Há
muito tempo não se vê a Esplanada dos Ministérios tão infeliz. E a razão para
isso: a infelicidade irradiada pela presidente Dilma Rousseff. São raras as
pessoas que trabalham diretamente com ela, que dependem da liderança presidencial
para estimular sua equipes, que conseguem traçar qualquer sinal de amabilidade
por parte da chefe. Na verdade, os subalternos de Dilma, em vez de admiração, têm
medo da arrogância e do destempero que se tornaram marcas da primeira mulher a
assumir o comando do Executivo brasileiro. Talvez isso explique, em parte, a
paralisia do governo. Por mais que seja evidente que os caminhos determinados por
Dilma sejam equivocados, ninguém da equipe dela tem coragem de se contrapor,
mesmo que os argumentos sejam fortes, mesmo que os resultados ruins sejam explícitos.
E isso só aumenta a infelicidade da presidente. Como ela não consegue entregar
nada do que promete, não imprime uma marca a seu governo e é obrigada a recuar
em quase todas as medidas que anuncia, por serem equivocadas, acaba tomada pela
frustração. Na avaliação da psicóloga Tânia Pappas, quando a pessoa que deveria
liderar não tem o conhecimento necessário para a função e, pior, não tem humildade
para assumir as limitações ao lidar com os comandados, o resultado só pode ser
a decepção administrativa. A tendência, nesses casos, é de quem está no comando
se cercar de pessoas também com pouco conhecimento, para não ser confrontado. É
a forma de manter o poder apenas pelo uso da força. "Isso é o que chamamos
de ciclo vicioso. A pessoa não sabe delegar e não sabe fazer", diz. Não à
toa, a sensação que se tem hoje no primeiro escalão do governo é a da
insegurança. Projetos importantes são engavetados. Só o que Dilma manda é posto
em prática, independentemente das ressalvas. Temas que deveriam ser compartilhados
para o bom andamento da administração ficam restritos aos eleitos pela
presidente, que já deu mostras seguidas de que poucos merecem a sua confiança. Em
meio a esse contexto, criam-se duas realidades: a do governo e a do mundo real,
que não conversam entre si. "Ao
transitar entre esse esses dois mundos, a presidente se desgasta, chega à
exaustão. Mas nada dá certo. Assim, não há como ser feliz", afirma Tânia.
Por isso, é tão difícil ver a presidente esboçar um sorriso natural em público.
Na maioria das vezes, a impressão é de que ela está mal-humorada. Nem mesmo
quando tenta ser simpática, por interesses eleitoreiros, convence.
Decepção
Diante
da relação tão conflituosa de Dilma com a presidência da República, muitos se
perguntam o porquê de ela insistir na reeleição em 2014. Do ponto de vista
psicológico, explica Tânia, esse desejo expressa a eterna busca pela
felicidade. "Como ainda não conseguiu atingir seus objetivos, a presidente
acredita que, em mais um mandato, fará tudo o que deseja, entregará tudo o que
prometeu", assinala a psicóloga. De nada adiantará, porém, Dilma ficar
mais quatro anos no Palácio do Planalto se continuar governando apenas para
ela, lidando com seus subordinados como se eles fossem um bando de
incompetentes, insistindo em não delegar tarefas e, pior, disseminando a visão
de que não confia em ninguém. Certamente, ao longo do tempo, a infelicidade
dela só aumentará. E a decepção do eleitorado, também.
Tensão menor
Como
ninguém do governo espera uma mudança radical no tratamento dispensado por
Dilma, a torcida entre os que transitam em torno dela é de que, ao menos,
diminua a tensão depois do resultado do leilão de hoje do Campo de Libra. Nos
últimos dias, nada mexeu mais com os nervos da presidente do que a privatização
da área mais valiosa do pré-sal. Dilma não admite fracasso. Quer provar que o
modelo de partilha escolhido pelo governo é o melhor para o país. Para os
especialistas, o resultado do leilão está praticamente dado: o vencedor será o
consórcio liderado pela Petrobras em parceria com as estatais chinesas. Assim,
o Planalto poderá rebate as críticas e alardear que a riqueza do pré-sal
continua nas mãos do país, melhor, estatizada.
Desconfiança
Com
o pré-sal resolvido, a ordem do Planalto será bombar a economia em 2014. Não
passa pela cabeça de Dilma fechar seu primeiro mandato com média de crescimento
menor do que o de Fernando Henrique Cardoso, de 2,3%. A determinação é tamanha
para se obter um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) de 4%, que 2013 praticamente
foi apagado do calendário da presidente. Ninguém no governo acredita que o
resultado do PIB deste ano será superior a 2,5%. Portanto, quando o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, diz que o ajuste fiscal não é pautado pelo calendário
político, deve-se fazer a leitura contrária. Ou ainda há quem acredita no que
diz o chefe da equipe econômica do governo?
Fonte: JC
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