Gasto impede Petrobras de assumir 100% de Libra.

Defasagem do preço de combustíveis esvazia o caixa e deixa a estatal sem condições financeiras de explorar sozinha a maior jazida de petróleo já descoberta no País.

A pouco mais de um mês do leilão do campo gigante de Libra, na Bacia de Campos (RJ), a presidente da Petrobras, Graça Foster, lamentou, ontem, o fato de a estatal não ter capacidade financeira para assumir 100% da exploração da jazida. “Temos todas as condições técnicas e operacionais para isso, até porque descobrimos, desenvolvemos e conhecemos a fundo toda aquela área, mas a empreitada se tornou economicamente impossível nas atuais condições de caixa da companhia”, disse ela, ao responder questões de parlamentares, durante audiência no Senado. “Não suportaríamos pagar um bônus de assinatura de R$ 15 bilhões”, resumiu, referindo-se à exigência contida no edital da licitação, que vai marcar a estreia do modelo de partilha na exploração do pré-sal. No entanto, como a lei exige que a estatal tenha participação de pelo menos 30% no consórcio vencedor, ela terá que desembolsar, no mínimo, R$ 4,5 bilhões. Graça não quis revelar qual a fatia do empreendimento que a empresa planeja assumir. Uma das principais razões para o governo leiloar a maior reserva de petróleo e gás do País e deixar a Petrobras como parceira de outros grupos está nas perdas patrimoniais e financeiras da companhia. Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a estatal acumulou prejuízo de quase R$ 30 bilhões desde setembro de 2010, quando recebeu recursos gigantescos, que acabaram engolidos, porém, pela perda de valor das ações nas bolsas e a sangria da defasagem nos preços dos combustíveis em relação às cotações internacionais. Na época, a Petrobras emitiu ações que lhe renderam R$ 120,25 bilhões, na maior capitalização empresarial da história. Tendo em vista que R$ 75 bilhões foram gastos na compra do direito de exploração no pré sal, a operação rendeu, em caixa, apenas R$ 45,5 bilhões, já totalmente comprometidos. Graça Foster voltou a afirmar que “não há qualquer decisão” sobre reajuste de preço da gasolina. O diesel foi reajustado duas vezes este ano – com altas de 6,6% em janeiro e 5% em março – , enquanto a gasolina subiu 5,4% em janeiro. As correções foram insuficientes para compensar a disparada recente da moeda norte-americana. “Acompanho permanentemente painéis que mudam três vezes ao dia com cotações do dólar e do petróleo”, disse ela.
Colosso
A executiva surpreendeu os presentes à sessão ao revelar o “sentimento verdadeiro e legítimo” de todos os funcionários da empresa de aspirar a produção total de um campo “caro para a Petrobras”, respondendo a questão formulada pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) sobre a conveniência de adiar o leilão, marcado para 21 de outubro, de modo a dar tempo à estatal para se capitalizar e bancar sozinha a operação de Libra.  Graça disse que acompanhou de perto as avaliações e o anúncio da descoberta de Libra, em 2008, quando era secretária de Petróleo do Ministério de Minas e Energia, e acabou compartilhando a opinião de líderes sindicais que defendem exclusividade da companhia na exploração da área. “Libra é um colosso, e não pode ser tratada como outros campos. Mas sigo a lei da partilha, na qual somos apenas uma das empresas envolvidas”, resignou-se. Apesar disso, ela considerou o regime como o mais adequado para uma jazida petrolífera que deve render R$ 900 bilhões ao longo de 30 anos ao País, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Para Graça, não há razões para mudar a data da licitação. “Quem define é o governo e o desafio de realizar o leilão é dele. Não temos mais o monopólio”, sublinhou.



Fonte:JC

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