diz o
especialista em finanças públicas Felipe Salto, economista da Tendências, a
piora dos indicadores fiscais brasileiros é flagrante. “A dívida bruta aumentou
seis pontos percentuais desde o início do governo Dilma. Isso aconteceu por um
único motivo: na dívida bruta, diferentemente do superávit primário (economia
para o pagamento de juros da dívida pública) e da dívida líquida, indicadores
facilmente manipulados pela contabilidade criativa, é impossível esconder essa
alta”, ponderou. De fato, nos últimos anos, a dívida líquida do País vem
caindo. De dezembro de 2010 e julho de 2013, esse indicador caiu 5,07 pontos,
de 39,15% do PIB para 34,08%. Isso acontece meramente por efeito estatístico.
Como boa parte da dívida que o governo emite é usada para injetar dinheiro nos
bancos públicos, isso acaba provocando efeito nulo na dívida líquida, já que o
crédito anula o débito. Já a dívida bruta, que considera apenas os passivos dos
entes públicos, entre os quais a União, estados, municípios, Distrito Federal e
empresas estatais exceto Petrobras e Eletrobras, vem aumentando ano a ano,
levando muitos investidores a questionarem se esse movimento é sustentável. Em
pouco mais de dois anos e meio, durante o governo Dilma Rousseff, a dívida
bruta do setor público engordou R$ 733 bilhões, chegando ao patamar histórico
de R$ 2,744 trilhões, em julho. Como consequência, o gasto com juros pagos pelo
governo a quem detém esses papéis não para de subir. Até julho, essa conta
estava em R$ 226,887 bilhões, no acumulado em 12 meses. Apenas em julho a
despesa com juros chegou ao patamar recorde de R$ 23,393 bilhões, segundo números
do BC. Como o setor público não consegue pagar todos os compromissos que
assume, ele encerra, todos os meses, as contas no vermelho, tendo que recorrer ao
cheque especial (novas emissões de dívida). Nos últimos 12 meses, até julho,
essa conta ficou deficitária em R$ 138,72 bilhões, ou 3% de tudo o que o Brasil
acumulou em riqueza no mesmo período.
Fonte: JC
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